No dia 23 de julho o blog comemorou 6 anos de
existência, insistência e resistência literária e, hoje, dia 25 de julho,
comemoramos o Dia do Escritor. Em homenagem a essas duas datas, posto hoje uma
crônica minha, já publicada em antologia do Grêmio Barramansense de Letras
(Grebal), mas ainda inédita no sarau. Na crônica de hoje, conto um pouco da
minha paixão por livros, minha trajetória como leitor.
Em tempo: hoje, às 20h, em comemoração ao Dia do
Escritor e aos 6 anos do blog, o Sarau Solidões Coletivas fará uma intervenção
poética relâmpago “em cima da hora”, em frente ao Casarão das Artes em ruína, na
subida para a Catedral Nossa Senhora da Glória, no centro da cidade de
Valença/RJ.
(Con)Vivamos sempre com Livros, amigos leitores,
apaixonados seguidores da boa leitura, eternos companheiros dessa trajetória
literária!
(Con)Vivendo
com Livros
É infalível: quem me visita e
constata a biblioteca caótica que tenho em casa acaba me perguntando como
consigo viver no meio de tantos livros. Nessas horas, costumo dar um sorriso
sem graça e balbuciar declarações quase sem sentido e completamente vagas: “ah,
vou levando” (como se a pergunta fosse “como vai sua vida?”) ou “a gente vai
convivendo” (como se a dúvida fosse “como está o seu casamento?”). Evito a
resposta real, seria complicado explicar.
Por
muito tempo, me expressar foi um grande mistério: as palavras que dançavam
livres em meus pensamentos, quando saíam de minha boca, alcançavam o mundo de
maneira atropelada e atrapalhada, chegando aos ouvidos dos outros desfiguradas.
Falar era um parto, um atirar-se cego em tenebrosa roseira; as palavras me
doíam como espinhos e esse era meu grande desafio: domar meu medo delas,
descobrir como chegar na rosa sem me machucar demais, dominar a linguagem.
Apesar
de tímido e pouco comunicativo, aprendi facilmente a ler. Certo dia, minha
madrinha, que era professora numa escola particular de um município vizinho,
propôs que eu fosse com ela para o trabalho. Como eu adorava passear, aceitei
logo. Chegando lá, informaram que eu não poderia ficar na sala de aula (e nem
queria, pois significava pôr à prova a minha [in]capacidade comunicativa),
restando-me esperar minha madrinha na biblioteca da escola. E o que uma criança
que já aprendeu a ler poderia fazer naquele espaço pra preencher o ócio e o
tédio da espera?
Passei a namorar as inúmeras obras
literárias da biblioteca. Primeiro folheava-as sem compromisso, depois fui
lendo-as uma a uma. Com o tempo, percebi que o segredo de como domar as
palavras, de como torná-las atraentes e fluentes, estava ali ao alcance dos
olhos, na minha cara, debaixo do meu nariz, como eu não tinha percebido antes?
Foi paixão à primeira leitura.
Devorei prateleiras inteiras
daquela biblioteca e as palavras passaram a escorregar de meus lábios como
espinhos macios; ainda balbuciava demais, mas agora as palavras saíam
incontidas, desesperadoramente necessárias. Eu precisava expressá-las,
libertá-las, declarar meu amor por elas. No princípio, era o medo. Através da
leitura, conheci o Verbo, sua coragem e seu imenso amor.
Mas
a “operação traça” ainda me tornava inacessível ao bate-papo informal. Precisei
adequar minha linguagem. E até nisso os livros me ajudaram! Apiedado por
inúmeros personagens, de todos os tipos, aprendi com os livros a ler também as
pessoas, perceber os traços e estilos de cada uma e respeitá-las, amá-las. Os
livros me ensinaram a me esquecer do próprio umbigo pra viver as aventuras e
desventuras dos outros. Hoje não sei mais se apenas convivo com os livros ou se
vivo neles, com eles – a cada página que viro em meu caminho é um novo romance
(em todos os sentidos), uma nova realidade (nunca sei se real ou fictícia), a
minha vida ganha novas vidas e, nesta lida de lidas diárias, vou encontrando
uma humanidade mais compreensiva e infinitamente melhor!
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