sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Meu Terceiro Rock Poema em Tributo ao Queen: Deixando a Chama da Eternidade Ferver Contra a Homofobia

Segundo Rainer Sousa, em um artigo sobre o Holocausto, “nossa relação com o passado se dá de diferentes formas e, a partir da interpretação das experiências vividas, o homem passa a ditar determinadas ações de sua vida cotidiana. Geralmente, as experiências ruins são respondidas com ações e idéias que evitam a repetição de um mesmo infortúnio.” Baseado nisso, confesso, com muita vergonha, que já fui homofóbico durante grande parte de minha adolescência; eu era um daqueles adolescentes que não suportava passar ao lado de um homossexual sem torcer o nariz ou transferir um olhar de repulsa ao próximo, cheguei a presenciar cenas de extrema violência contra gays e nada fiz para deter os agressores, ou seja, em resumo, na questão tolerância e compreensão do próximo, eu fui um grande babaca. Só a partir de meus quinze/dezesseis anos, suavizei minha postura, à medida que lia livros de autores maravilhosos, declaradamente homossexuais, e ouvia as fodásticas canções de Cazuza, Renato Russo e Freddie Mercury. E a cada momento de amadurecimento da minha poesia, a vida foi me ensinando o quanto eu deveria ter vergonha de minhas atitudes preconceituosas: meu irmão é declaradamente gay e conheci todo o mal estar da homofobia ao, nas minhas idas e voltas, vê-lo diversas vezes chegar gravemente ferido em casa, alguns dos melhores artistas com quem dividi (e divido) o palco em performances artísticas são gays (por sinal, minha memória não registra nenhuma decepção com a maioria deles; sempre quando precisei de apoio artísticos, eles eram a maioria da lista dos que jamais me deixaram solitário na luta diária por uma arte mais livre; já os ditos ‘machões fodões’, nossa, são tantos os covardes que já me decepcionaram e me abandonaram perdido que até perdi as contas).
Queria que o Brasil também revisse a sua história e percebesse o quanto sua postura homofóbica é nociva ao desenvolvimento de nossa nação. Em 2013, uma pesquisa registrou que a cada 28 horas foi assassinado um homossexual. O registro de gays, lésbicas e travestis assassinados cresceu quase 15% no país nos últimos quatro anos. Com 312 mortes, o Brasil lidera ranking mundial de violência contra homossexuais. E isso ainda é incentivado pelo Estado, através de políticos eleitos e reeleitos com uma soma assustadores de votos, como é o caso de deputados federais como Jair Bolsonaro (PP-RJ), Marco Feliciano (PSC-SP) e integrantes da chamada Banca Evangélica do Congresso. Muitos candidatos a presidente ou a outro cargo do nosso país mantêm a escandalosa “homofobia institucional” como um tabu, como um assunto a ser evitado sob ameaça de perda de votos. O Brasil não aprendeu, não quer aprender, mantendo-se assim também no posto de nação com maior índice de analfabetos funcionais do mundo, pois lemos todas as letras de nossa história, temos acesso a toda essa trágica informação, mas preferimos não entender os significados, nos mantemos na incômoda posição de acomodados com a ignorância, seguindo o pensamento besta do “pior do que está não pode ficar”.
Ao meu passado vergonhoso, devo sempre a “exorcização” de todos os pecados que cometi, principalmente o de ter passado tanto tempo de minha existência de uma forma intolerante, completamente babaca. Quando a cantora, minha artistamiga Carina Sandré, mais uma vez me convidou para participar da nova edição em tributo ao Queen, que acontecerá amanhã, dia 20/09, às 21 h, no Teatro Gacemss II, em Volta Redonda/RJ, e me solicitou mais uma subversão poética, desta vez, da canção “Who wants to live forever”(nas edições anteirores, fiz uma para “Bohemian Rahpsody” e outra para “Under Pressure”, ambas postadas aqui no blog), encontrei mais uma possibilidade de expurgar liricamente toda minha tolice do passado. Para isso, subverti o conteúdo a letra da canção, respeitando, como sempre, mais o ritmo que a canção em inglês pode gerar numa leitura em português dela, mas, dessa vez, mantive algumas mensagens implícitas da composição original. Na minha subversão poética, o eu lírico homossexual dialoga com seu amado e mostra suas angústias e esperanças contra um mundo que constantemente agride e rejeita a preferência sexual do casal. Tem diversos versos que relembram episódios tristes de nossa história contemporânea: a famigerada proposta de ‘cura gay’, a intolerância de diversos grupos religiosos e a violência crescente contra os homossexuais. Mas, como a melodia de “Who wants to live forever” pede, tentei dar aos versos finais voz a uma melancólica porém resistente esperança de meu eu lírico homossexual. Não sei se dei conta do recado, mas aí vai para a apreciação e crítica dos amigos leitores. Mais uma vez, agradeço a artistamiga Carina Sandré pelo belo e rico desafio poético que ela mais uma vez me ofereceu; se hoje tenho algum destaque no meio artístico de Volta Redonda/RJ, devo à confiança e à ousadia dessa cantora, a mais líricas das divas brasileiras, em juntar poesia e música num espetáculo intenso e brilhante que só ela sabe organizar e fazer.
Quem quiser conferir a declamação ao vivo e se extasiar com o mais-que-fodástico show de Carina Sandré, não esqueça: o evento acontecerá amanhã, dia 20/09, às 21 h, no Teatro Gacemss II, em Volta Redonda/RJ. O show deve continuar, sempre lírico, evitando os infortúnios de nossos piores passados. Abraços, Arte Sempre e Homofobia Nunca Mais!  

Como a chama sobrevive se não ferve

Vivemos tempos ferozes
Onde ninguém olha por nós
E seria tão simples nos ver belos assim
Ao invés de quererem nos reformar...

Como a chama sobrevive se não ferve?
Como alguém sobrevive nessa neve?

Não deram chance alguma pra nós
Os sádicos decidem tudo por nós
E todos eles resolvem atirar suas torrentes
De maldade em nós.

Como a chama sobrevive se não ferve?
Como a gente sobrevive se nos ferem?

Como? Se nos destinam as piores preces?

Como? Se todos querem nos matar?

Oh, troque o sermão triste por essa canção livre
E toque minha dor com seus lábios felizes
E manteremos tudo aquilo que nos ferve
E sobreviveremos a toda e qualquer neve
Toda e qualquer neve vai derreter!

E a chama ainda sobrevive mesmo contra a neve!
E a gente sobrevive mesmo quando não querem!
Toda e qualquer neve vai derreter!
E a gente vai sempre sobreviver…



2 comentários:

  1. MA RA VI LHO SO !!!!!!!!!!!!!! Além de corajosa a confissão! Perfeito!

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  2. Que a chama de ser vc continue se propagando...!!!Seja qual for a sua opção sexual,não deixem apagar a chama da sua personalidade!!!

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