sexta-feira, 4 de maio de 2018

O Abraço Mais Quente para o Eterno Retorno, a minha Volta ou a Volta dos que jamais foram


Faz um bom (ou mau?) tempo que não venho aqui (mais uma vez sumido, mais uma vez...). Os motivos são diversos, o amigo leitor pode até escolher: um período contemporâneo estranho, cheio de extremismos e imensos vazios, que me afastou da poesia cotidiana; o cansaço; um certo bloqueio criativo; crises existenciais repentinas; estranha sensação de breve tristeza infinita como agulha fina e invisível perfurando o corpo e a mente lentamente – há um turbilhão de problemas que quase todo ser humano anda passando e eu também, eu talvez com mais intensidade, talvez não (sem medições; somos tendenciosos a sempre julgarmos sofrermos mais que os outros e está todo mundo no mesmo circo de horror, revendo as mesmas terríveis atrações: queda de valores humanos, terror do violento cotidiano, temor diante da involução humana, corrupção, carga de trabalho sempre acima da nossa capacidade, solidão na multidão composta por indivíduos que assim como nós sente a mesma sensação, etc, etc).
Passei várias vezes pelo blog, pensando em como recomeçar: desabafando? Desabando? Ignorando o sumiço? Criando outra persona? Deixando pra lá? E assim o tempo, ser workaholic  que não se deixa abalar para os dramas dos mortais ao seu redor, seguiu seu percurso acelerado e nada de eu, nada de recomeçar as postagens.
Porém, contudo, todavia,  quando nos pegamos completamente perdidos, numa frágil fortaleza de solidão, numa estranha ilha deserta sem mar ou areia, a arte nos resgata, nos chama pelo nome; super-herói mais poderoso, mesmo sem poderes e com tendências anti-heroicas, a arte sempre nos salva. Desta vez, veio pela mensagem amiga, via whatsapp: a divartistamiga Helene Camille me relembrou de um conto meu que sempre foi o seu declaradamente favorito entre os meus escritos: o “Amor é fogo que arde sem se ver” (sim, o título é uma irônica referência a um soneto de Camões) e me mostrou uma versão em curta metragem dele que ela produzira, com o apoio de artistamigos dela, conforme poderão conferir na descrição que ela fizera ao postar o vídeo (e que eu reproduzo na íntegra mais abaixo nesta postagem).
Diante da maravilhosa e lírica homenagem a um conto-filho meu, finalmente achei uma motivação, uma desculpa pra retornar ao blog. Compartilho nesta postagem minhas solidões poéticas com Helene Camille e todos os demais artistas envolvidos na produção do curta. Para isso, trago o conto-filho inspirador e a fodástica versão cinematográfica idealizada e produzida pela divartistamiga Helene Camille.
Em resumo: estamos de volta aos diários de solidões coletivas, amigos leitores! Espero que gostem desse novo eterno retorno!

Amor é fogo que arde sem se ver

                Cego pela solidão que se arrastava pelos móveis, espalhou álcool sobre a mesa fria, sobre o sofá antiquado, sobre a biblioteca de livros empoeirados, sobre o guarda-roupa de sobretudos guardados para encontros que não se consumaram.
                Acendeu o fósforo e, com olhos de criança travessa, observou as chamas consumirem a casa.
                Pela primeira vez, o triste homem sentiu calor. Feliz com o sentimento inédito, acendeu um cigarro e deitou-se de olhos fechados no chão incendiado.

“O Abraço mais Quente”:
O curta de Helene Camille, inspirado no conto “Amor é fogo que arde sem se ver”

Comentário de Helene Camille sobre o curta metragem:
“É uma das minhas mais recentes experimentações na vida é o cinema. Não como espectadora, mas como produtora kkkkkkk. Não bastando isso, ainda arrasto meu aluno-ator, Gabriel Pompeu, com seu talento mais do que comprovado no teatro, sob a batuta de meu queridíssimo Fernando Mattos. Contudo, a qualidade da imagem não é uma das melhores porque minha câmera fotográfica está completamente obsoleta, o que não dá ao meu ator o brilho que ele merece. Este então é a minha primeira obra: O Abraço mais Quente", tem exatos 59s, pois o exercício que o curso que o Laboratório Kumã, da UFF, propôs para os alunos que filmássemos um "Minuto Lumier" em homenagem aos irmãos Lumière. Então adaptei o microconto "Amor é fogo que arde sem se ver", de meu amigo valenciano, Carlos Brunno S. Barbosa, para a telinha minúscula de minha NIKON amada com o a ajuda luxuosa de Mirela Cesária e da queridíssima Carla Verônica Cesaria.”

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