quarta-feira, 9 de julho de 2014

Poema dos 7 a 1 (Sete estrofes contra e uma a favor)

O amigo leitor deve ter reparado que o poeta-blogueiro que vos fala não fez postagens ontem. Alguns devem ter pensado: “foi por causa do jogo do Brasil contra a Alemanha”, etc, Bem, foi e não foi. Me explico: como ontem havia o jogo da Seleção Brasileira, não houve aula, e há tempos estou enrolado com muito trabalho (provas, redações, etc.), afinal, além de blogueiro-poeta, sou professor-pateta. Aproveitei o máximo do tempo de folga pra diminuir a quantidade de material a ser corrigido (a pilha de tarefas nunca acaba, ai, ai).
Claro que, na hora do jogo, ou melhor, do sacode, da goleada humilhante que a Seleção Brasileira de Futebol tomou da Alemanha (ai, ai, 7 a 1 – eu avisei antes aqui no blog que viria desgraça pra nossa torcida, mas jamais imaginei tamanha coça). Ameacei postar algo após o jogo, mas nossa torcida, em sua maioria, estava bastante atônita e, somando a impaciência nacional costumeira quando o assunto é leitura, decidi não postar nada ontem; aceitei o período de omissão escrita (ou melhor, de silêncio sem postagem) e continuei a pôr em dia as produções tetuais dos meus escritoralunos, etc. Mas é claro que uma goleada histórica e tão esmagadora não passaria em branco pelo blogueiro que vos fala.
Assim, no meio de meus afazeres, o gênio criador me pentelhou e tive que conceder alguns minutos de ontem para a produção de um novo poema, que, refletisse sobre a goleada que nossa seleção levou e, ao mesmo tempo, sobre a farsa de que os jogos da Copa do Mundo e o time brasileiro eram oferendas fantásticas dadas a todo o povo brasileiro (poucos tinham condições financeiras de chegar perto da seleção e muito menos poucos populares puderam ir ao estádio, assistir ao desastroso jogo de perto). Para homenagear os 7 gols que levamos, resolvi fazer uma subversão poética do “Poema de Sete Faces”. Em homenagem ao gol de honra da nossa seleção, acresci uma oitava face, uma oitava estrofe à favor da sobrevivência do sonho (mas, sem essa seleção, cruz credo) através de nós mesmos e da poesia que trazemos em nós.
Fica o recado poético louco para os amigos leitores: agora é erguer a cabeça e bola pra frente (que bola pra trás nós já levamos de sobra, me perdoem a infame piada final)!
Seja na mais sofrida vitória ou na mais escandalosa derrota, seja qual for o momento, amigos leitores, Arte Sempre!

Poema dos 7 a 1 (Sete estrofes contra e uma a favor)
(ou Paráfrase obscura e famigerada – quase paródia noir – do “Poema de sete faces”, de Carlos Drummond de Andrade, inspirada na histórica goleada que a Seleção Brasileira de Futebol levou da Alemanha nas semifinais da Copa do Mundo de 2014, no Brasil)

Quando nasci, um anjo de pernas tortas,
desses que nunca jogam bola,
disse: Vai, Carlos! ser gandula dessa gente rica.

Os estádios espiam os jogadores
que correm atrás de um objeto redondo.
A torcida talvez fosse mais colorida,
não houvesse tanta miséria.

O bonde da torcida passa cheio de pernas:
pernas brancas brancas quase todas brancas
(as pernas de outras cores, em sua maioria,
não tinham dinheiro pro ingresso
e tiveram que assistir ao espetáculo
às margens da vida).
Para que tanta perna branca e rica
manchando de alvura o espaço
que deveria ser colorido, meu Deus,
pergunta meu coração cidadão.
Porém meus olhos críticos
já sabem a resposta..

O homem poderoso atrás do bigode
é mal educado, violento e alucinado
quando torce e quando manda em você.
Grita com todos
Tem poucos, raros amigos
o homem poderoso atrás dos óculos e do bigode
reproduz para os jogadores
toda sua ordem e desordem
diante de seus funcionários.

Meu Deus, por que abandonaste
o time daquele homem poderoso e grosseiro,
se sabias que ele, metido a Deus,
descontaria o fracasso em cima de mim, que sou fraco
e dependente do salário que esse demônio me paga
com tanta lamúria.

Copa do Mundo Vasta Copa do Mundo,
se jogasse o meu amigo faminto Raimundo
seria um time igualitário, não seria injusta a Seleção.
Copa do Mundo Vasta Copa do Mundo
mais vasta é a desigualdade social.

Eu não devia te ver , oh Seleção Ilusória
de jogo tão individual e mesquinho,
mas esse frenesi coletivo
mas toda essa pajelança de propagandas
enganam qualquer pobre diabo como eu.

E, após a derrota desse time de brasileiros
que não me veem,
finalmente posso dormir
sem esse sonho coletivo pré-fabricado
Após a humilhante derrota desse time de brasileiros
tão estrangeiros,
finalmente eu posso voltar a sonhar comigo mesmo,
com meu verdadeiro povo,
com a musa esquecida
(sim, é nesses momentos da inglória coletiva
que um homem pobre de dinheiro, mas rico de fantasias
precisa reencontrar sua poesia,
mesmo que seja apenas uma rima,
mesmo que não seja a solução...)

Carlos Brunno S. Barbosa

Do meu livro que jamais foi publicado “Nenhuma Poesia e Outras Nenhumas Coisas Com ou Sem Rima” (Copa do Mundo de 2014)


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