terça-feira, 5 de abril de 2022

Solidões compartilhadas: A perfeita simetria do mais que fodástico poema "Assimétricos", de Maria Eduarda Fernandes

Maria Eduarda Fernandes,
a premiada poeta de "Assimétricos"
Há eventos em nossas vidas que a gente vai adiando indefinidamente sem nem bem saber o porquê. As publicações neste blog – que, no plano inicial, deveriam ser quase diárias – são um exemplo disso: têm sido cada vez mais esporádicas e não sei explicar o porquê (preguiça, desânimo, loucura, surto, desinteresse, cotidiano atarefado demais, insatisfação, mais loucura, falta de inspiração, desleixo e descuido, projeto deixado de lado em detrimento a outros emergentes, irritação com os áridos novos velhos tempos a ponto de provocar imprevista inércia nas ações, cansaço existencial, não sei: são tantos motivos que se tornam motivo algum; um caso explicado pela falta ou excesso de explicação). A postagem de hoje tem a ver com isso: hoje, finalmente, após um longo atraso (os mais que fodásticos poetamigos Renato Galvão, Raquel Leal, Gisele Pacheco e outros tantos que me confiaram seus escritos passaram e/ou passam pelo que retrato, assim como muitos de meus escritos), finalmente, compartilho minhas solidões poéticas com a mais que fodástica Maria Eduarda Fernandes.
Em 9 de novembro de 2019, na II Felivre,
 ao lado da mais que fodástica poetamiga
Maria Eduarda Fernandes e de
Neusa Magali Carvalho, diretora
do polo da Cederj em Volta Redonda/RJ
Conheci Maria Eduarda no segundo dia da II Felivre, organizada pelo Cederj-VR, no setor azul do Estádio Cidadania, em Volta Redonda/RJ, em 9 de novembro de 2019 (uma pequena digressão aqui: na noite anterior ao momento que nos conhecemos, no término de minha louca e cansativa baldeação Teresópolis [partindo direto da escola na qual trabalhei de manhã] – Sapucaia – Três Rios – Volta Redonda para chegar aos arredores do local do evento na véspera do dia em que fui convidado pra participar da Feira [no caso, parei em Califórnia de Barra do Piraí, onde fui visitar minha tia – e descansar, pois a viagem é bastante extenuante], no ônibus de Três Rios x Volta Redonda, numa daquelas coincidências líricas que, se estivesse em um filme, todos desconfiariam como falha/facilitação de roteiro, meu assento foi reservado ao lado de Eduardo Pereira de Azevedo, que eu não conhecia, mas que, durante o bate-papo, soube que era escritor, havia ganhado o 1.° lugar no Concurso de Poesias Cederj e participaria naquela noite da cerimônia de premiação na II Felivre [noite em que não estive presente no evento, pois estava completamente exausto]. Não vi mais o Eduardo, mas tive a honra de conhecer, no dia seguinte, a iluminada Maria Eduarda Fernandes, que conquistara o 3° lugar no mesmo certame literário que ele. Por maravilhosos e líricos encontros assim que torço por mais edições da Felivre – e que eu tenha oportunidade de curtir novamente o evento). Digressão realizada, retornemos ao dia seguinte: no dia 9 de novembro, enquanto expunha meus livros na II Felivre, Maria Eduarda aproximou-se, conversou comigo e observou a minha camisa que fazia referência à Alice no País das Maravilhas. A partir desta observação dela, antes de conversarmos mais, imaginei hipóteses que logo quase e confirmaram: deve cursar Letras (na verdade, cursa Pedagogia, mas as áreas são compatíveis) e tem poder de observação – e olhar brilhante – de escritora. Aparentava uma felicidade imensa e contagiante por estar presente na Feira Literária (mais uma hipótese logo confirmada: é fã de eventos culturais e literários). Contou-me, com orgulho (merecidíssimo, como poderão constatar ao lerem o mais-que-magnífico poema dela), que fora contemplada com o 3.º Lugar no Concurso de Poesias Cederj. Citou também residir em Teresópolis/RJ (mais uma vez, se fosse filme, iriam achar que mais essa coincidência seria conveniência de roteiro [além do fato de, enquanto eu acompanhava a página da Cederj – Polo Volta Redonda – já havia lido a lista dos poetas vencedores do concurso literário – até porque o Paulo Caruso, que conquistou 2.º lugar, era um grande mestre poetamigo meu, com quem estabelecia contato frequentemente -, logo, o nome dela não me foi estranho no momento em que ela me contou sua brilhante conquista literária). Fiquei encantado com a personalidade irradiante de lirismo de Maria Eduarda Fernandes, foi ‘amizade à primeira prosa poética’, o que tornou ainda mais especial a minha já superpositiva participação na II Felivre (lembrando: atenção, organizadores dos eventos culturais da Cederj, precisamos de mais edições de eventos culturais fodásticos como este).
Depois de 9 de novembro, conversamos esporadicamente por WhatsApp, e, assim, tive contato com o mais-que-fodástico poema premiado de Maria Eduarda Fernandes, intitulado “Assimétricos”. O poema apresenta, em versos livres (ou seja, diversos como o tema que aborda) e ritmicamente harmônicos, ao mesmo tempo que diversificados (novamente, observem: conteúdo e forma se abraçam no premiado escrito lírico), a beleza da assimetria na diversidade de nosso povo. Cabe destacar a intencional ausência de padrões de rima, com o uso principal de rimas imperfeitas (quando há correspondência, mas não igualdade, de sons), esporadicamente intercaladas com rimas perfeitas (em que há correspondência total de sons, havendo repetição tanto dos sons vocálicos como dos sons consonantais), mas, neste último caso, também intencionalmente pobres quanto ao valor (quando as palavras que rimam pertencem à mesma classe gramatical), o que mantém um ar de espontaneidade e simplicidade, aspectos tão caros ao tema diversidade proposto pelo poema. Também vale ressaltar a variação de uso de versos [di versos] transbordados com hipérbatos (quando há inversão da ordem natural das palavras de uma oração) na maioria das estrofes, intercalados esporadicamente com versos que seguem a ordem mais natural da oração (sujeito-verbo-complementos), mais uma vez, apresentando, de forma genial, a diversidade tanto na forma quanto no conteúdo. Como vocês sentirão, o efeito da leitura - tanto superficial quanto profunda - do mais que fodástico poema de Maria Eduarda Fernandes é de supernatural maravilhamento diante do magnífico escrito lírico.
Diante da obra prima de Maria Eduarda Fernandes, logo lhe pedi para publicar o poema no blog, solicitação aceita e correspondida pela autora. Mas eis a novela das postagens: envolto em dramas como eu já citara logo no início e que não sei explicar, tenho publicado muito pouco e muito inconstantemente neste espaço lírico coletivo. O mais que fodástico “Assimétricos” foi muito injustamente adiado diversas vezes para as raras postagens que publico nos últimos tempos. Mas hoje, nestes dias iniciais de úmido outono, de folhas melancolicamente caindo e da natureza se renovando, enquanto dança entre climas indefinidos (ora garoa, ora breve calor, quase frio, quase quente, quase sempre quase sendo pleno em sua diversidade), finalmente, faço minha reparação e, hoje – finalmente! -, compartilho minhas solidões líricas com o poema “Assimétricos”, de Maria Eduarda Fernandes. Tenho certeza de que vocês, prezados e atenciosos amigos leitores, irão, como eu, adorar o mais que fodástico poema de Maria Eduarda Fernandes.

Assimétricos
Maria Eduarda Fernandes


Em versos digo
Diversos somos
Assimétricas rimas
Em vidas, em sonhos

De tantos cantos
Fluindo
Abrilhantando

Nossas histórias
Tem muitas cores
Misturas santas
De nossas peles
Diversos são
Nossos amores

Andamos por aí
Apenas humanos
Sem padrões a cumprir

Um olho não vê
Mas a mão afaga
Alguém não te escuta
E outras línguas fala

São versos e flores
Nesta melodia
Diversos sabores
Estes que te espantam

Viva a liberdade de crer
Ou não crer

Além da palavra
A que é dita santa
Ecoam lamentos
De canaviais
Ressoam tambores
Girando nas saias
Brincando nas praias
De tantos Brasis.

Quadro "Operários", de Tarsila do Amaral,
um das mostras mais emblemáticas
da diversidade do povo brasileiro.


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