terça-feira, 20 de novembro de 2018

Com a chuva constante, retorno eu, o blogueiro inconstante


Sim, dei um tempo. De quase tudo: sumi de círculos culturais, evitei redes sociais tanto interativas quanto reais, me ausentei de reuniões boêmias em fins de semana prolongados, assumi a reforma de minha fortaleza da solidão (sempre invejando a super Fortaleza da Solidão do superamigo [também] alienígena Superman). Estou de luto, por meu tio Tião, que há tempos não via (e agora, agora é sempre tarde demais) e por Stan Lee (Thanos é realmente o maior vilão da Marvel: na Guerra Infinita estalou os dedos, levou o gênio criador e deixou-nos novos e velhos [e/ou novos velhos] senhores da guerra, do preconceito e da destruição. É, os titãs loucos venceram, pelo menos por enquanto, por infinitos por enquantos...) Estou (ou estava mais) cansado, com uma prolongada ressaca do fim amargo das últimas – agora velhas - eleições (por mais que declarem que a direita vai ser boa, que darão um rumo no país [na verdade, estou usando educados eufemismos – a maioria vitoriosa falou que eu “vou ter que engolir” e/ou “aceita que dói menos”], sempre fui canhoto a minha vida inteira, não consigo acalentar tal otimismo e as notícias mais recentes sempre me lembram previsões pessimistas de tempo como “ventos fortes  à direita empurram uma massa de ar frio à sua região fronteiriça à esquerda para o precipício do velho oeste”). Estou tão à flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar (por isso, ando evitando também quaisquer novelas rs). Há vitórias sim – outros concursos literários nos quais meus filhos poemas, contos e aldravias se consagraram, outros concursos literários em que meus queridos poetalunos se classificaram e brilharam – mas precisei dar um tempo.
Não, não dei um tempo de tudo. De quase tudo. Que é diferente de tudo: continuo sonhando e, consequentemente, escrevendo (apesar do quase ‘suicídio’ do blog por falta de atualizações, sempre pensei nele durante esse tempo ocioso, buscando vontade, pois material  lírico não falta), continuo assistindo a filmes e a séries, continuo fazendo caminhadas esporádicas com mamãe, continuo trabalhando e pensando em educação o tempo quase todo, continuo amando Valença, Teresópolis e lugares que nem conheci, continuo amando – mesmo que nem sempre expresse – as pessoas com suas perfeitas imperfeições, a arte, a humanidade, a vida – principalmente a ‘vida loka’ mesmo quando não a pratico -, continuo lendo como se não houvesse amanhã (terminei o excelentíssimo livro de contos “Curva de rio sujo”, do mato-grossense Joca Reinners Terron, com seu universo nortista lírico que mistura o maravilhoso, encantador com o violento, aterrador e desafiador; viajei pelo velho oeste do Jonah Hex da ‘Era de Prata da DC’ [finalmente consegui adquirir a um preço acessível – estou meio falido, mas imensamente realizado! - as primeiras edições dos gibis que a Ebal publicava em formatinho colorido nos fins da década de 1970; acompanhei as aventuras e desventuras do recém ressuscitado [na época] Oliver Queen das histórias em quadrinhos  do “Arqueiro Verde” pré Novos 52 [são histórias básicas de super herói, mas trazem um algo mais tocante que chega a ‘soluçar’ o coração]; passeei  com olhos hesitantes pelo pavoroso “Arkham, Inferno na Terra”; retornei ao gibis clássicos de Capitão América, Luke Cage, Thor e Cia Marvelísitica [Stan Lee, Jack Kirby, Simonson forever!], emocionei-me com a nova versão de Fabio Coala para o dinossauro Horácio de Maurício de Souza, reli o fodástico “Hurulla”, de Cleyton InLoco, retomando aquele ambiente mágico e ao mesmo tempo violento, etc etc etc [sim, li mais – e, principalmente quadrinhos, pois são mais fáceis de revezar com as correções de provas e redações – que respirei nos últimos tempos).
Sim, já dei um tempo de quase tudo, pois dar tempo de tudo demanda tempo e desistência demais. E não, não posso deixar de dar um tempo de quase tudo de vez em quando; já me ocorre naturalmente – num mundo acelerado e atropelador como o nosso dar um tempo é uma resistência, uma rebeldia necessária pra quem curte nadar contra a corrente ao menos de vez em quando. Só que dar um tempo já deu e é hora de voltar. E volto hoje ao blog com um miniconto inédito, escrito há pouco (pra ser mais exato, ‘recém improvisado’ para a volta).
Saiu meio piegas e bastante improvisado, mas espero que gostem. Amo vocês, amigos leitores, suas preocupações e despreocupações, e lamento nem sempre corresponder à altura (é que sou meio babaca com pouca coragem pra ser completamente sincero e me autodeclarar um completo babaca – e insensível ao alheio de vez em quando). Boa leitura do novo miniconto, abração e Arte Sempre!

Longa chuva de inverno nos dias curtos da primavera que outrora sonhara com os braços quentes, efêmeros e distantes do verão 
(ou A chuva e Hemo)

                Enquanto os Outros xingavam o mau tempo, o silêncio melancólico de Hemo sorria.
A natureza sombria, inconveniente aos Outros, permitia que os olhos de Hemo se libertassem e derramassem sem culpa as suas angústias.
Com a chuva constante e companheira, Hemo não precisava mais disfarçar as lágrimas represadas pela solidão partida em uma vida inteira.



Meu filho-poema selecionado na Copa do Mundo das Contradições: CarnaQatar

Dia de estreia da teoricamente favorita Seleção Brasileira Masculina de Futebol na Copa do Mundo 2022, no Qatar, e um Brasil, ainda fragiliz...