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Rayssa Ribeiro atualmente |
No domingo passado, foi Dia das Mães e, devido às minhas muitas idas e
voltas por Valença x Teresópolis (incluindo uma desventurosa passagem do ‘especial’
e superatrasado ônibus da Viação Util Valença x Rio [o tal ‘especial’, marcado
para as 16:30h, pasmem, saiu bem depois do 17h – pra ser mais exato, às 18:05h,
o tradicional serviço privado {frisando bem no privado, tão cultuado pelos
defensores do atual governo} desta viação de ônibus, que como tantas outras,
não trazem o menor apreço e respeito com seus passageiros consumidores]),
somadas às tarefas frenéticas diárias e a necessidade de procrastinações esporádica
diante da rotina estafante, acabei dando mais uma vez um tempo do blog. Mas a
postagem de hoje vai compensar toda espera, amigos leitores, pois hoje trago
duas crônicas de uma das mais formidáveis cronistas que passaram pela Escola
Municipal Alcino Francisco da Silva, da região rural de Teresópolis/RJ. Seu
nome é Rayssa Ribeiro, e, nos tempos em que cursava o nono ano do ensino
fundamental (pra ser mais exato, em 2014), ela se destacou por sua prosa
fluida, com sensibilidade lírica tocante, emocionante.
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Rayssa Ribeiro com a mãe Valéria Souza |
A primeira crônica de Rayssa Ribeiro, que publico hoje no blog, foi
intitulada “Costureira do Infinito” (o título e as poucas revisões gramaticais
foram minhas pífias interferências neste maravilhoso texto, de lirismo único),
datado de 15/07/2014, é uma poética homenagem da escritoramiga à sua mãe, Valéria Souza,
captando, de forma divinamente poética, o dia a dia materno na profissão de
costureira. Na época, tentei mandar a crônica dela para concursos literários
juvenis nacionais e internacionais, mas, infelizmente, na época, não houve
nenhuma opção de concurso de crônicas com tema livre na categoria da idade dela
(há muitos concursos literários para a idade dela em verso, mas em prosa são
raríssimos [quando aparecem, são regionais, específicos de uma cidade ou Estado
do qual não fazemos parte]). A versão completamente revisada ficou guardada
comigo, no formato original e também em arquivo doc por longo tempo perdido no caos
de memória que é o meu notebook e, com a passagem do Dia das Mães e proximidade da Festa da Família na escola,
retornou às minhas lembranças.
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Rayssa Ribeiro
nos tempos da escola |
“Costureira do Infinito” merece ser lido por muitos leitores, assim
como a crônica bônus seguinte, “As coisas invisíveis desse lugar”, também de Rayssa
Ribeiro, onde a genial cronista traz seu
olhar lírico para tudo que ela via durante o trajeto da escola para casa. Na
época, a crônica foi a selecionada da turma para disputar a seletiva para a
Olimpíada de Língua Portuguesa de 2014, representou a escola, mas não foi a
escolhida pelo júri no município, fato que não
invalida a exuberância lírica e genialidade do escrito da talentosa
cronista.
Viajemos pelo incrível universo lírico de Rayssa Ribeiro, amigos
leitores, e conheçamos a espetacular Costureira do Infinito e as líricas coisas
invisíveis desse lugar!
Costureira do Infinito
Cheguei em casa e
comecei a observá-la. Lá estava ela no mesmo lugar, sentada, trabalhando em
suas máquinas, costurando como todos os dias.
Fiquei ali parada,
observava cada movimento. Ela se deslocava para outras máquinas em apenas um
segundo, trocava linhas e começava de novo o mesmo trajeto.
No decorrer do
dia, a campainha tocava mais de mil vezes, eram muitas pessoas diferentes com
roupas diferentes trazendo mais trabalho para a costureira. E ela ali, parecia
gostar de repetir todo aquele trajeto, nunca reclamava, apenas costurava.
Ah, minha mãe,
queria ter uma disposição assim como você para fazer algo que nunca tem fim!
Rayssa Ribeiro
As coisas invisíveis desse lugar
Voltando da
escola, comecei a reparar em tudo, tentando encontrar as coisas que ninguém vê
no lugar onde moro. A pedido do professor, comecei a pensar o que eu poderia
falar do lugar onde vivo.
Quando cheguei em
casa, me sentei e, com a janela aberta, fiquei observando a rua. Pessoas
passando, cachorros latindo, portas se abrindo e se fechando, como acontece
todos os dias, parecia até que eu estava me relembrando.
Logo a frente,
vejo uma barraca e, nela, um homem maqueta sentado, sempre na mesma posição,
sem nada pra fazer, parece meio triste, meio sem rumo, sem destino.
A rua é
movimentada e possui um nome meio estranho. Morro Agudo é o nome dela e parece
mais uma viela. Rua sem vida e sem criatividade.
Com o tempo tudo
passa e, como aquele homem manqueta, fico sempre aqui, sentada, pensando e
esperando a rua evoluir, mas isso não acontece.
Tentando encontrar as coisas invisíveis que o professor pediu, eu
continuo sentada aqui a esperar...
Rayssa Ribeiro