Yeah, amigos, a última semana foi superespecial para o poeta
blogueiro-amigo que vos fala! No sábado, dia 19 de novembro de 2016, tive a
honra de receber o troféu de 2.º Lugar no Concurso de Poesias da Academia de
Letras de Vassouras (ALV), cujo tema foi "As águas de minha terra". A cerimônia de premiação aconteceu na sede da ALV,
que se localiza no Mara Palace Hotel, em Vassouras/RJ. Meu poema premiado,
"Viagens pelas águas de minha terra", é uma homenagem aos rios Paraíba do Sul, com o qual convivo desde minhas origens, e ao Paquequer, que aprendi a amar a partir do momento em que passei a ter residência também em Teresópolis/RJ.
Trago o poema premiado logo abaixo nessa postagem do blog "Diários de Solidões Coletivas" (mais à frente
colocarei também o vídeo da declamação do poema durante a cerimônia de
premiação) e recebi a informação de que em breve minha homenagem lírica aos rios de minha terra também será publicado no jornal Tribuna do Interior.
Viagens pelas águas de minha terra
Meus olhos começam a correr pelas águas de minha terra
quando os ponteiros da Rodoviária de Três Rios parecem estagnados:
aguardo entediado que minha carruagem coletiva se aproxime,
mas a espera é vã, sem Progresso algum.
Na falta de fadas e abóboras mágicas,
meus olhos borralheiros passeiam pela área ao redor
e encostam, hipnotizados, nas grades,
de onde se avista o portentoso rio Paraíba do Sul,
com sua inconstância selvagem.
De águas turvas, ele às vezes é amável e solidário
(Nesse momento, meus olhos pressentem o passado presente
e reveem o peixe beijar o anzol
da vara pueril e principiante do menino barrense.
- É isso aí, filhão! – foi o tio, o meu pai ausente ou o rio
que falou comigo?
Não sei, nunca soube qual foi a nascente
dessas águas mágoas que se vão...)...
De águas barrentas, o Paraíba do Sul às vezes é louco e possessivo
(Meus olhos de novo naufragam o presente e refletem o passado
e, à sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais da rua Cristiano
Otoni,
releio os lábios dos vizinhos que atualizavam minha mãe
das últimas novidades trágicas da semana:
“O Paraíba levou outro menino!
Quem mandou o garoto pular num rio tão traiçoeiro?”)...
Mas, se o rio da minha infância era e continua confuso,
mais absurdos são os homens que atiram lixos furiosos e ingratos
na fonte que os sustenta.
Meus olhos envergonham-se de suas margens feridas
pela sujeira humana.
Bença, vovô Paraíba do Sul,
bença, único avô que me resta nesta vida,
me abençoa e perdoa a ingratidão de minha família...
- Serão ataques de fúria as suas enchentes repentinas?
Meus olhos perguntam ao rio,
mas ele nada responde; apenas segue seu caminho;
sua corrente intranquila pelo menos hoje parece adormecida.
E o tempo antes tão lento retoma seu desassossego:
retorno à rodoviária em cima da hora
e quase perco o ônibus
que me levará de volta
pra Valença, minha cidade afetiva,
município falido, enriquecido pelas minhas memórias inventadas.
Como o rio Paraíba do Sul, a Princesinha da Serra ainda respira,
apesar da geografia humanamente mutilada;
de nobreza rasa e abatida, ambos resistem pelas glórias passadas.
Após o fim de semana, meus olhos correm por outras águas, outras horas:
deixo o sul do Estado do Rio e subo a Serra dos Órgãos
pra me reencontrar com outra parte do Rio (com outro rio de minha vida
peregrina):
com seu porte soberbo, orgulhoso de seu protagonismo
no inesquecível “O Guarani”, do mestre José de Alencar,
eis o Paquequer.
Sensual, esse rio é o que mais atrai turistas na região serrana;
perigoso, também é o que mais arranca vidas em trombas d’água insanas
(as trágicas chuvas de 2011 encharcam minhas memórias
e minha vista por um momento embaça e chora
pra depois se recompor e, ainda de luto ferido,
retomar a correnteza do agora)...
O rio Paquequer é tão confuso quanto o Paraíba do Sul,
é tão estranho e lindo quanto qualquer outro grande rio
que sofre com as miseráveis investidas dos novos ricos,
velhos bandeirantes renascidos no século XXI;
o rio Paquequer é mais um rio índio e antigo
ferido por invasores arcaicos que vestem as calças do novo capitalismo
e revestem de cinza o verde e o azul da nossa História,
tecendo bandeiras sem pátrias
para a fábrica nervosa do progresso cego e sem outroras.
Mais à frente, no centro de Teresópolis, remota Cidade dos Festivais,
o rio Paquequer antes tão vivo
é como o título esquecido de seu município:
parece um velho parente enfermo,
vítima de maus tratos;
sobrevive bravamente,
mas carece de cuidados.
Meus olhos correm sobre sua superfície carente,
rala e adoentada...
É a vaidade guerreira de Peri e de Ceci
ou são as lágrimas dos peixes
que te fazem seguir em frente,
meu aventureiro e desnutrido Paquequer?
Agora é mais outro agora e meus olhos param de correr,
reconhecendo as dificuldades da caminhada:
minha vista encalhada segue a pé pela árida estrada
e finalmente reencontro uma de minhas duas moradas.
Entro em casa, deito em minha cama,
fecho meus olhos e sonho com outros rios inacessíveis,
impossíveis em nosso deserto contemporâneo.
Em meus idílios, suas águas invisíveis deságuam
sobre minhas margens cansadas,
preenchendo de infinito
os velhos rios mortos-vivos
que sempre carrego comigo
nessas longas viagens pelas águas de minha terra.
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