sábado, 25 de junho de 2022

Os Escravos de Seus Impérios Imaginários tão reais: Personagens, Nibelungos e Liberdades nas poéticas de Tetsuo Takita e de Marcelo Rodrigues Bueno

Tetsuo Takita (à esquerda)
e Marcelo Rodrigues Bueno (à direita)

Sabemos que, se algum mês fosse batizado como o mês do amor, seria junho. Afinal, algumas datas comemorativas nele, como o Dia dos Namorados e o Dia do casamenteiro Santo Antonio, confirmam essa preferência. Talvez, não coincidentemente (a amorosa e marcante Rebelião de Stonewall também aconteceu nesse mês), também se comemora o Dia do Orgulho LGBT+. O amor deve ser manifestado e semeado todo mês, principalmente nestes períodos de império de ódios, mas o mês de junho realmente traz um A maiúsculo para o Amor Livre e Sem Moderação. Foi neste mês de junho também, em um evento do Sarau Florescer Nit., magistralmente organizado por Jammy Said, que tive a honra de reencontrar o casal de divoartistamigos (poetamigos mais que fodásticos, cabe destacar) Tetsuo Takita (ou Tedi Pássaro ou Tedi Bird) e Marcelo Rodrigues Bueno.
Da direita para a esquerda,
Tetsuo Takita,
Marcelo Rodrigues Bueno e eu.

Conheci-os em um Sarau Florescer Nit. Anterior, numa magnífica sexta-feira de carnaval e de muita poesia, ambos trazendo seu lírico “Império Imaginário” (expressão entre aspas, pois é de Tetsuo Takita) solitário coletivo, em vibrantes performances.
Tudo isso, somado ao fato de eu estar devendo essa postagem, prometida a eles logo quando nos conhecemos, ou seja, já há certo tempo, tudo isso me fez decidir retornar ao blog, mais uma vez após longo hiato, compartilhando minhas solidões líricas com os mais que fodásticos poemas de Tetsuo Takita e de Marcelo Rodrigues Bueno.
Ambos trazem uma poética visceral (falávamos de amor até o momento, mas a temática dos poemas aqui selecionados tratam de temas pesadíssimos, de muita falta de amor), com grande preocupação social, cada um a seu modo (vejo na poética de Tetsuo o gosto pelo experimentalismo tão Sousândrade e Álvaro de Campos [na primeira fase deste], heterônimo de Fernando Pessoa, enquanto, na de Marcelo, vejo algo mais marginal-sublime-feroz-contido-incontido, bem Miró de Muribeca, Ferréz e José Craveirinha), mas ambos igualmente mais que fodásticos.
Que a Revolução da Artitude e do Amor (questionar o mundo a nossa volta também é amor, denúncia indignada contra a vitória da falta de amor, pedido crítico de harmonia entre o mundo e nós) perdure não apenas em junho, mas em todo o ano, no tempo quando, eternamente, livre, múltipla, singular plural, solitária coletiva.
Boa leitura, amigos leitores! Amor e Artitude Sempre!

De Tetsuo Takita
Extraído do livro "Personagem de Mim Mesmo 6.6ssãode terapia" de Tetsuo Takita - Editora Clube de Autores. Adquira no link: https://clubedeautores.com.br/livro/personagem-de-mim-mesmo-iii 

Tetsuo Takita

 
Escrevo pra ti esta-titica

Escravidão ainda
realidade mundial
escrevo escravo escrevinho
escrivaninha.

nas minas do Congo
menor menor que 10
Apple, Samsung e Sony
pela bateria do seu Smartphone
cobalto, ouro, tântalo e tungstênio,
Amada foca

se liberta do escrevendo flor de lótus
no stress
"no stress no escravo"

Coca Cola marca in Rosarno
Hum. Notável caso, Caládria-Itália
crianças
colheita de laranjas
refrigerante de marca
condição escravidão
mãos imigrantes África,

a criança trabalha trabalhou
sem Disney sem porra nenhuma

explorada alada erê voou para o céu dos passarinhos barriga d'água

vento seca seca

seca arado pasto ara escravo a'Zara dele
somos cúmplices deste sistema
prática do trabalho "slavo"

chora era
Phillipe Morris
2010
72 crianças de 10
envolvidas na colheita do tabaco
risco intoxicação nicotina
trabalho escravo
também imigrantes
documentos sequestrados
trabalho contínuo forçado,
sem qualquer compensação
condições desumanas plantações.
família inteiras
Marlboro, Basic, Benson & Hedges,
Amada foca!
Cambridge, Chesterfield, Commander,
Amada foca!
Dave's, English Ovals, Lark,
Amada Foca!
L&M, Merit, Parliament,
Amada foca!
Players, Saratoga e Virginia Slims.
anjinhos não escaparam nem da Victoria's shiiiiii!

cortaram-lhe a possibilidade de asa
ou anteciparam-lhe o voo ao céu das mortes capitais
Afirmava comércio justo, "fair trade",
garantia contra exploração nas plantações?
criança Clarissa,
in Burkina Faso forçada
plantar-colher algodão
físico abusivo.
dezembro de 2011
Victoria's Secrets
retirou "comércio justo" de suas etiquetas.
Nossa que reparação !

Chinesa Kye
recrutou 1.000
idades 17, 16,15
15h per dia
7 days per semana
números numbers numbers
mulheres de 18, 25
per la fortuna de 65 centavos hora...
ah tá!
A gente endeusa Microsoft, Hp, Xbox
Amada foca!
Apple e Nokia
Amada foca!

Uzbequistão, Forever 21
colheita do algodão
condição escravidão
direitos humanos?
total violação
Aeropostale, Toys 'R' Us,
Urban Outfitters
p amadas focas.

Hershey's. Amada foca! Uma nova linha, "Bliss Chocolate",apenas cacau certificado pela Rainforest Alliance dos EUA.
Vai um docinho amargo
chamado suor infantil?

há dez anos, milhares de rebentos arrebentados alegremente colhendo cacau na África
viva tbém Nestlè e M&M...
todas Mother fuck!

enquanto isso... tua criança nua toma banho de mangueira

trabalhador "slavo" formado no suor.
filho da Lua com a rua
mais um filho da Mãe fudida verde, amarela green yellow!
Tetsuo Takita


De Marcelo Rodrigues Bueno
Poesia de nibelungos 015
Capitulo 015
Iniciando..........

Marcelo Rodrigues Bueno


Liberdade na alma

Meu corpo pesava muitíssimo
Fumaça nicotina pesa meus pulmões
Mas dá prazer tolice minha fumar
Mas fumo e canso
Como é bom não ter nada a carregar
Como é bom ir e não ter uma incerta direção
Família não sou um peso pra eles
Prefiro ficar só por um breve instante
Eterno instante .....
Só a fome lembra de mim
Mas a ignoro
Estou decidido a não depender de comida
Sobreviver como
Com a mente talvez
Meditação sair descalço com uns trapo
De roupa é claro pra não ser preso
Deixar tudo para atrás até meu propio ódio do mundo
E tudo que o tem de ruim
Esquecer do devorador de tempo
Minha vida depende de mim
E o tempo é uma via láctea
Não sou nada perante isso tudo
Chega de carros chega de motos
Chega de ônibus lotado chega de fofocas
Chega de pobreza e riqueza
Chega de cueca suja e roupas lavanda
Chega de contas chega de dívidas
Chega de feiura de me preocupar com a beleza
Chega de impostos de governos que não governam nada
Chega de empregados domésticos domesticados
Chega de salário mínimo o mínimo que posso é doar o fubá
Santo tire essa coroa de espinho
Pensa vc dai-me um beijo
Pecado é guerra santa sangra
Explode trovão de pólvora então
Cale-se tire essa roupa e me cata
Solte seus cabelos e peque
Disse vc não pecar perante seu rei
Chega de maldade
Seus olhos doem
Pregado fui no varal da misericórdia
Com minhas roupas sujas de sangue
Marcelo Rodrigues Bueno

Da esquerda para a direita,
Marcelo Rodrigues Bueno
e Tetsuo Takita


sexta-feira, 3 de junho de 2022

Lembranças de um carnaval que dizem que não aconteceu: Um pouco de minha folia lírica entre o fim de fevereiro e início de março de 2022

2022 desfilando sua extravagância
2022 pode ser considerado, em diversos aspectos, como um ano atípico, nada convencional. Uma prova disso podemos perceber no fato de que o carnaval deste ano, previsto para o fim de fevereiro e início de março, não aconteceu (oficialmente), recebendo um puxadinho festivo no fim de abril, pela inédita (e inusitada) vez após a Páscoa. Sim, foi um lance muito esquisito, contrariando quaisquer teorias lógicas da metodologia humana em tentar absurdamente quantificar o tempo e buscar tradições rituais em períodos temporais.
Seja como for, ao menos, o calendário letivo em escolas foi meio que seguido tradicionalmente, mantendo a semana de carnaval entre o fim de fevereiro e início de março, convencionalmente antes da Páscoa, possibilitando assim o também tradicional recesso escolar na semana citada, consequentemente permitindo que o blogueiro-poeta-professor que vos escreve ficasse com bastante tempo para doce prática do ócio criativo (os astrólogos afirmam que taurinos, apesar de trabalhadores, curtem uma preguicinha sempre que podem e uma pausa pontual sempre que uma oportunidade surge, e eu, taurino, amigo das artes esotéricas, tento não contradizê-los, quando me convém).
Apesar de não ter havido festividades oficiais no período que seria o carnaval, devido à preocupação justa de que se evitasse novas incidências de aumento de casos de Covid-19, sabemos que o povo, contrariando tais precauções, fez sua própria festividade carnavalesca no período de fim de fevereiro e início de março (e o político que deu recesso sem fazer a festa e afirmar que não previa que o povo supriria, de forma improvisada, a ausência de festividades merece 4 anos de bolsa óleo de peroba pra cara de pau). No mesmo período, com carnaval oficializado no calendário, mas marginalizado nas comemorações, no melhor estilo “fumo, mas não trago”, lá pras bandas da Europa, uma violenta guerra se iniciava entre Rússia e Ucrânia. Toda essa folia, contrariedade e violência contidas serviram de material bruto (no sentido literal e simbólico) e de oportunidade para abstrações paradoxais e, consequentemente, para a manifestação artística.
No Sarau Florescer Nit.
"Sou do bloco da poesia
"
Foi nesse exato período, entre o fim de fevereiro e início de março, que, a convite da supermusartistativistamiga Jammy Said, participei do maravilhoso Sarau Florescer Nit. “Sou do bloco da poesia”, no Jardim da Cafeteria Casa de Helena (quer nome mais literariamente inspirador que Helena, meus caros Homeros, Machados de Assis e Manoéis Carlos?), em Niterói/RJ. Na sexta-feira de pré-carnaval, dia 25/02/2022, a partir das 17:30h, naquele espaço, tive a honra de representei o Sarau Solidões Coletivas, a arte do sul do Estado do Rio de Janeiro, e homenageei o maravilhoso e queridíssimo Bloco do Zé Pretinho do Morro, de Valença/RJ, declamando alguns poemas meus que se referiam ao tema carnaval (“Carnacarência”, de meu terceiro livro “Note or not ser”, “Carnaval do terceiro milênio”, de meu quarto livro “O último adeus (ou o primeiro pra sempre)” e “Tenha dó”, de meu quinto livro “Eu & Outras Províncias” – dois desses três poemas podem ser encontrados aqui no blog; “Carnacarência” no link:
https://diariosdesolidao.blogspot.com/2012/02/poemas-carnavalescos-carnacarencia.html e “Tenha dó” em: https://diariosdesolidao.blogspot.com/2012/01/clipoema-tenha-do.html - “Carnaval do terceiro milênio” vou ficar devendo a vocês, por enquanto). O Sarau Florescer Nit. “Sou do bloco da poesia” foi uma folia lírica fodástica, onde o lirismo desfilou poderosa na passarela de todos os corações dos participantes e espectadores. E, nessa postagem, finalmente, após mais de 3 meses, trago a vocês o vídeo, tardiamente colocado em meu canal do Youtube, com os registros de minha participação no evento.
Em tempo: Amanhã, sábado, dia 04/06, das 14 às 17h, novamente a convite da superdivartistamiga Jammy Said, participarei mais uma vez do Sarau Florescer Nit, desta vez no Solar do Jambeiro (será a primeira vez que declamarei neste importante espaço cultural niteroiense), em Ingá, em Niterói/RJ. Entrada franca. Aguardo vocês lá!
Com meu primo Charles Franck,
na quarta-feira de cinzas,
curando ressacas na Piscina da Tia Odete
algum tempo antes de cismar de escrever
"2022 cinzas de quarta"
Entre o fim de fevereiro e início de março, também me aconteceu um novo poema, que batizei de “2022 cinzas de quarta”, escrito na tarde da quarta-feira de cinzas, dia 02/03/2022, enquanto vivenciava as cinzas da quarta ensolarada na Piscina da Tia Odete (Pousada São Manoel, no interior de Valença/RJ), com direito a vídeo e foto arte de Charles Franck. Nesta postagem, também trago o vídeo no qual declamo o novo poema (outro vídeo tardiamente colocado em meu canal do Youtube; é, tenho andado bastante relapso com as divulgações artísticas de meu eu artista) e o texto integral em sua permanente desintegralidade (ou desintegralidão?, não sei qual neologismo melhor se encaixa).
Assim, deixo para vocês, amigos leitores, mesmo com enorme atraso, algumas lembranças minhas pontuais de um carnaval que, apesar de bem carnavalizado, dizem que não aconteceu, muitas folias líricas minhas do período, um pouco de minhas solidões coletivas diárias que sempre chegam ao blog um bocado atrasadas e, mais uma vez, meu agradecimento por permanecerem firmes acompanhando as parcas velhas novidades deste meu espaço lírico-virtual nosso. Espero que gostem. Abraços e Arte Sempre!

Vídeo de minha participação no Sarau Florescer Nit "Sou do Bloco da Poesia" na Cafeteria Casa de Helena, em Niterói/RJ, em 25/02/2022
Se não estiver visualizando o vídeo, eis o link direto: https://www.youtube.com/watch?v=NRNdAqqf3sE  

Vídeo de meu poema inédito “2022 cinzas de quarta”, escrito e declamado na Pousada São Manoel, em Cambota, no interior de Valença/RJ, em 02/03/2022
Se não estiver visualizando o vídeo, eis o link direto: https://www.youtube.com/watch?v=ACGWrX7hDlU 


2022 cinzas de quarta

Ressaca,
toalha pesada sobre a cabeça...
Ele pensava nas cinzas de quarta-feira,
enquanto o sol queimava seu rosto.
Do outro lado do mundo,
explosões anunciavam o calor da nova guerra fria,
enquanto outra guerra em seu corpo detonado e alienado
lhe implodia.
As ruínas distantes, ignoradas,
apenas lembradas pelo corpo brilhante
da libélula falecida
por mergulhar demais,
se embebedar demais...
Nunca mais voará...
Agora ele diz pra si que jamais beberia novamente assim
num dia de sol assim
em um dia assim,
mas, como no velho poema,
o verso reverso se repetia
como promessas vazias.
E o céu anil no dia das cinzas...
o sol abrasador... próximas e distantes cinzas...
Cinzas...
Hoje a quarta-feira arde ressentida
pelas novas e velhas batalhas perdidas da vida.
Carlos Brunno Silva Barbosa

Foto arte de Charles Franck para o meu poema "2022 cinzas de quarta"


Meu filho-poema selecionado na Copa do Mundo das Contradições: CarnaQatar

Dia de estreia da teoricamente favorita Seleção Brasileira Masculina de Futebol na Copa do Mundo 2022, no Qatar, e um Brasil, ainda fragiliz...