quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Elegia a Erli Gabriel


Faz um tempo (mais uma vez) que eu não venho aqui. O fim de recesso escolar foi um período acelerado: muitas conquistas, muitas transformações, shows vibrantes, boemia necessária depois de um primeiro semestre bastante tenso, participações culturais marcantes e perdas. Sim, por mais que digamos não, somos seres humanos, falíveis e mortais: não nos acostumamos, mas convivemos com grandes perdas. Parafraseando o meu antigo poema “Árvores que morrem” (de meu terceiro livro “Note or not ser”), cada noite que vivemos é um dia que morremos. E, neste período de recesso escolar, a perda foi imensa, capaz de abalar o tradicional “levantar-se e seguir em frente” – é difícil caminhar, os pés ficam pesados a cada passo, quando perdemos alguém tão especial quanto Erli Gabriel, esposa do mestre mais que fodástico artistamigo Gilson Gabriel, eterna anfitriã das festas líricas e boêmias da Quinta das Bicas, maravilhoso quintal da casa do casal e abrigo de momentos marcantes do Sarau Solidões Coletivas, das conversas poéticas, dos movimentos socioculturais, da alegria mais espontânea e mais infinita. A aura de Erli Gabriel sempre transmitiu felicidade inebriante, sendo capaz de sublimar quaisquer dores do corpo e da alma. Mulher guerreira, amiga das boas causas e incentivadora da poesia mais bonita dentro de cada um nós, Erli Gabriel agora descansa em algum lugar especial, deixando a palavra saudade com um significado mais cortante e dando às boas lembranças um sentido mais infinito.
O enterro de Erli Gabriel, na triste tarde de 26 de julho foi um momento difícil, pesaroso. Durante o período em que se velava o corpo de Erli Gabriel, a divartistativistamiga Ana Vaz, com aquele ar lírico observador único que ela possui, percebeu que o bem-te-vi da Capela Mortuária cantava sem parar, enquanto Erli se despedia sem se despedir. Meu coração estava enlutado e abalado demais; naquele período eu nada vi nem percebi além da grande comoção que a perda de uma grande amiga nos deixou. Ao fim do enterro, Ana Vaz me contou sua observação e isso me lembrou mais Erli que a comoção anterior: o canto do bem-te-vi mesmo no momento triste era mais o jeito feliz e poético do espírito de Erli lidar com as coisas mais dilacerantes que toda – apesar de infalível – onda de tristeza na qual nos mergulhávamos.
Logo depois do enterro, caminhei pela estrada de Cambota – tenho esse lance meio “Forrest Gump” (a diferença é que eu ando, enquanto o personagem do famoso filme corria) de, meio perdido, sair andando meio sem rumo certo, apenas caminhar pelo desejo de não parar até que a exaustão traga um paliativo para as dores, um certo cansaço vazio. Durante o caminho, me deparei com bem-te-vis e o comentário de Ana Vaz e o desejo de registrar a partida de Erli Gabriel de uma forma que fosse triste, ao mesmo tempo que feliz, pois ela era alguém sempre de bem com a vida e um poema carregado apenas de tristeza não traduziria o espírito livre, sutil e alegre dela, intensificou-se a tal ponto que, como raras vezes fiz, escrevi uma elegia a Erli no celular enquanto caminhava indiscriminadamente para lugar nenhum (prefiro sempre parar e escrever à mão ou em frente ao computador  – sim, mesmo diante das inovações tecnológicas, sou um poeta quase primitivo; uma prova disso é insistir no blog, apesar de tal plataforma virtual estar quase que completamente ultrapassada por outras modas virtuais -, raras são as vezes em que escrevo um poema em celular; o texto abaixo talvez seja o terceiro ou quarto, sendo que, por sinal, o anterior fora escrito após uma marcante festa na casa de Erli e  de Gilson Gabriel).
A elegia que escrevi a Erli chega atrasada ao blogue, mas mantém o desejo de eternizá-la liricamente. Fiquei dias adiando a postagem, hesitei, mas o blog sempre foi um registro de minha trajetória lírica e essa perda foi marcante; por mais que evitasse, precisaria em algum momento registrá-la nesse espaço lírico virtual que me serve meio como um diário solitário coletivo.
Como declarou Ana Vaz: “Voou nossa Erli!! E cantou a manhã inteira o bem te vi!”
Também cantemos, amigos leitores, cantemos que a nova ave poesia eterna Erli gostava de canto, de festa, de vida, mesmo que sofrida, mesmo diante de tantas esperanças e vidas perdidas.

Elegia é canto triste que em ti sorri
Para Erli Gabriel in memoriam ad infinitum
(E inspirado na lírica observação de Ana Vaz)

A música
ainda que triste
te sorri.
Vem cantar
pra ti
à capela
da capela
o bem te vi:
ó abre alas
abre asas
ave Erli.

2 comentários:

  1. Nossa...LINDO o poema!
    Certamente levou contentamento à Bela Erli.


    Sempre penso nesse paradoxo (pra mim) da tristeza x beleza.

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  2. Meu nome é Lucy carvth Johnson , do Canadá, quero dizer ao mundo rapidamente que existe um verdadeiro feitiço on-line que é poderoso e genuíno. Seu nome é Drigbinovia. Recentemente, ajudou-me a reunir meu relacionamento com meu marido que me deixou. Quando entrei em contato com Drigbinovia. , ele lançou um feitiço de amor em mim, e meu marido, que disse que não tinha nada a ver comigo, me ligou e começou a implorar para eu voltar. Agora ele está de volta com tanto amor e cuidado. Hoje tenho o prazer de informar que este conjurador tem o poder de restaurar um relacionamento rompido. porque agora estou feliz com meu marido. Para quem lê este artigo e precisa de ajuda, Drigbinovia também pode oferecer qualquer tipo de ajuda, como curar todos os tipos de doenças, casos judiciais, períodos de gravidez, proteção espiritual e muito mais. Você pode contatá-lo através de seu e-mail doctorigbinovia93@gmail.com chamada ou adicioná-lo no WhatsApp com o seu número de telefone +2348144480786

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