domingo, 25 de março de 2018

Karina Silva, uma garota, um poema (alguém que como eu ama Nirvana e Ramones)

Hoje esbarrei com a artistamiga Luana Cavalera e ela me lembrou de que hoje é um dia muito especial: é dia em que os deuses da poesia comemoram mais um aniversário de vida da fodástica artistamiga Karina Silva. Isso me fez lembrar de como ando atribulado e esquecido (como pude me esquecer de tão importante data?), me fez lembrar de que não vejo minha amiga e parceira lírica há tempos, de que há tempos não realizamos os outrora tradicionais e undergrounds Saraus Solidões Coletivas, de que há tempos não escrevia; o aniversário de Karina me fez lembrar de mil coisas líricas e bonitas que há tempos eu esquecia.
Por isso, o poema de hoje é dedicado a ti, Karina, e a todas as musas líricas que nos salvam do esquecimento da poesia que resiste a crueza atarefada do dia a dia. Feliz aniversário, Karina, comemoremos com poesia!

Uma garota que, como eu, ama Nirvana e Ramones

Seus cabelos são vermelhos
Como os de Sonja, a Guerreira,
Como os da Viúva Negra,
Como os da andróide rebelde e confusa
De Ghost in the Shell.
Ela é todas as musas ruivas e fatais
De um paraíso nerd inabalável.

Já foi cavaleira de famoso reino zodiacal,
Já foi aventureira do universo espectral,
Já transpôs todas as barreiras entre o mundo físico e o astral.

Não ouse invocá-la sem cachaça e violão.
Não lhe ofereça carne ou corrupção.
Deixa a natureza fluir
Em seu coração,
Ame gatos, cães e urubus
E terá sua benção.

Ela é uma canção reggae com guitarras grunges em kamikaze distorção,
Ela é a neta mais querida do homem que nasceu há mais de mil anos atrás,
A defensora de Atenas e da liberdade de lutar e sonhar,
É uma garota que, como eu, ama Nirvana, Ramones e a coletiva solidão,
É minha amiga Karina, heroína, musa, rainha,
Estrofe inédita repetida
Por coros de anjos loucos que defendem dos frutos proibidos a libertação,
Ela é a paz contida
No olho de um sereno  furacão,
Ela é um poema tranquilamente aflito,
Cujos versos lindos sempre me trazem a salvação.

sábado, 10 de março de 2018

Neve Quente no Verão Chuvoso de minha Existência: Balada de inverno para minha mãe biológica Barra do Piraí


Há pouco estive andando (virtualmente, claro) pelo facebook e li uma mensagem de meu pai, Carlos Fernando, me lembrando de que neste dia 10 de março comemoramos o aniversário de Barra do Piraí/RJ, minha cidade de origem.  Hoje é outro sábado chuvoso (parece que escolhi bem em fazer uma espécie de recolhimento nesse fim de semana como fiz no anterior), não estou com a menor vontade de sair, alterno meu tempo entre correções (a vida de professor já é árdua – mais árdua ainda é a do de Português, Redação e Literatura – pelo menos os textos e avaliações que ando corrigindo têm sido ótimos, ufa!), assistir séries que eu curto (encerrei a maratona de temporadas de “Better Call Saul” [sim, aquela do advogado que aparecia em “Breaking Bad” – sabe como é, uma série puxa outra, etc] e as de super-heróis da DC do canal CW [ok, é meio supernovelinha, mas o prazer de ver os meus heróis favoritos dos quadrinhos em live action, ah, não tem preço, curto muito]),  ler um pouco e ouvir música, alternando novos e velhos CDs como David Bowie, Nirvana, Caetano & Gil, Pitty, Paralamas do Sucesso, Pearl Jam, Zumbis do Espaço, Biquíni Cavadão e Lana Del Rey (sim, meu gosto é mais rock, mas ouço de quase tudo um pouco). Bem, e o que isso tem a ver com o aniversário de Barra do Piraí, a cidade onde nasci? Não sei, mas parece que o clima, o momento, tudo contribui para que eu compartilhe hoje o meu único poema que fiz para a cidade que me originou.
Minha relação com Barra do Piraí sempre foi meio que a do filho pródigo: passei a infância por lá, a base de minha formação inicial foi lá, mas os momentos mais marcantes passei em viagens para a vizinha Valença (onde depois residi na adolescência, juventude e início da fase adulta e onde descobri a poesia, a arte escrita, tornando a Princesinha da Serra minha principal cidade afetiva), entre outros lugares; retornei à cidade natal nos anos 2000 para trabalhar e , um tempo depois, cursar Letras na Ferp-UGB (ou seja,  a cidade me deu a formação básica e a universitária), fiz muitos amigos, fui em bons shows lá, tenho boas lembranças das duas fases em que vivi lá, mas sempre que pude escapei para as cidades dos arredores e as mais distantes. Havia algo entre Barra do Piraí e eu que não se solucionava: havia poucos espaços culturais, raros interesses, momentos e lugares para eu realizar eventos artísticos, que é uma das coisas que mais amo fazer. Esse fato contribuiu para dar uma pitada de amargura (daquele tipo santo da casa não faz milagre) em nossa relação.
O poema que posto hoje “Balada de inverno para minha mãe biológica Barra do Piraí “ foi publicado em meu 9.º e mais recente livro “O Nada Temperado com Orégano (Receitas poéticas para um país sem poesia e com crise na receita)” (2016) e foi escrito nesse processo de idas e vindas à cidade – sempre considerei esse poema em um estado meio de incompletude, mas ficou assim mesmo, talvez sua completude seja parecer incompleto. Esse poema já deveria ter ido para a panela do meu quinto livro “Eu & Outras Províncias – Progressos e Regressos” (2008), por mais que fosse um corpo estranho no livro que mais homenageio minha cidade afetiva Valença, mas não ficou pronto a tempo. É quase um poema-resposta aos queridos amigos barrenses (queridos mesmo, sem ironia – amo demais meus amigos da cidade onde nasci, cresci e, após um hiato, voltei e me formei professor de Português) que me cobravam em minha poética uma identidade mais barrense (esta acabava ficando meio oculta em meu lirismo pelo fato-mágoa de jamais ter conseguido desenvolver um projeto lírico sólidaona cidade onde nasci). O poema é quase que um confessionário de culpas e desculpas entre a cidade onde nasci e eu, sempre mais identificado com Valença, e traz um tempero inédito, com versos-molhos antigos conservados em novos olhos-óleos, um gostinho a mais no mexido de moshs mesclados outrora mantidos no armazém do esquecimento.
Feliz aniversário, Barra do Piraí, cidade onde nasci, Arte Sempre e boa leitura, amigos leitores!

Balada de inverno 
para minha mãe biológica 
Barra do Piraí

É tarde, Barra do Piraí...
Surpreendo-me envelhecido,
irreconhecível em teu colo frio
nesta noite de calor.
Apresentas-me a tua nova pele pálida,
tuas novas máscaras geladas
de dama enrugada pintada de lua nova
na noite de gala de volta ao nada,
ainda exibindo a face cortada por trens agora privatizados
que continuam atravessando sua pele pública
e cansada das lidas diárias.
A maquilagem não apaga tua inusitada frigidez ardente,
impassível Barra do Piraí,
apenas renova minhas antigas tristezas
de querer ser teu e parecer nunca te pertencer
- fiz vários poemas para ti, mas tu nem viste,
preferiste o barulho das fábricas, o crescimento do comércio,
enquanto meu lirismo adormecia em teu descrédito
a poemas de filho biológico criado em horizontes estrangeiros...
Somos conhecidos, convencidos,
fingidos estranhos, musa mãe muda mudada Barra do Piraí,
e por isso essa saudade de reuniões familiares que tivemos,
mas não aproveitamos
e por isso essa tempestade plácida de pedra que nos amolece,
somos um mundo de palavras não ditas,
um ciclo de travessias incompletas;
és minha identidade turva,
como as águas de nosso rio Paraíba do Sul
e eu sempre te nado de volta, Barra do Piraí,
mas continuamos afogados nesse ir e vir,
cúmplices culpados pelo crime de não nos admitir,
ouvindo um ao outro,
mas sempre fingindo não nos ouvir.
É tarde, Barra do Piraí,
mas continuamos aqui,
tu próxima distante em mim
e eu conservando traços que nego,
inegavelmente vindos de ti,
por isso essa balada agridoce de paixão amarga,
por isso essa volta desengonçada,
por isso nos reencontramos aqui,
eu também te amo, Barra do Piraí,
pode ser tarde pra dizer,
mas é sempre tempo de sentir.
É tarde, nós sabemos,
mas ainda é tempo, há tempos, há tempo, Barra do Piraí!


A mais que fodástica arte escrita de Camili Chermouth, em prosa e verso


Yeah, amigos, retorno ao blog hoje, dia 9 de março,  um dia após o Dia Internacional da Mulher (e antes que os trouxas machistinhas reclamem perguntando qual é o Dia Internacional do Homem, informo que tal data existe no calendário da ONU desde 1999, mas, evidentemente, com menor repercussão: é dia 19 de novembro – além do Dia do Homem, outra data pouco divulgada sem comemorações ou feriados, comemorado no dia 15 de julho, desde 1992, por iniciativa da Ordem Nacional dos Escritores). Nesse retorno ao blog, devido à proximidade com o Dia Internacional da Mulher e lembrando da imensa variedade de jovens artistas mulheres, compartilho hoje minhas solidões poéticas com a mais que fodástica artistaluna Camili Chermouth, da Escola Municipal Alcino Francisco da Silva, na região rural de Teresópolis/RJ.
Lecionei Português na turma de Camili por apenas 1 bimestre, quando ela estava no sexto ano (hoje está no 9.º), por conta de carência de professores da minha disciplina naquele período. Foi uma hora extra abençoada, afinal conheci muitos artistalunos talentosos que iniciavam o longo e árduo caminho da segunda fase do ensino fundamental e, mesmo que tenha sido um breve período, já era perceptível a dedicação e talento de Camili Chermouth para as tarefas da escola e para a arte escrita (ela foi um dos destaques – ainda em fase de amadurecimento, claro - na produção textual de lendas urbanas, atividade que propus e apliquei na época). No ano passado, devido aos saraus realizados na escola, mesmo não dando aula na turma dela, tive o privilégio de conhecer diversos textos dela (crônicas, prosas poéticas e poemas), uns apresentados como destaque pela Professora Flavia Araújo e outros que me foram entregues pela própria autora para que eu avaliasse seu potencial – é claro que, com isso, ela foi uma das artistalunas de destaque de 2017 nos saraus da Escola Municipal Alcino Francisco da Silva.
Nesta postagem, compartilho dois textos – uma crônica/prosa poética refletindo sobre o amor e um poema indignado com o mundo no qual [sobre]vivemos (perceberão logo que a jovem e talentosa artistaluna tem preferência por temas nos quais ela possa explorar melhor o estilo lírico-filosófico) -, ambos de superagradável leitura e de uma visão de mundo muito poética e madura.
Nos fascinemos, amigos leitores, com a mais que fodástica arte escrita em verso e prosa de Camili Chermouth!

A dor de um amor

            Amar dói, mas amar é bom. Por mais que doa, a gente sempre acaba amando, se apaixonando; por mais que tudo dê errado, nós sempre corremos atrás, lutamos e, às vezes, é bem em vão, por isso que dói, machuca. E assim o amor às vezes nos divide ao meio, em duas pessoas. E assim parece fácil, mas não é: a indecisão é bem dolorosa, é difícil de decidir o certo, a quem seguir, de quem cuidar e a quem demonstrar carinho e amor. Um dia isso vai acontecer com você e você irá entender, parece uma bobagem, mas não é, é um problema bem grande.
            Estou há algum tempo nessa situação, numa divisão amorosa delicada, como “uma rosa cheia de espinhos tentando não machucar o cravo”, ou seja, tentando não magoar as pessoas, tentando não feri-las, aí você para pra pensar: o que você faria no meu lugar?
            E você sabe que não sabe o que fazer. Mas fazer o quê? O jeito é esperar e seguir aquele velho ditado: “O tempo resolve tudo; ele é o melhor remédio”.
(Camili Chermouth)




Que mundo é esse?

Igualdade, qual significado?
Respeito, qual significado?
Amizade, qual significado?
Respeito, qual significado?

Que mundo é esse?
Onde nada anda tendo sentido,
Onde ninguém tem importância?
Que mundo é esse?
Que cor da pele difere caráter,
Que situação financeira define posição?
Me explique, por favor:
Que mundo é esse?

Não entendo o porquê
De tantos pré-julgamentos,
Tantos males sem nem sequer motivos,
Onde igualdade não existe,
Respeito muito menos,
Amizade virou uma inimizade qualquer,
Onde quem demonstra sai magoado...
E o caráter, onde fica nessa bagunça?

O que é caráter pra você?
É apenas uma coisa?
São várias coisas?
Pra mim, o caráter é e sempre será
Uma das maiores qualidades de alguém!

Quem tem caráter não sai por aí
Apontando o dedo
Para dizer malfeitos,
Quem tem caráter ama,
Cuida, tem respeito,
Defende a amizade
E respeita a igualdade!
(Camili Chermouth)



Meu filho-poema selecionado na Copa do Mundo das Contradições: CarnaQatar

Dia de estreia da teoricamente favorita Seleção Brasileira Masculina de Futebol na Copa do Mundo 2022, no Qatar, e um Brasil, ainda fragiliz...