A notícia, com a qual inicio a introdução das Solidões
Compartilhadas de hoje, vocês já
conhecem: neste tenebroso início de setembro (e depois é o coitado do agosto
que é considerado o mês do desgosto): numa operação inédita na história da Bienal
do Livro do Rio de Janeiro, um grupo de fiscais da Secretaria Municipal de
Ordem Pública percorreu, no início da tarde desta sexta, os estandes do evento
para recolher livros com temas ligados à homossexualidade. O fato se deu por
determinação do prefeito Marcelo Crivella, que havia visitado o evento um dia
antes e se escandalizou com o romance gráfico da Marvel “Vingadores: A cruzada
das crianças”, da conhecida Coleção Salvat Capa Preta. A obra traz dois
personagens gays, Wiccano e Hulkling, que se beijam em uma das páginas. O prefeito, evangélico conservador, considerou a
cena inapropriada e determinou que a obra fosse retirada das prateleiras, mas a
organização recusou —e, mais tarde, a Justiça proibiu. Os livros, no entanto,
desapareceram em poucas horas. Assim que a polêmica ganhou as redes, todos os
exemplares que estavam disponíveis foram comprados. "Livros assim precisam
estar embalados em plástico preto lacrado e do lado de fora avisando o
conteúdo", afirmou Crivella, em um vídeo publicado em seu Twitter. O
prefeito argumentou a necessidade de "proteger as crianças" para que
elas não tenham "acesso precoce a assuntos que não estão de acordo com
suas idades". As declarações do político, somadas à atuação dos fiscais,
geraram um levante em massa de livreiros e editoras, que consideraram o ato uma
grave ameaça para a liberdade de expressão. Este é mais um capítulo vergonhoso
da nova velha e retrógrada maneira de se
‘fazer política’ atual: agradar sua minoria extremista (nesse caso, evangélica
e de direita, mas a prática estúpida do disfarce da incompetência
administrativa por meio de atitudes polêmicas insossas e escandalizadoras tem
sido uma constante tanto da maioria da direita quanto da esquerda). Agora o que
eu, como conhecedor, leitor e pesquisador de quadrinhos, sabe e talvez vocês
não saibam, amigos leitores: pra demonstrar o quanto a prática do político (chamá-lo
de prefeito novamente, diante de tanta incompetência administrativa – o Rio
está um caos e sua ‘atuação’ à frente do desgoverno é, isso sim, censurável de
tão escandalizante) Crivella é oportunista [mal realizada, como todo seu
desgoverno], retrógada, atrasada, a revista ‘censurada’ pela Vossa Estúpida Excelência
foi lançada em Julho de 2016 – ele tentou
censurar uma obra que circula há 3 anos em todas as bancas e sites de
quadrinhos, ou seja, ele está mais atrasado e apalermado do que pensa. Outro
detalhe: a obra que o escandalizou pertence à Coleção Salvat Capa Preta que
comumente republica material já publicado no Brasil: a mesma história já havia
sido publicada nas revistas X-men e Os Vingadores Especial, da Editora Panini,
em 2012, e o original americano é de 2010 – ou seja, Crivella não prestou nem
para mostrar um conservadorismo viril, foi insosso, pois condenou uma obra
amplamente divulgada há 7 anos no Brasil e 9 nos EUA. Como declarou Flávio
Moura, editor da Todavia, em declaração
ao El País: "Não há eufemismo para o que aconteceu. É uma tentativa
horrorosa de censura”. E acrescento: além de horrorosa, é mais uma trapalhada
conservadora de Crivella. Nem pra ser um censor competente ele serve.
Bem, mas o que isso tem a ver com a postagem de hoje?
Primeiramente, para lembrar que homofobia ainda é crime e relembrar que os tais
kits gays – que cada político incompetente apresenta um pra chamar de seu – permanecem
como obras de ficção – quase uma obra de fantasia obscura de porões da mais
tenebrosa fase da Idade Média -, ‘segundamente’, porque eu não ia perder a
oportunidade de zoar que o Crivellla nem pra censor retrógrado conservador
competente serve, ‘terceiramente’, para demonstrar minha preocupação com tal
conservadorismo sem noção que só serve como manutenção do retrocesso
injustificado e como distração para evitar discussão, debate e busca de
resolução para problemas reais e imediatos, e ‘quartamente’, mas também
principalmente, porque isso me lembrou de que eu ainda não fizera uma solidão
compartilhada há tempos guardada nos meus arquivos, fruto de boas lembranças de
maravilhosas artes de duas grandes artistamigas, que, na época, eram
artistalunas da Escola Municipal Alcino Francisco da Silva, da região rural de
Teresópolis/RJ. Estou falando das formidáveis, mais que fodásticas desenhistas,
artistas da poesia sem palavra, da poesia da imagem sublime, Tatiane de Jesus
Santos e Leticia Siqueira da Silva.
No sábado, dia 07/10/2017, a convite de Fernanda Monteiro e
demais amigos do Grupo Diversidade, tive a honra de participar e curtir a II
Feira da Diversidade, no Clube dos Democráticos, em Valença/RJ. Uma semana
antes, idealizei fazer cartazes com o tema “Todo amor vale a pena”,
demonstrando a diversidade de relações amorosas entre nós, seres humanos. Mas,
para isso, precisava de jovens e talentosos desenhistas e, por isso, convidei
as duas artistamigas citadas (na época, artistalunas do 9.º Ano) para fazerem
arte com o tema - lembrando que o convite foi feito fora do horário de aula, em
cima da hora, com a possibilidade de recusa [em nenhum momento foi imposto; só
sugerido, como diz aquela canção de Lulu Santos, sem a “menor obrigação de
acontecer”], com liberdade de expressão artística (sem imagens pré-concebidas), não
valia ponto, remuneração ou algo do tipo, tudo por amor à arte, e as duas deram
conta do recado, foram sublimes. A Exposição de cartazes com os desenhos delas
foi realizada e elogiada na II Feira da Diversidade, no Clube dos Democráticos,
em Valença/RJ, no dia 07/10/2017.
Diante do capítulo envolvendo o político Crivella e os
quadrinhos de diversidade super-heróica da Marvel, me dei conta de que ainda
não havia postado (ai, ai, tô atrasado nas publicações do blog, como o Crivella
nas suas ‘censuras’ e ‘preocupações’ – aff, nunca pensei que um dia ia me
comparar a este bestificado político do Rio) os desenhos da Exposição “Todo amor vale a pena” sublimemente criados
pelas maravilhosas artistamigas teresopolitanas Tatiane de Jesus Santos e Leticia
Siqueira da Silva.
Encantem seus olhos com a sublime arte destas duas mais que
fodásticas artistamigas, amigos leitores. Toda arte, amor e tolerância valem a
pena.
"Toda forma de amor vale a pena",
por Tatiane Jesus Santos
por Tatiane Jesus Santos
"Toda forma de amor vale a pena",
por Leticia Siqueira da Silva
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