Olá, caros leitores, bem vindos ao blog daqueles que guardam um sorriso solitário no canto dos lábios que versam sonhos coletivos. Bem vindos ao meu universo virtual poético, bem vindos ao mundo confuso e fictício ferido de imortal realidade. Bem vindos ao inóspito ambiente dos eus líricos em busca de identidade na multidão indiferente, bem vindos ao admirável verso novo.
3 dias antes da Primavera, a
noite ficou mais escura: na noite de 20 de setembro, a menina Ágatha, de 8
anos, foi mais uma vítima da prática irracional do que se convencionou chamar
de combate à violência no Estado do Rio de Janeiro. Baleada nas costas, dentro
de uma Kombi, quando voltava para casa, na comunidade da Fazendinha, no
Complexo do Alemão, mais uma vítima de bala perdida, que sempre encontra um
corpo inocente pra fatalmente se instalar, mais uma vítima de uma guerra da
qual ela jamais foi informada de que iria participar. Muitos policiais morrem, alguns
bandidos morrem, e muitos inocentes também, inocentes demais, Ágathas demais, pobres
e negros demais, num confronto armado por um governo estadual que prima pelo
belicoso e sanguinário, mas esquece do estratégico, do racional, do
humanitário.
3 dias depois chegou a Primavera
e os jardins produzem belas flores para tétricos funerais, recompõem o estoque
gasto no luto apressado, nas famílias despedaçadas, nos cemitérios cheios de escombros
de tragédias que poderiam ser evitadas, flores fúnebres carregadas por corações
feridos, enlutados e revoltados com as vidas abreviadas por excessiva violência
injustificável.
E há tempos não se via um início
de Primavera tão mórbido, tão frio, tão desesperador, com tanto desalento,
tanta chuva invernal, tanto temor. Precisamos falar sobre esse inverno em plena
primavera, neste frio em nossa alma, nesta violência desordenada, nesta
Primavera que, ainda enlutada, floresce-nos flores congeladas, um aviso de que
precisamos falar sobre Ágatha, não podemos esquecer Ágatha, antes que as flores
fiquem escassas diante de tanto enterro fora de hora.
Mais uma noite de Primavera e,
durante todo o período, só floresceram lágrimas...
Segundo muitos, diante da
insensibilidade arrogante e psicopata do Estado, ainda mais lágrimas
florescerão... Até quando?
Hoje compartilho com os amigos
leitores um poema lamentação do grande poetamigo Rafael Clodomiro, hoje
compartilho a consternação lírica dele, a nossa consternação...
Recebi com felicidade a notícia de que, capitaneados pelo
Professor de Educação Física, Treinador, Enxadrista, Maratoneiro, Mestre
Poetatleta Genaldo da Silva Lial, vários jogadores artistalunos da Escola
Municipal Alcino Francisco da Silva representarão esta unidade escolar na qual
leciono no Torneio de Xadrez que acontecerá amanhã, de manhã e de tarde,
durante o tradicional evento (que ressurge após um breve hiato de alguns anos)
dos Jogos Estudantis de Teresópolis/RJ. Tal notícia me fez lembrar que ainda
não compartilhei com os amigos leitores do blog o texto do esquete teatral
escrito por mim, neste ano de 2019, para o tradicional e popular Torneio Xeque
Mate, que ocorre há 9 anos na escola (sendo que o nosso grupo teatral escolar,
chamado Luz, Câmera...Alcino!, tem a honra de apresentar um esquete de abertura
– sempre inédito e envolvendo de forma direta ou indireta a literatura, os
quadrinhos, a cultura pop, a sátira a assuntos contemporâneos e o xadrez - há 5 edições do maravilhoso evento esportivo),
nem o vídeo com a encenação e sua ficha técnica, nem o vídeo documentário
produzido após a apresentação.
Ciente desta ausência, preenchemos as lacunas e trago aos
amigos leitores o esquete "Luz, Câmera...Alcino! no Reino do Rei Iadava Zahyr
Bozocrácio Primeiro com o Homem que Sabiamente Calculava", obra satírica
escrita por mim e livremente inspirada no conto do xadrez do livro "O
Homem que Calculava", de Malba Tahan, + poema de Gregório de Matos + poema
de Genaldo Lial, o vídeo com as duas apresentações do Luz, Câmera...Alcino!
2019 e o divertido documentário gravado após a apresentação pelos próprios
artistalunos envolvidos no esquete.
Espero que os amigos leitores do blog curtam o esquete em
seus vários formatos e se divirtam e se encantem como nós com a magia da arte e
do xadrez (e lembrem-se de torcer pelos nossos queridos enxadristas
artistalunos amanhã de manhã e de tarde na disputa esportiva interescolar de
xadrez).
Boa Diversão! Alcino, Educação, Esporte e Arte Sempre!
Esquete “Luz,
Câmera... Alcino! no Reino do Rei Iadava Zahyr Bozocrácio Primeiro com o Homem
Enxadrista que Sabiamente Calculava”, o texto
Personagens:
BEREMIZ
MALBA
TAHAN_
JÚLIO
CÉSAR DE MELLO E SOUZA
DIRETOR
CONTRARREGRA
NARRADOR/SANDMAN
SERVA
DE VÉU 1
SERVA
DE VÉU 2
REI
IADAVA ZAHYR BOZOCRÁCIO PRIMEIRO
SÚDITO
QUARTZO LORENZETTI
DIPLOMATA
PEDRERNESTO
PROFESSOR
DA ALEGRIA
CHEFE DA GUARDA
GUARDA
1
GUARDA
2
POETA DICIONÁRIO VIVO
LAHUR
SESSA
CORINGA
ARLEQUINA
CONTADOR
GUEDIM
No palco, mais para
trás, estarão as duas Servas de Véu segurando um lençol/pano ocultando parte do
cenário (que será onde acontecerá os eventos principais – atrás do lençol/pano
estará o Rei Iadava Zahyr Bozocrácio Primeiro em trono e uma mesa). Mais ao
lado, NARRADOR/SANDMAN dorme. Os primeiros personagens se apresentarão à frente
desta imagem.
BEREMIZ
(orgulhoso): Bom dia, senhoras e senhores, sou Beremiz, um grande calculista persa,
e a peça a qual vocês assistirão hoje é inspirada em um conto, uma história
curta e inventada, que eu contei ao grande califa Al-Motacém.
Entra Malba Tahan
MALBA
TAHAN (empurrando Beremiz): Mentira! Senhoras e senhores, sou Malba
Tahan, o famoso escritor árabe, e a peça a qual vocês assistirão hoje é
inspirada em um conto escrito por mim. Beremiz é apenas um personagem que eu
criei para meu livro “O Homem que calculava”.
Entra Júlio César de
Mello e Souza
JÚLIO
CÉSAR DE MELLO E SOUZA (empurrando Malba
Tahan):Mentira! Senhoras e
senhores, sou Júlio César de Mello e Souza, famoso matemático e escritor
brasileiro, e a peça a qual vocês assistirão hoje é inspirada em um conto
escrito por mim. Malba Tahan é apenas um heterônimo meu, isto é, um personagem
que eu inventei para assinar os livros em meu nome, para que os leitores
comprassem os livros de um escritor brasileiro pensando que fosse de um
escritor árabe. Beremiz é apenas um personagem que eu criei para meu livro “O
homem que calculava”, cujo livro eu assinei como Malba Tahan.
Entra o diretor
DIRETOR
(muito bravo): Que bagunça é essa na minha peça? Quem colocou esses três personagens
aqui? Contrarregra!!!!
CONTRARREGRA
(medroso): O que foi, chefinho? Bom dia(para o público).Bom dia(para o diretor)
DIRETOR:
Que bom dia nada! Não tem nada de bom
nesse dia! Já começaram bagunçando a minha peça! Quem mandou colocar esses três
personagens no início desta peça?
CONTRARREGRA
(mais medroso ainda):Vo-você sa-sabe como é, chefinho... Esses personagens
vivem querendo aparecer, surgem do nada! Mas já tô expulsando eles, ok? Xô, xô,
xô (enxota os personagens do palco
como se fossem animais).
DIRETOR
(sozinho e sempre bravo):Pra que que eu aceitei essa porcaria de
trabalho? Pois bem, prezado público, uma explicação agora é necessária. A peça
a qual vocês irão assistir é inspirada em um conto, uma história curta e
inventada, contada pelo personagem Beremiz ao califa Al-Motacém no livro de
contos “O homem que calculava” (mostra
o livro), de Malba Tahan, heterônimo
do escritor brasileiro Júlio César de Mello e Souza. A versão em peça é uma
adaptação desse conto escrita por um professor maluco chamado Carlos Brunno,
que eu nunca nem vi e tenho raiva de quem viu. A versão que esse tal de Carlos
Brunno fez é muito diferente da versão original. Pra ser sincero, eu
pessoalmente acho essa versão desse tal de Carlos Brunno uma porcaria e
recomendo que vocês leiam o original que está no livro “O homem que calculava”,
que tem na biblioteca da sua escola. Só aceitei dirigir essa peça porque, com a
escassez de emprego hoje em dia, eu tinha que trabalhar. Bem, é isso. Agora
assistam à peça QUIETOS e me deixem trabalhar! Contrarregra, chama o dorminhoco
do Narrador pra gente começar logo essa peça!
CONTRARREGRA
(acorda o narrador): Narrador, vai logo!
É a sua vez!(fala pra si, enquanto o
NARRADOR abre preguiçosamente os braços e se direciona vagarosamente para a
frente do palco)Ô vida cansativa, ô
cambada de personagens ruins de jogo! Preciso mudar de emprego urgentemente.
NARRADOR/SANDMAN
(de frente para o público): Olá, meu nome é Sandman, sou o Senhor dos
Sonhos. Hoje trago-vos a história de meu sonho mais recente que veio pra mim
após a leitura de um livro. Peço que sonhem comigo para que possamos acompanhar
a história. Por isso, peço que fechem os olhos. Fechem os olhos. (atira purpurina no público) Isso, fechem os olhos. E agora reabram os
olhos e sejam bem-vindos à história do meu sonho. (as duas SERVAS DE VÉU que seguravam a cortina, afastam-na e percebe-se
que havia ali um rei, aparentando tristeza, sentado em seu trono. À frente, uma
mesa [que será usada de várias formas mais tarde; como para ser colocado o
tabuleiro de xadrez]. As 2 SERVAS DE VÉU passam cada uma a um lado do rei e
passam a abaná-lo com leques ou espanadores).Era uma vez um reino muito
distante, governado pelo Rei Iadava Zahyr Bozocrácio Primeiro, que vivia muito
triste... Acompanhemos sua trajetória.
Rei IADAVA ZAHYR
BOZOCRÁCIO PRIMEIRO chora copiosamente e assoa o nariz em um lenço. Entram o
SÚDITO QUARTZO LORENZETTI e o DIPLOMATA PEDRERNESTO.
QUARTZO
LORENZETTI: Meu rei Iadava Zahyr
Bozocrácio Primeiro, precisa parar com essa tristeza! O reino está uma bagunça!
Falta pão! O povo sente fome!
IADAVA
ZAHYR BOZOCRÁCIO: Fome, ora, fome! São
todos uns va-ga-bun-dos isso sim! Estão com fome, falta pão? Que comam as
goiabas divinas das Damas de Ares; é só invadir os jardins das vizinhas,
trabalhar o roubo e roubarem, táoquêi! Não me venham com problemas, pois minha
tristeza é infinita. (volta a chorar
copiosamente)
DIPLOMATA
PEDRERNESTO: Nosso rei sofre muito desde
a morte de seu filho Iadavinha Zahyrzinho Bozocracinho...
(Rei Iadava Zahyr
Bozocrácio chora mais ainda e assoa o nariz)
IADAVA
ZAHYR BOZOCRÁCIO: Aqueles bárbaros
vermelhos e barbudos, cambada de va-ga-bun-dos, mataram meu pobre filhinho
Iadavinha Zahyrzinho Bozocracinho, só porque a gente queria invadir o país
deles. Assassinos va-ga-bun-dos! Agora eu sofro eternamente sem meu filhinho
querido, tico-tico do paipai... (e
chora e assoa o nariz)
QUARTZO
LORENZETTI: Mas, piedoso e majestoso
chefe, precisa se recuperar do luto...
DIPLOMATA
PEDRERNESTO: Para tirá-lo desta tristeza
sem fim, trouxemos um professor de alegria.
(entra o Professor de
Alegria, todo sorridente)
IADAVA
ZAHYR BOZOCRÁCIO (triste e irritado):
Professor? Não preciso de professor, eu
aprendi tudo sozinho, sou um autoditado!
PROFESSOR
DA ALEGRIA (sempre sorridente, intervém
didático): Desculpe-me, majestosa
prepotência, mas a palavra adequada para designar uma pessoa que aprende as
coisas sozinha, sem necessidade de professor é “autodidata”.
IADAVA
ZAHYR BOZOCRÁCIO (mais irritado ainda):
Ousa me corrigir, seu idiota útil duma
figa! Guardas, prendam esse va-ga-bun-do!(Guardas prendem o Professor da Alegria, que agora sorri timidamente.
Iadava Zahyr Bozocrácio dirige-se para o súdito QUARTZO LORENZETTI) Súdito Quartzo Lorenzetti, avise o Ministro
Oláquio Pau de Sebo pra cortar toda verba da educação.
SÚDITO
QUARTZO LORENZETTI: Já cortamos, piedoso
e majestoso chefe.
IADAVA
ZAHYR BOZOCRÁCIO: Ah, tá. Então aumentem
o imposto dessa cambada de va-ga-bun-dos! E, agora, me deixa aqui com minha
tristeza sem fim, táoquêi.(volta a
chorar e assoar o nariz)
DIPLOMATA
PEDRERNESTO: Ainda não podemos
deixá-lo-á com tamanha tristeza, magnânimo mestre. Se professores não te
satisfazem, trouxe-te-lhe um poeta.
Guardas trazem
arrastado o poeta.
DIPLOMATA
PEDRERNESTO: O poeta veio de bom grado
(nesse momento, o poeta tenta fugir, mas
os guardas o seguram), pra
declamar-te-lhe um poema pra alegrá-lo-ei. Comece a declamar o poema para seu
piedoso e majestoso chefe, prezado poeta!
POETA
(descontente): Trouxe-te um soneto, majestoso sacripanta.
(cena congela. Entra DICIONÁRIO VIVO)
DICIONÁRIO VIVO (com um dicionário nas mãos): Soneto é um poema de quatorze versos,
distribuído em duas estrofes com 4 versos cada e 2 estrofes com 3 versos cada.
Costuma ter seus versos (linhas) contados em dez ou doze sílabas poéticas e
costuma ter rima. Já sacripanta significa aquele que é velhaco, patife,
indigno. Continuemos a história...
(cena descongela com
a saída do Narrador/Sandman.)
POETA:
Eis o poema que faço em sua homenagem,
majestoso senhor das bestas.
“Um soneto começo em
vosso gabo;
Contemos esta regra
por primeira,
Já lá vão duas, e
esta é a terceira,
Já este quartetinho
está no cabo.
Na quinta torce agora
a porca o rabo:
A sexta vá também
desta maneira,
na sétima entro já
com grã canseira,
E saio dos quartetos
muito brabo.
Agora nos tercetos
que direi?
Direi, que vós,
Senhor, a mim me honrais,
Gabando-vos a vós, e
eu fico um Rei.
Nesta vida um soneto
já ditei,
Se desta agora
escapo, nunca mais;
Louvado seja Deus,
que o acabei.”
IADAVA
ZAHYR BOZOCRÁCIO (triste e irritado):
Bela porcaria! Não entendi nada! Poema é
coisa de va-ga-bun-do, táoquêi!(saudoso)Ah, que saudades do meu falecido
filhinho Iadavinha Zahyrzinho Bozocracinho, ele adorava cortar o pescoço desses
poetas va-ga-bun-dos! O Rei da Nova Inglaterra, meu querido amigo Donats
Trumpet já dizia: ‘Poetas são seres ‘dangerigosos’!” Guardas, prendam esse
va-ga-bun-do! (Guardas levam o poeta,
que vai embora com ar debochado). Agora
chega das suas trapalhadas, Diplomata Pedrernesto, ninguém pode me tirar desta
tristeza sem fim.
Entra Lahur Sessa.
LAHUR
SESSA: Eu posso, querida majestade!
SERVA
DE VÉU 1: É um iluminado?
SERVA
DE VÉU 2:É um pavão?
QUARTZO
LORENZETTI (empolgado): Não, é o sábio
Lahur Sessa com um tabuleiro de xadrez na mão!
DIPLOMATA
PEDRERNESTO (agradecido): Graças, Lahur Sessa é nosso herói e da
tristeza tirá-lo-á, piedoso e majestoso chefe!
Lahur Sessa coloca um
tabuleiro de xadrez na mesa.
IADAVA
ZAHYR BOZOCRÁCIO (surpreendido): O que é isso, jovenzinho?
LAHUR
SESSA: Este é um tabuleiro de xadrez,
querida e desafortunada majestade. Tal jogo dispõe de oito peças pequeninas -
os peões. Representam a infantaria, que ameaça avançar sobre o inimigo para
desbaratá-lo. Secundando a ação dos peões vêm as torres, representadas por
peças maiores e mais poderosas; a cavalaria, indispensável no combate, aparece,
igualmente, no jogo, simbolizada por duas peças que podem saltar, como dois
cavalos, sobre as outras; e, para intensificar o ataque, incluem-se – para
representar os guerreiros cheios de nobreza e prestígio - os dois vizires do
rei . Outra peça, dotada de amplos movimentos, mais eficiente e poderosa do que
as demais, representará o espírito de nacionalidade do povo e será chamada a
rainha. Completa a coleção uma peça que isolada pouco vale, mas se torna muito
forte quando amparada pelas outras. É o rei.
IADAVA
ZAHYR BOZOCRÁCIO (intrigado): Hum, interessante! Mas por que é a rainha
mais forte e mais poderosa que o próprio rei? Que eu saiba mulher só nasce
depois de uma fraquejada dos homens, esses sim, mais poderosos que o sexo
frágil.
LAHUR
SESSA: A rainha é mais poderosa, porque
representa, nesse jogo, o patriotismo do povo. A maior força do trono reside,
principalmente, na exaltação de seus súditos. Como poderia o rei resistir ao
ataque dos adversários, se não contasse com o espírito de abnegação e
sacrifício daqueles que o cercam e zelam pela integridade da pátria?
IADAVA
ZAHYR BOZOCRÁCIO (contente): Isso, isso, pátria acima de todos!
Finalmente um jogo que me entende!
DIPLOMATA
PEDRERNESTO (satisfeito): Olha, Quartzo Lorenzetti, Lahur Sessa
conseguiu fazer o rei esquecer sua tristeza e sorrir.
QUARTZO
LORENZETTI (também satisfeito): Sim! Agora deixemos eles a sós, se
divertindo!
DIPLOMATA
PEDRERNESTO: Sim, partamo-les.
DIPLOMATA PEDRERNESTO
e QUARTZO LORENZETTI saem. Enquanto LAHUR SESSA mostra o jogo para IADAVA ZAHYR
BOZOCRÁCIO, entra NARRADOR/SANDMAN.
SANDMAN:
E, encantado com o jogo, o rei Iadava
Zahyr Bozocrácio passou horas e horas aprendendo o jogo de xadrez.
SANDMAN sai.
LAHUR
SESSA: ... E essa aqui é uma jogada rara
e rápida chamada Mate do Louco.
Entram CORINGA e
ARLEQUINA.
CORINGA:
Opa! Rá, rá, rá! Eu escutei “louco”!
Opa, me chamaram, rá, rá, rá(atiram
água no público)
DIRETOR
(entra mais uma vez bravo no palco; cena
congela):Contrarregra!!!! Que
bagunça é essa!!! Quem mandou esses personagens malucos, que não tem nada a ver
com a peça aparecerem! Eita trabalho desgraçado!
CONTRARREGRA (desesperado de medo): Ca-calma, chefinho! Já estou expulsando
eles, ok? Xô, xô, xô(enxota os personagens
do palco como se fossem animais. CORINGA e ARLEQUINA atiram água nele, enquanto
são expulsos do palco).
(cena retorna)
IADAVA
ZAHYR BOZOCRÁCIO (agradecido): Meu nobre Lahur Sessa, você me tirou da
tristeza e me ensinou este jogo interessantíssimo! Como posso te recompensar?
LAHUR
SESSA: Rei poderoso! Vou, pois, aceitar,
pelo jogo que inventei, uma recompensa que corresponde à vossa generosidade;
não desejo, contudo, nem ouro, nem terras ou palácios. Peço o meu pagamento em
grãos de trigo.
IADAVA
BOZOCRÁCIO: (para o público) Que otário!(para Lahur Sessa) Grãos de
trigo? Então, táoquêi! Quantos você quer?
LAHUR
SESSA: Vossa majestade vai me dar um
grão de trigo pela primeira casa do tabuleiro; dois pela segunda, quatro pela
terceira, oito pela quarta, e, assim dobrando sucessivamente, até a sexagésima
quarta e última casa do tabuleiro. Peço-lhe, ó rei, de acordo com a sua
magnânima oferta, que autorize o pagamento em grãos de trigo, e assim como
indiquei!
IADAVA
BOZOCRÁCIO: (para o público) Mas é otário
mesmo; me dei bem! (para Lahur Sessa) Negócio
fechado! Autorizo o pagamento! (as DUAS SERVAS colocam a mão na testa,
aparentando saberem que o rei fez besteira) Contador Guedim, venha pagar esse bondoso homem!
CONTADOR GUEDIM
entra.
CONTADOR
GUEDIM (entra com um caderno e caneta):Chamou-me, majestoso e piedoso arremedo
de chefe. A quem devo pagar e como se dará o pagamento?
IADAVA
BOZOCRÁCIO: Nobre Lahur Sessa, explique
ao contador Guedim como o senhor quer receber o pagamento que esse negócio de
conta é com ele.
LAHUR
SESSA: Eu quero receber o pagamento
assim...
(Lahur Sessa cochicha
no ouvido de Guedim. Guedim vai fazendo as contas assombrado)
IADAVA
BOZOCRÁCIO: Não demore tanto pra fazer
umas continhas bobas, Contador Guedim. Paga logo o homem, táoquêi.
GUEDIM
(embaraçado, puxa o rei para um canto):Majestade Iadava Zahyr Bozocrácio, como
o senhor me fecha um negócio desse sem me consultar? Eu fiz as contas... Para
se obter esse total de grãos de trigo, devemos elevar o número 2 ao expoente
64, e do resultado tirar uma unidade. Trata-se de um número verdadeiramente
astronômico, de vinte algarismos. São 18 quintilhões 446 quadrilhões 744
trilhões 73 bilhões 709 milhões 551 mil e 615 grãos de trigo!
IADAVA
BOZOCRÁCIO (incrédulo): Isso tudo?
GUEDIM
(embaraçado): Nem em 2 000 séculos
produziríamos a quantidade de trigo que, pela sua promessa, cabe, em pleno
direito, ao jovem Sessa!
IADAVA
BOZOCRÁCIO (desesperado): Diacho! E
agora, contador Guedim, o que eu faço?
GUEDIM:
O de sempre, majestoso e piedoso
arremedo de chefe! Volta atrás com a sua promessa e dá um cargo no reino para o
Lahur Sessa não denunciar a gente pra imprensa.
NARRADOR/SANDMAN
entra.
NARRADOR/SANDMAN:
E foi assim que o inteligente Lahur
Sessa ganhou o cargo de Sábio Marajá no reino de Iadava Zahyr Bozocrácio
Primeiro. Com salário alto e pouco trabalho, passou sua vida dedicando-se a
jogar xadrez com o rei.
IADAVA
ZAHYR BOZOCRÁCIO: Você me ensinou uma importante
lição, nobre Sábio Marajá Lahur Sessa.
LAHUR
SESSA: Ah, finalmente meu poderoso rei,
você aprendeu que deve refletir, meditar bem, antes de agir?
IADAVA
ZAHYR BOZOCRÁCIO: Claro que não, Sábio
Marajá Lahur Sessa! Ora, eu sempre penso antes de agir ou falar, táoquêi! O que
eu aprendi mesmo é que existem quadrilhão e quintilhão. Eu pensei que só
existia números até o trilhão! Guardas, tragam aquele va-ga-bun-do daquele tal
de poeta para encerrar essa história.
POETA:
Cumprimento a minha
frente um forte adversário
E minhas negras peças
ainda somam dezesseis
Tão grande e
fascinante, és tu jogo lendário
Inicio agora, uma
difícil batalha no xadrez:
Empurro meu peão que
avança com alguma timidez
Quem me dera ser um
mestre e ter alguma altivez
Neste jogo que, entre
dois, cada um tem sua vez!
Hoje popular, mas que
outrora foi somente de nobres e reis
Inspirado por Deus,
com certeza, foi o sábio que o fez
Quem o aprende não
consegue jogá-lo somente uma vez
O poeta que vos fala,
do forte adversário, já virou freguês
És jogado por todos
os povos, do brasileiro ao polonês
Comentado em todas as
línguas, em árabe e também em português
Em terras
tupiniquins, chegaste com pompa e sisudez
Mas, aos pouquinhos,
conquistaste este povo que te chama de xadrez
E agora, peço
desculpa e licença a todos vocês,
Pois, no tabuleiro da
minha mesa, chegou de novo a minha vez.
(Todos os
personagens, que iam se aproximando à medida que o poeta declamava, declamam os
versos abaixo juntos)
TODOS:
“Vamos jogar xadrez
Vamos jogar xadrez
Nós todos já
aprendemos
Agora é sua vez
Luz, Câmera...Alcino!
– Xeque-mate!”
Esquete "Luz, Câmera...Alcino! no Reino do Rei Iadava Zahyr
Bozocrácio Primeiro com o Homem que Sabiamente Calculava" em vídeo
O Grupo Luz, Câmera... Alcino! 2019 esteve presente na
Abertura do IX Torneio Xeque Mate, organizado pelo mais que fodástico
professoramigo poetatleta Genaldo Lial da Silva, na manhã e tarde do dia
06/06/2019, com o esquete "Luz, Câmera...Alcino! no Reino do Rei Iadava Zahyr
Bozocrácio Primeiro com o Homem que Sabiamente Calculava", obra satírica
escrita por mim e livremente inspirada no conto do xadrez do livro "O
Homem que Calculava", de Malba Tahan, + poema de Gregório de Matos + poema
de Genaldo Lial. O texto final teve revisões dos artistalunos que atuaram no
esquete.
O esquete contou com a atuação de Maria Vitória Souza do
Carmo (Beremiz), Emily Correa da Silva (Malba Tahan), Natália Vitório R.
Honório (Julio César Melllo e Souza), Julia Marques (Diretora), Juslaine Bepler
(Contrarregra), Ingrid de Oliveira dos Santos (Sandman), Camila Vitória (Serva
do Véu 1), Isabelle Mello (Serva do Véu 2), Maria Gabriela Ferreira Luz (Rei
Iadava Zahyr Bozocrácio Primeiro), Katheleen Maciel (Ministro Quartzo
Lorenzetti), Leandro Hyatti Ciriaco (Diplomata Pedrernesto), Malu Carvalho (Professora
de Alegria), Cleyton Arruda Filgueiras (Chefe da Guarda), Karolaine de Araújo
(Guarda 1), Andressa Silva (Guarda 2),Anna Julia de Jesus (Poeta), Daniele dos Santos (Dicionário Vivo),
Andressa de Oliveira Silva (Lahur Sessa), Carlos Brunno (Coringa), Vitória
Fernandes (Arlequina) e Michele Ponte (Contador Guedim). A direção do esquete e
roteiro final foi de minha autoria. A apresentação da manhã teve supervisão e
direção artística das artistalunas Ana Julia Duarte e Ana Clara Oliveira. A
direção de som foi do Professor Artistativistamigo Daniel Coelho.
Agradecimentos especiais: Durante os ensaios, tivemos apoio
e dicas de interpretação dos Professores Genaldo Lial e Antonio Carregosa.
O registro em vídeo
foi realizado pelos cineastas alunos Ana Clara Oliveira (manhã) e Raul Damazio
da Silva (tarde).
IX Torneio Xeque Mate Alcino:
O documentário
Luz, Câmera... Alcino! 2019, além de estar presente na
Abertura do IX Torneio Xeque Mate, organizado pelo mais que fodástico
professoramigo poetatleta Genaldo Lial dA Silva, na manhã e tarde do dia
06/06/2019, com o esquete "Luz, Câmera...Alcino! no Reino do Rei Iadava
Zahyr Bozocrácio Primeiro com o Homem que Sabiamente Calculava", também
elaborou um curta de entrevistas com participantes do esquete e do evento.
O maravilhoso vídeo de entrevistas foi idealizado pela
artistaluna Maria Vitória Souza do Carmo (ela pensava até em um vídeo mais
amplo e consequentemente maior, mas fatores não previstos impediram uma obra
prima maior) foi filmado, produzido e editado por Malu Carvalho,teve a participação de Julia Marques, Ana
Julia de Jesus, Maria Vitória Souza do Carmo e Michele Ponte e conta com
entrevistas com os atores Emily Correa da Silva (Malba Tahan), Vitória
Fernandes (Arlequina), Camila Vitória (Serva de Véu), Andressa Silva (Guarda),
Cleyton Arruda (Chefe dos Guardas) e o vilão Coringa (!).
A notícia, com a qual inicio a introdução das Solidões
Compartilhadas de hoje, vocês já
conhecem: neste tenebroso início de setembro (e depois é o coitado do agosto
que é considerado o mês do desgosto): numa operação inédita na história da Bienal
do Livro do Rio de Janeiro, um grupo de fiscais da Secretaria Municipal de
Ordem Pública percorreu, no início da tarde desta sexta, os estandes do evento
para recolher livros com temas ligados à homossexualidade. O fato se deu por
determinação do prefeito Marcelo Crivella, que havia visitado o evento um dia
antes e se escandalizou com o romance gráfico da Marvel “Vingadores: A cruzada
das crianças”, da conhecida Coleção Salvat Capa Preta. A obra traz dois
personagens gays, Wiccano e Hulkling, que se beijam em uma das páginas. O prefeito, evangélico conservador, considerou a
cena inapropriada e determinou que a obra fosse retirada das prateleiras, mas a
organização recusou —e, mais tarde, a Justiça proibiu. Os livros, no entanto,
desapareceram em poucas horas. Assim que a polêmica ganhou as redes, todos os
exemplares que estavam disponíveis foram comprados. "Livros assim precisam
estar embalados em plástico preto lacrado e do lado de fora avisando o
conteúdo", afirmou Crivella, em um vídeo publicado em seu Twitter. O
prefeito argumentou a necessidade de "proteger as crianças" para que
elas não tenham "acesso precoce a assuntos que não estão de acordo com
suas idades". As declarações do político, somadas à atuação dos fiscais,
geraram um levante em massa de livreiros e editoras, que consideraram o ato uma
grave ameaça para a liberdade de expressão. Este é mais um capítulo vergonhoso
da nova velha e retrógrada maneira de se
‘fazer política’ atual: agradar sua minoria extremista (nesse caso, evangélica
e de direita, mas a prática estúpida do disfarce da incompetência
administrativa por meio de atitudes polêmicas insossas e escandalizadoras tem
sido uma constante tanto da maioria da direita quanto da esquerda). Agora o que
eu, como conhecedor, leitor e pesquisador de quadrinhos, sabe e talvez vocês
não saibam, amigos leitores: pra demonstrar o quanto a prática do político (chamá-lo
de prefeito novamente, diante de tanta incompetência administrativa – o Rio
está um caos e sua ‘atuação’ à frente do desgoverno é, isso sim, censurável de
tão escandalizante) Crivella é oportunista [mal realizada, como todo seu
desgoverno], retrógada, atrasada, a revista ‘censurada’ pela Vossa Estúpida Excelência
foi lançada em Julho de 2016 – ele tentou
censurar uma obra que circula há 3 anos em todas as bancas e sites de
quadrinhos, ou seja, ele está mais atrasado e apalermado do que pensa. Outro
detalhe: a obra que o escandalizou pertence à Coleção Salvat Capa Preta que
comumente republica material já publicado no Brasil: a mesma história já havia
sido publicada nas revistas X-men e Os Vingadores Especial, da Editora Panini,
em 2012, e o original americano é de 2010 – ou seja, Crivella não prestou nem
para mostrar um conservadorismo viril, foi insosso, pois condenou uma obra
amplamente divulgada há 7 anos no Brasil e 9 nos EUA. Como declarou Flávio
Moura,editor da Todavia, em declaração
ao El País: "Não há eufemismo para o que aconteceu. É uma tentativa
horrorosa de censura”. E acrescento: além de horrorosa, é mais uma trapalhada
conservadora de Crivella. Nem pra ser um censor competente ele serve.
Bem, mas o que isso tem a ver com a postagem de hoje?
Primeiramente, para lembrar que homofobia ainda é crime e relembrar que os tais
kits gays – que cada político incompetente apresenta um pra chamar de seu – permanecem
como obras de ficção – quase uma obra de fantasia obscura de porões da mais
tenebrosa fase da Idade Média -, ‘segundamente’, porque eu não ia perder a
oportunidade de zoar que o Crivellla nem pra censor retrógrado conservador
competente serve, ‘terceiramente’, para demonstrar minha preocupação com tal
conservadorismo sem noção que só serve como manutenção do retrocesso
injustificado e como distração para evitar discussão, debate e busca de
resolução para problemas reais e imediatos, e ‘quartamente’, mas também
principalmente, porque isso me lembrou de que eu ainda não fizera uma solidão
compartilhada há tempos guardada nos meus arquivos, fruto de boas lembranças de
maravilhosas artes de duas grandes artistamigas, que, na época, eram
artistalunas da Escola Municipal Alcino Francisco da Silva, da região rural de
Teresópolis/RJ. Estou falando das formidáveis, mais que fodásticas desenhistas,
artistas da poesia sem palavra, da poesia da imagem sublime, Tatiane de Jesus
Santos e Leticia Siqueira da Silva.
No sábado, dia 07/10/2017, a convite de Fernanda Monteiro e
demais amigos do Grupo Diversidade, tive a honra de participar e curtir a II
Feira da Diversidade, no Clube dos Democráticos, em Valença/RJ. Uma semana
antes, idealizei fazer cartazes com o tema “Todo amor vale a pena”,
demonstrando a diversidade de relações amorosas entre nós, seres humanos. Mas,
para isso, precisava de jovens e talentosos desenhistas e, por isso, convidei
as duas artistamigas citadas (na época, artistalunas do 9.º Ano) para fazerem
arte com o tema - lembrando que o convite foi feito fora do horário de aula, em
cima da hora, com a possibilidade de recusa [em nenhum momento foi imposto; só
sugerido, como diz aquela canção de Lulu Santos, sem a “menor obrigação de
acontecer”], com liberdade de expressão artística (sem imagens pré-concebidas), não
valia ponto, remuneração ou algo do tipo, tudo por amor à arte, e as duas deram
conta do recado, foram sublimes. A Exposição de cartazes com os desenhos delas
foi realizada e elogiada na II Feira da Diversidade, no Clube dos Democráticos,
em Valença/RJ, no dia 07/10/2017.
Diante do capítulo envolvendo o político Crivella e os
quadrinhos de diversidade super-heróica da Marvel, me dei conta de que ainda
não havia postado (ai, ai, tô atrasado nas publicações do blog, como o Crivella
nas suas ‘censuras’ e ‘preocupações’ – aff, nunca pensei que um dia ia me
comparar a este bestificado político do Rio) os desenhos da Exposição “Todo amor vale a pena” sublimemente criados
pelas maravilhosas artistamigas teresopolitanas Tatiane de Jesus Santos e Leticia
Siqueira da Silva.
Encantem seus olhos com a sublime arte destas duas mais que
fodásticas artistamigas, amigos leitores. Toda arte, amor e tolerância valem a
pena.
"Toda forma de amor vale a pena", por Tatiane Jesus Santos
Como é Dia da Independência do Brasil, vamos abordar na crônica-postagem
de hoje o antônimo da palavra: falemos sobre dependência.
Segundo matéria de 1.º de agosto de 2019, do site Extra,
baseada nos dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (Pnad Contínua) divulgados pelo IBGE, o número de desempregados no
Brasil foi de 12,8 milhões de pessoas no 2.º trimestre. Apesar da ligeira
diminuição de desempregados em comparação ao trimestre anterior, ainda há 12,8
milhões de brasileiros DEPENDENTES de uma política melhor de geração de
empregos. Segundo matéria de 31 de outubro de 2016 do site Superinteressante, há
uma drogaria para cada 3 mil habitantes, mais que o dobro do recomendado pela
Organização Mundial de Saúde. Ou seja: há mais pontos-de-venda de remédios no
Brasil do que de pão – são 54 mil farmácias contra 50 mil padarias. O site nos
alerta que a máquina de propaganda da indústria farmacêutica, a
irresponsabilidade de muitos médicos e a ignorância dos usuários criaram um
novo tipo de vício, tão perigoso quanto o das drogas ilegais: a farmacodependência. E o número de farmacodependentes só aumenta a cada dia, a
cada inauguração de uma nova matriz ou filial de empresa farmacêutica. Por falar em excesso de drogas e falta de pão, a
matéria de 29 de abril de 2019 do site Observatório do Terceiro Setor, baseada
no relatório internacional ‘O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo
2018′, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
(FAO), mostrou que a fome atinge 5,2 milhões de pessoas no Brasil (ou seja, o
número de pessoas que passam fome no Brasil supera em 1,7 milhão a população
inteira do Uruguai). Contabilizando: temos 5,2 milhões de brasileiros que
DEPENDEM de uma política mais humana na distribuição de renda e de assistência
social. Isso sem contar os crescentes números de DEPENDENTES químicos, de
DEPENDENTES familiares, de DEPENDENTES de uma figura política para se endeusar
e se proclamar, num olhar retrógado paternalista, como salvadora do país, etc.
No variado grupo de DEPENDENTES que o Brasil sustenta com soberania agora surge
uma nova super equipe: a dos políticos que, incapazes de uma boa administração
(ao contrário: precisam de algo para esconderem uma governabilidade insossa
e/ou cada vez mais desastrosa), DEPENDEM de ‘propagandismo autopreservativo com
deturpamento moral e cívico’, DEPENDEM de manifestações e censuras absurdas
para sustentarem um conservadorismo que não sustentam, uma moralidade que não
mantêm e uma competência que nunca tiveram. Não é preciso pesquisas, pois proliferam-se
as notícias desta DEPENDÊNCIA: político que declara DEPENDÊNCIA de
manifestações pró-ele mesmo (e não pró-governo, pois, se não se governa bem,
não há governo pra se defender) no dia da nossa InDEPENDÊNCIA, outros que
praticam censuras e proibições em eventos de natureza artística, literária e independente
agrícola, pois DEPENDEM disso para terem ao menos uma migalha dos conservadores
mais radicais, já que os demais brasileiros já estão de saco cheio da evidente
desgovernabilidade destes políticos eternamente DEPENDENTES de jogarem poeira
onde não há para que todos deixem de reparar seus escritórios já cheios de
obscuras sujeiras depositadas por debaixo do já e cada vez mais imundo tapete
público (isso sempre me lembra cenas do filme “O cheiro do ralo”, excelentíssimo filme nacional, dirigido por Heitor Dhalia e escrito por Lourenço Mutarelli, em que o
escroto protagonista, viciado colecionador e explorador e redutor de objetos de
significativas lembranças afetivas alheias através da pechincha amarga e
sórdida, diz a todos que o cheiro ruim do escritório de sua loja de penhores vem do ralo, até que uma
das vítimas da pechincha implacável lhe diz que a sujeira vem do ralo e quem
vai no banheiro é o protagonista, então o cheiro podre é dele, e não do ralo. Por sinal, me pergunto se, diante de tantos mecanismos de censura, filmes corajosos como "O cheiro do ralo" conseguiriam resistir à onda hipócrita moralista).
Nunca convivemos com tantos DEPENDENTES – na maioria, frios,
calculistas e orgulhosos de sua ignorância à DEPENDÊNCIA exibida e proclamada -
quanto nesses tempos atuais, amigos, e, como a DEPENDÊNCIA se torna algo cada
vez mais comum, os seres DEPENDENTES mantêm-se sólidos e sórdidos em todas as
esferas de poder, tanto que uma manifestação a favor do apoio às DEPENDÊNCIAS
soberanas e em repúdio aos setores críticos independentes no Dia da
InDEPENDÊNCIA do Brasil é um absurdo hipócrita bonito, visto como natural.
Contribuo com os manifestantes com meu cartaz irônico:
retiremos o prefixo in da InDEPENDÊNCIA, defendamos a soberania do absurdo
diário autoritário com simpatia estúpida e comemoremos a nossa DEPENDÊNCIA
enrustida com o verde do dinheiro que nos falta e lhes sobra e o amarelo do
acovardar-se diante de uma crise séria de nossa identidade crítica e guerreira.
Opa, palavras demais para um cartaz só; ninguém vai ler. Toquemos a profética
música “Perfeição”, da Legião Urbana, composta por Renato Russo (já sei, vão chamá-lo de gayzista e esquerdista, aff), que, pelo menos, alguns ouvidos, ainda
que meio surdos, vão entender:
“Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos covardes
Estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação
Celebrar a juventude sem escola, as crianças mortas