Sim, dei um
tempo. De quase tudo: sumi de círculos culturais, evitei redes sociais tanto
interativas quanto reais, me ausentei de reuniões boêmias em fins de semana
prolongados, assumi a reforma de minha fortaleza da solidão (sempre invejando a
super Fortaleza da Solidão do superamigo [também] alienígena Superman). Estou
de luto, por meu tio Tião, que há tempos não via (e agora, agora é sempre tarde
demais) e por Stan Lee (Thanos é realmente o maior vilão da Marvel: na Guerra
Infinita estalou os dedos, levou o gênio criador e deixou-nos novos e velhos [e/ou
novos velhos] senhores da guerra, do preconceito e da destruição. É, os titãs
loucos venceram, pelo menos por enquanto, por infinitos por enquantos...) Estou
(ou estava mais) cansado, com uma prolongada ressaca do fim amargo das últimas –
agora velhas - eleições (por mais que declarem que a direita vai ser boa, que
darão um rumo no país [na verdade, estou usando educados eufemismos – a maioria
vitoriosa falou que eu “vou ter que engolir” e/ou “aceita que dói menos”], sempre
fui canhoto a minha vida inteira, não consigo acalentar tal otimismo e as
notícias mais recentes sempre me lembram previsões pessimistas de tempo como “ventos
fortes à direita empurram uma massa de
ar frio à sua região fronteiriça à esquerda para o precipício do velho oeste”).
Estou tão à flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar (por isso,
ando evitando também quaisquer novelas rs). Há vitórias sim – outros concursos
literários nos quais meus filhos poemas, contos e aldravias se consagraram,
outros concursos literários em que meus queridos poetalunos se classificaram e
brilharam – mas precisei dar um tempo.
Não, não dei
um tempo de tudo. De quase tudo. Que é diferente de tudo: continuo sonhando e,
consequentemente, escrevendo (apesar do quase ‘suicídio’ do blog por falta de
atualizações, sempre pensei nele durante esse tempo ocioso, buscando vontade,
pois material lírico não falta), continuo
assistindo a filmes e a séries, continuo fazendo caminhadas esporádicas com
mamãe, continuo trabalhando e pensando em educação o tempo quase todo, continuo
amando Valença, Teresópolis e lugares que nem conheci, continuo amando – mesmo que
nem sempre expresse – as pessoas com suas perfeitas imperfeições, a arte, a
humanidade, a vida – principalmente a ‘vida loka’ mesmo quando não a pratico -,
continuo lendo como se não houvesse amanhã (terminei o excelentíssimo livro de
contos “Curva de rio sujo”, do mato-grossense Joca Reinners Terron, com seu
universo nortista lírico que mistura o maravilhoso, encantador com o violento,
aterrador e desafiador; viajei pelo velho oeste do Jonah Hex da ‘Era de Prata
da DC’ [finalmente consegui adquirir a um preço acessível – estou meio falido,
mas imensamente realizado! - as primeiras edições dos gibis que a Ebal
publicava em formatinho colorido nos fins da década de 1970; acompanhei as
aventuras e desventuras do recém ressuscitado [na época] Oliver Queen das
histórias em quadrinhos do “Arqueiro
Verde” pré Novos 52 [são histórias básicas de super herói, mas trazem um algo
mais tocante que chega a ‘soluçar’ o coração]; passeei com olhos hesitantes pelo pavoroso “Arkham,
Inferno na Terra”; retornei ao gibis clássicos de Capitão América, Luke Cage,
Thor e Cia Marvelísitica [Stan Lee, Jack Kirby, Simonson forever!],
emocionei-me com a nova versão de Fabio Coala para o dinossauro Horácio de
Maurício de Souza, reli o fodástico “Hurulla”, de Cleyton InLoco, retomando
aquele ambiente mágico e ao mesmo tempo violento, etc etc etc [sim, li mais –
e, principalmente quadrinhos, pois são mais fáceis de revezar com as correções
de provas e redações – que respirei nos últimos tempos).
Sim, já dei
um tempo de quase tudo, pois dar tempo de tudo demanda tempo e desistência
demais. E não, não posso deixar de dar um tempo de quase tudo de vez em quando;
já me ocorre naturalmente – num mundo acelerado e atropelador como o nosso dar
um tempo é uma resistência, uma rebeldia necessária pra quem curte nadar contra
a corrente ao menos de vez em quando. Só que dar um tempo já deu e é hora de
voltar. E volto hoje ao blog com um miniconto inédito, escrito há pouco (pra
ser mais exato, ‘recém improvisado’ para a volta).
Saiu meio
piegas e bastante improvisado, mas espero que gostem. Amo vocês, amigos
leitores, suas preocupações e despreocupações, e lamento nem sempre
corresponder à altura (é que sou meio babaca com pouca coragem pra ser
completamente sincero e me autodeclarar um completo babaca – e insensível ao
alheio de vez em quando). Boa leitura do novo miniconto, abração e Arte Sempre!
Longa chuva
de inverno nos dias curtos da primavera que outrora sonhara com os braços
quentes, efêmeros e distantes do verão
(ou A chuva e Hemo)
Enquanto os Outros xingavam o mau
tempo, o silêncio melancólico de Hemo sorria.
A natureza sombria, inconveniente aos Outros, permitia que os olhos de Hemo
se libertassem e derramassem sem culpa
as suas angústias.
Com a chuva constante e companheira, Hemo não precisava mais disfarçar as
lágrimas represadas pela solidão partida em uma vida inteira.
Coração aqui aquece e ri quando se depara com o transbordar das palavras que fogem de ti... que correm libertas porque já se tornaram molduras dos sensíveis em algum canto que brilha muito lá/aqui- em ti.
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