terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Meu poema premiado, cheio de amor pelas causas perdidas: O sarau fracassado de Dom Quixote aos olhos de Sancho Pança, seu único espectador

Há uns dias atrás, na postagem anterior a este, trouxe ao blog o conto “Camila,Camila”, de minha autoria, premiado na Categoria Prosa com o 2.º Lugar no Concurso do GREBAL 2017 e publicado na Coletânea Prosa e Verso XX. Pois é, já foi gloriosa essa conquista literária, mas a alegria só começara... Hoje posto no blog o poema “O sarau fracassado de Dom Quixote aos olhos de Sancho Pança, seu único espectador”, premiado na Categoria Verso com o 3.º Lugar no mesmo Concurso do GREBAL 2017 (tanto o conto quanto o poema estão na Coletânea Prosa e Verso XX, que pode ser baixada no site do GREBAL: http://www.grebal.com.br/ ).
O poema “O sarau fracassado de Dom Quixote aos olhos de Sancho Pança, seu único espectador” é uma homenagem ao livro “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes (por sinal, uma curiosidade: é a segunda vez que faço um poema me referindo a Dom Quixote e, nas duas vezes, fui premiado – o primeiro [“Celeiro Dulcineia”] foi premiado em concurso da Academia de Letras de Maringá/PR, em 2011, e pode ser lido na primeira postagem deste blog, que possui o seguinte link: http://diariosdesolidao.blogspot.com.br/2011/07/celeiro-dulcineia.html ), uma crítica lírica aos eventos culturais cada vez mais carentes de público e, ao mesmo tempo, uma ode não convencional aos artistas quixotescos que resistem e insistem em realizarem saraus, mesmo nos períodos de trevas (sim, sou eu Sancho Pança lúcido eu pessoa comum olhando eke Dom Quixote eu poeta insano).
O poema premiado é dedicado, principalmente, aos meus familiares, ao Sarau Solidões Coletivas e Mestre-Poetamigo Grebalista Eternamente Lembrado J. M. Lago Leal (in memoriam), que sempre apoiaram minhas lúcidas insanidades líricas. Também registro como inspiração a canção “Dom Quixote”, da banda de rock gaúcha Engenheiros do Hawaii, que possui o belíssimo refrão: “Por amor às causas perdidas / Tudo bem, até pode ser / Que os dragões sejam moinhos de vento / Tudo bem, seja o que for / Seja por amor às causas perdidas”.
A luta pela arte continua, amigos leitores! Espero que gostem do poema, assim como a Comissão do Concurso Prosa e Verso XX do Grebal gostou! Boa leitura e Arte Sempre!

O sarau fracassado de Dom Quixote aos olhos de Sancho Pança, seu único espectador

Por que declamas tão alto para as paredes, se elas não te ouvem, incansável poeta?
Elas não te entendem e, mesmo se fossem gente,
se sensibilizariam com teu tão estranho ardor?
Nossos homens – aqui insistentemente ausentes – são tão paredes
que agora confundes ambos, meu louco senhor?
Fazes elos entre elas e eles pela falta de um vocábulo impessoal mais convincente
que expresse melhor essa nossa falta crescente
de ceder ao próximo um instante de amor?
As paredes – cada vez mais gente, com aquela impassividade urgente
de se manterem frígidas ao teu calor –,
as paredes – essa nova gente, tua ilusão de Maracanã lotado,
como se cada vazio espaço fosse um torcedor -,
as paredes... nem elas, nem aqueles ausentes tão insistentes
entendem esses teus versos pra ninguém, essa tua estranha dor.
Por que insistes numa epopeia se a sala vazia te despreza, indomável sonhador?
Qual mito ignorado te faz encerrar o poema declamado com um sorriso de esplendor?
Como podes ser motor gigante pra tantos moinhos de vento inoperantes,
sorridente cavaleiro andante?
Sou só eu, a falta de público e o excesso de perguntas,
enquanto desfilas como Deus entre invisíveis súditos, uma triste figura...
Consciente da tua inconsciência, choro por tua alegria aflita
que preenche a rotina da ausência, a eterna falta de um espectador.
Aplaudo teu sonho suicídio tão cheio de vida, enquanto teus olhos de iludida turmalina
enxergam esmeraldas no sarau vazio, na caverna pobre e sem brilho.
Como podes fazer minha mente rocinante, outrora domada pelo deserto dominante,
ser alagada por mares incertos de ilhas distantes
e como podes fazer de mim, outrora Sancho Pança cheio de desesperança,
novamente uma boba criança, teu mais fiel admirador?
Como consegues, neste mundo sem viço, trazer-me sempre uma lágrima, um cisco
deste teu ingênuo delírio, meu glorioso perdedor?

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