domingo, 8 de setembro de 2019

Solidões Compartilhadas de Poesia sem Palavras: Tatiane Jesus dos Santos e Leticia Siqueira da Silva mostram que toda arte, amor e tolerância valem a pena


A notícia, com a qual inicio a introdução das Solidões Compartilhadas de hoje, vocês já conhecem: neste tenebroso início de setembro (e depois é o coitado do agosto que é considerado o mês do desgosto): numa operação inédita na história da Bienal do Livro do Rio de Janeiro, um grupo de fiscais da Secretaria Municipal de Ordem Pública percorreu, no início da tarde desta sexta, os estandes do evento para recolher livros com temas ligados à homossexualidade. O fato se deu por determinação do prefeito Marcelo Crivella, que havia visitado o evento um dia antes e se escandalizou com o romance gráfico da Marvel “Vingadores: A cruzada das crianças”, da conhecida Coleção Salvat Capa Preta. A obra traz dois personagens gays, Wiccano e Hulkling, que se beijam em uma das páginas. O prefeito, evangélico conservador, considerou a cena inapropriada e determinou que a obra fosse retirada das prateleiras, mas a organização recusou —e, mais tarde, a Justiça proibiu. Os livros, no entanto, desapareceram em poucas horas. Assim que a polêmica ganhou as redes, todos os exemplares que estavam disponíveis foram comprados. "Livros assim precisam estar embalados em plástico preto lacrado e do lado de fora avisando o conteúdo", afirmou Crivella, em um vídeo publicado em seu Twitter. O prefeito argumentou a necessidade de "proteger as crianças" para que elas não tenham "acesso precoce a assuntos que não estão de acordo com suas idades". As declarações do político, somadas à atuação dos fiscais, geraram um levante em massa de livreiros e editoras, que consideraram o ato uma grave ameaça para a liberdade de expressão. Este é mais um capítulo vergonhoso da nova velha e retrógrada maneira de  se ‘fazer política’ atual: agradar sua minoria extremista (nesse caso, evangélica e de direita, mas a prática estúpida do disfarce da incompetência administrativa por meio de atitudes polêmicas insossas e escandalizadoras tem sido uma constante tanto da maioria da direita quanto da esquerda). Agora o que eu, como conhecedor, leitor e pesquisador de quadrinhos, sabe e talvez vocês não saibam, amigos leitores: pra demonstrar o quanto a prática do político (chamá-lo de prefeito novamente, diante de tanta incompetência administrativa – o Rio está um caos e sua ‘atuação’ à frente do desgoverno é, isso sim, censurável de tão escandalizante) Crivella é oportunista [mal realizada, como todo seu desgoverno], retrógada, atrasada, a revista ‘censurada’ pela Vossa Estúpida Excelência foi lançada  em Julho de 2016 – ele tentou censurar uma obra que circula há 3 anos em todas as bancas e sites de quadrinhos, ou seja, ele está mais atrasado e apalermado do que pensa. Outro detalhe: a obra que o escandalizou pertence à Coleção Salvat Capa Preta que comumente republica material já publicado no Brasil: a mesma história já havia sido publicada nas revistas X-men e Os Vingadores Especial, da Editora Panini, em 2012, e o original americano é de 2010 – ou seja, Crivella não prestou nem para mostrar um conservadorismo viril, foi insosso, pois condenou uma obra amplamente divulgada há 7 anos no Brasil e 9 nos EUA. Como declarou Flávio Moura,  editor da Todavia, em declaração ao El País: "Não há eufemismo para o que aconteceu. É uma tentativa horrorosa de censura”. E acrescento: além de horrorosa, é mais uma trapalhada conservadora de Crivella. Nem pra ser um censor competente ele serve.
Bem, mas o que isso tem a ver com a postagem de hoje? Primeiramente, para lembrar que homofobia ainda é crime e relembrar que os tais kits gays – que cada político incompetente apresenta um pra chamar de seu – permanecem como obras de ficção – quase uma obra de fantasia obscura de porões da mais tenebrosa fase da Idade Média -, ‘segundamente’, porque eu não ia perder a oportunidade de zoar que o Crivellla nem pra censor retrógrado conservador competente serve, ‘terceiramente’, para demonstrar minha preocupação com tal conservadorismo sem noção que só serve como manutenção do retrocesso injustificado e como distração para evitar discussão, debate e busca de resolução para problemas reais e imediatos, e ‘quartamente’, mas também principalmente, porque isso me lembrou de que eu ainda não fizera uma solidão compartilhada há tempos guardada nos meus arquivos, fruto de boas lembranças de maravilhosas artes de duas grandes artistamigas, que, na época, eram artistalunas da Escola Municipal Alcino Francisco da Silva, da região rural de Teresópolis/RJ. Estou falando das formidáveis, mais que fodásticas desenhistas, artistas da poesia sem palavra, da poesia da imagem sublime, Tatiane de Jesus Santos e Leticia Siqueira da Silva.
No sábado, dia 07/10/2017, a convite de Fernanda Monteiro e demais amigos do Grupo Diversidade, tive a honra de participar e curtir a II Feira da Diversidade, no Clube dos Democráticos, em Valença/RJ. Uma semana antes, idealizei fazer cartazes com o tema “Todo amor vale a pena”, demonstrando a diversidade de relações amorosas entre nós, seres humanos. Mas, para isso, precisava de jovens e talentosos desenhistas e, por isso, convidei as duas artistamigas citadas (na época, artistalunas do 9.º Ano) para fazerem arte com o tema - lembrando que o convite foi feito fora do horário de aula, em cima da hora, com a possibilidade de recusa [em nenhum momento foi imposto; só sugerido, como diz aquela canção de Lulu Santos, sem a “menor obrigação de acontecer”], com liberdade de expressão artística (sem imagens pré-concebidas), não valia ponto, remuneração ou algo do tipo, tudo por amor à arte, e as duas deram conta do recado, foram sublimes. A Exposição de cartazes com os desenhos delas foi realizada e elogiada na II Feira da Diversidade, no Clube dos Democráticos, em Valença/RJ, no dia 07/10/2017.
Diante do capítulo envolvendo o político Crivella e os quadrinhos de diversidade super-heróica da Marvel, me dei conta de que ainda não havia postado (ai, ai, tô atrasado nas publicações do blog, como o Crivella nas suas ‘censuras’ e ‘preocupações’ – aff, nunca pensei que um dia ia me comparar a este bestificado político do Rio) os desenhos da Exposição  “Todo amor vale a pena” sublimemente criados pelas maravilhosas artistamigas teresopolitanas Tatiane de Jesus Santos e Leticia Siqueira da Silva.
Encantem seus olhos com a sublime arte destas duas mais que fodásticas artistamigas, amigos leitores. Toda arte, amor e tolerância valem a pena.


"Toda forma de amor vale a pena", 
por Tatiane Jesus Santos





"Toda forma de amor vale a pena", 
por Leticia Siqueira da Silva









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