segunda-feira, 4 de abril de 2016

Noite e dia nos teus olhos (Cantiga cazuzística de escárnio amigo)

Depois de um breve período de ostracismo programado (às vezes a gente precisa dar um tempo, né), estou de volta, amigos leitores! E, como hoje seria o 58.º aniversário do mais-que-fodástico cantor Cazuza, posto para os amigos leitores – pela primeira vez, na íntegra no blog - o meu “Noite e dia nos teus olhos (Cantiga cazuzística de escárnio amigo)”, poema que faz parte do meu oitavo e mais recente livro “Foda-se! E Outras Palavras Poéticas...” (2014), vencedor do Prêmio Olho Vivo 2015.
Em tempo: o poema que publico hoje teve um trecho interpretado por mim e pelo músico Zé Ricardo Maia num dos vídeos extras do “Foda-se! E Outras Palavras Poéticas... – o livro e sua história”. Aproveito para compartilhar novamente nessa postagem o vídeo citado, que foi gravado por Juliana Guida Maia na sala da casa da artistamiga Isabel Cristina Rodegheri e teve participação especial do cachorro Ozzy olhando para o horizonte.
Em tempo 2: Meus dois livros mais recentes - o sétimo, "Bebendo Beatles & Silêncios" (2013), livro terceiro colocado no Concurso "Poetizar o Mundo com livros" 2014, e o oitavo "Foda-se & Outras Palavras Poéticas" (2014), vencedor do "Prêmio Olho Vivo 2015 - Categoria Livro" - estão à venda na Livraria Veredas (Rua 14, nº 350, lj 59 - Pontual Shopping - 2.° Piso - Vila Sta Cecília. Volta Redonda/RJ) e na Cia do Livro, em Valença/RJ!!! Amigos e artistamigos de Volta Redonda/RJ, Valença/RJ e região, aproveitem a oportunidade para adquirirem já os seus exemplares!
Recomendo que leiam o poema de hoje ouvindo uma daquelas canções de amor rasgado de Cazuza (indico, entre elas, a canção “Incapacidade de amar”, gravada por Leoni, pois foi a composição inspiradora do poema).

Noite e dia nos teus olhos

(Cantiga cazuzística de escárnio amigo)

“Vê se entende, pára e senta! / Outra pessoa pode / Tirar você do bode
Mas só eu mesmo pra desculpar / Por tanta incapacidade de amar”
Cazuza e Leoni , “Incapacidade de amar”

Há noites em que teus olhos não vêem a noite.
Talvez não entendas, talvez não queiras entender,
mas estes meus versos são pra ti, não pra mim
(Aguarda que tu vais me entender).

Há noites claras, passadas, quase dias pros teus olhos.
O que brilhavam neles?
Seriam estrelas daquelas que demoram tanto
pra nascer ou pra morrer?
Ou seriam sóis, com seus calores ferozes e rotineiros,
sóis que convivem conosco e a gente finge que não vê?
Não, não irei devanear,
não me confundirei contigo, não irei me comover.
Minha dor é saber que a amargura nos mistura,
mas as dúvidas são tuas, contigo vão morrer.
Aguarda que tu vais me entender.

Se teus olhos conheciam o sol em certas noites
era ela, era tua musa aquarela alquimista
que transformava tua pedra em ouro.
Era ela sorrindo,
era ela contigo,
era ela brilhando,
era ela o porquê!
Mas, mesmo iluminado pela tarde noturna,
tu eras objetivo, ranzinza, negador do absurdo,
envolvias o sol com tua peneira de orgulho...
Estúpido! Quanto mais erguias teu gigante,
mais o calor vinha te doer.
Aguarda que tu vais me entender.

Há noites plenas, presentes, teus olhos quase cegos.
Um abismo úmido em tuas pálpebras te mostra
constelações brilhando nas ruas:
são multidões, são muitas musas,
são todas - menos a tua.
É a verdadeira noite que te procura,
a pantera solidão que te espreita,
as garras dela preenchendo a ausência da musa,
te enchendo de feridas,
é a noite - sem adjetivos.
Queres carinho? Procura na obscuridade
do vazio objetivo a te corroer!
A musa partiu, teu babaca!
E agora te resta o Nada, não há nada pra se fazer.
Nada, nada vai te fazer entender.

Ela se foi, teu babaca! Está escuro, não vês?
A minha raiva é que teus lapsos de humildade
só servem pra que ressuscites em mim
esta tua estátua figura de Cristo traído
(Por que todo homem abandonado imita o divino?
Os olhos arrependidos, a barba por fazer,
o rosto sofrido, o cabelo desgrenhado, por quê?)
Esquece a bíblia da dor, teu imbecil!
Nenhuma penitência vai te devolver a musa que partiu,
nem a noite noite, noite sem adjetivos que ela te deixou
quando te mandou pra rima que escapuliu.
É engraçado, é o humor negro da solidão
mas não sabes abraçar a falta de calor sozinho,
procuras um amigo pra te acompanhar no frio
e então profanas a minha casa
com tuas lembranças amargas;
e, novamente, vejo que te vejo quando me vejo no espelho;
que tu és eu e és tudo o que eu não quero;
que a musa passa, passa,
que tudo está sempre passando;
que a culpa é tua;
que a noite não acaba;
que nenhum sol voltarás a ver;
que contigo não quero viver!
E nem te negando, nem assim me abandonas,
ó dolorosa sósia estúpida criatura...
Não adianta, nunca vais me entender.




Um comentário:

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