domingo, 29 de setembro de 2013

Poemas femininos: O pretérito perfeito daquele beijo

Tudo bem, eu me rendo: o entusiasmo de minha namorada, da minha mãe, do mundo inteiro com o beijo de Fabinho e Giane, par romântico da novela “Sangue Bom”, me contagiou. Confesso que não assisti ao espetacular beijo no momento em que ele foi exibido, mas minha namorada fez questão de me mostrar o vídeo. Acabei assistindo à cena duas vezes, sendo que a segunda vez foi por iniciativa minha.
Sei que alguns leitores me dirão que fiquei maluco, que me entreguei ao sistema por divulgar lances televisivos e novelas globais, sei que dirão que meu blog é brega e blá-blá-blá, blá-blá-blá, e minha resposta será a mesma que sempre utilizei: foda-se, os diários de solidões poéticas desse blog são coletivos e falar de coletividade envolve também a breguice nossa de cada dia, inclusive os sonhos que temos com a beleza das cenas das novelas, tão entretenimento, tão vazias de racionalização e tão nossas, e todo poema de amor consiste na sapiência de não temer as breguices de todo poema de amor.
Esse poema de amor (que, sei, muitos esculacharão) entra para o meu grupo de poemas com eu lírico feminino e parte do olhar da personagem Giane. Foi escrito na emoção das horas e assim deve permanecer e ser publicado.
Que todo pretérito nos venha perfeito como aquele beijo, amigos leitores!

O pretérito perfeito daquele beijo

E você estava num canto escuro, perdido consigo mesmo,
chorando com as trevas que o mundo lhe deixou,
e, mesmo escondido, encontrei você
e sua tristeza era tão infinita
que até a minha aridez a sua lágrima consumia
como se fosse uma tempestade,
como se toda sua amargura chorasse em minha vida,
e, mesmo com medo, eu me aproximei
e lhe disse: eu acredito em você
e lhe disse o que nunca havia dito pra ninguém
e você ergueu seus olhos
e eles estavam tão vermelhos, tão sangrentos, tão intensos,
que eu vi você,
como um cego que enxergasse o mundo pela primeira vez,
eu finalmente vi você
e a sua imagem me entonteceu
e naquele agora só havia você e eu,
nas cinzas das horas só você e eu,
e então, cheio de certezas hesitantes, você se ergueu
e seu corpo abraçou o meu
e você tremia, como animal que temesse a sua própria natureza,
e eu também tremia, como predador que aprendesse
que também pode ser presa,
e seu rosto tão perto do meu,
tão lindo, tão único, tão seu,  
e sua boca tão próxima da minha,
tão trêmula, tão perigosa,
e sua boca mais próxima,
e eu, sempre tão vigilante, baixava minhas guardas,
como ditadura que esperasse o guerrilheiro libertador,
e, num impulso violento, você me beijou
e eu aceitei, como carcereiro que entregasse as chaves
ao prisioneiro,
e o universo que desmoronava às nossas costas
se reconstituiu
e depois novamente ruiu
e então desapareceu
e assim desapareceram também toda solidão,
toda culpa e todo zelo,
e nós nos despimos dos nossos próprios medos,
como chamas que se aproximassem pra evitar o gelo,
e naquele beijo, você era eu
e eu não temia mais não ser mais eu,
pois eu também era você
e naquele agora minhas lembranças ficaram,
nos ponteiros das horas os relógios pararam
no pretérito perfeito daquele beijo
e depois dele nada mais conjuguei direito,
porque todas as pessoas agora são você e eu,
eu você,
você eu,
nós sem medo.


28 comentários:

  1. Não achei brega, achei super excitante! Mas se és brega, não será sozinho: somos! rsrs

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    1. Yeah, faremos o Clube dos Bregas Super Excitantes Unidos, Raquel! rs

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  2. Olá! Adorei o poema! Acho que você expressou de forma perfeita os sentimentos dessa personagem e também os nossos ao vermos essa cena. Me tornei admiradora tua. Vou ler teus outros textos também! Um abraço!

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    1. Puxa, valeu mesmo, Queila! Fico feliz de ter conseguido expressar os sentimentos dessa cena tão intensa! Espero que goste do blog; a intenção é que ele seja essa solidão coletivas que todos nós carregamos dentro de nós!

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  3. Amei amei amei, viva a cafonice nossa de cada dia!!! Ficou lindo de viver!!!!!!! Te amo!!!!!

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    1. Rs Amar é também amar o que o outro ama! Te amo demais e esse poema não é tão meu quanto teu.
      Parafraseando Coríntios e Renato Russo, mesmo se eu falasse a língua dos anjos, sem ti minha poesia nada seria...

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  4. Parabéns, cara. Você é observador demais. Por uma cena já conseguiu capturar toda a personalidade das personagens. Tem muito talento. Continue assim.

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    1. Valeu o elogio, Jenifer! A cena pediu toda minha observação. Muito, muito obrigado pela força! Me anima a escrever cada vez mais! Arte sempre!

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  5. amei, adorei, adorei, nao o achei brega e verbalizou os sentimentos dos personagens e o que nos enquanto pessoas que viajam nesse mundo de fantasia sentem. obrigada

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    1. Valeu, Tatiana! Era exatamente isso que eu queria captar: essa nossa viagem sentimental que o mundo de fantasias nos proporciona. Obrigado você e força sempre!

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  6. Nossaaaaaaaa, eu tava pensando que não tinha como eu amar mais a cena, daii eu li o poema e consegui amar a cena mais ainda, ficou muito perfeito, eu vou mostrar ele pra todo mundo que eu conheço kkkk ficou lindo

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    1. Uau! E eu não pensei que agradaria tanto os amigos leitores com meu poema-impulso-de-sentimento-exposto! Fico muito, muito feliz em ler seus elogios e espero sempre poder corresponder e expressar com arte o que nos traz amor, paixão, sentimento à flor da pele! Arte sempre!

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  7. Cara, que perfeição! Já era completamente apaixonada pelo casal fabinho e giane, mas agora sou ainda muito mais! E olha só, depois dessse poema indescritível, tô apaixonada pelo blog também! Fabine é vida! IN LOVE sz '

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    1. Puxa, e eu fiz meio que por impulso e emoção do momento! Valeu por dedicar um pouco de paixão pelo blog e farei de tudo pra que o blog corresponda aos seus sentimentos.

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  8. Expressou PERFEITAMENTE o sentimentos de TODOS!!!

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    1. Valeu a força, Fabiane Santos! Espero continuar sempre podendo expressar dessa forma esse sentimento coletivo que chamamos de AMOR!

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  9. Poesias não são bregas, são sentimentos expressados, a alma do poeta em letras, versos e estrofes, que tocam o coração de quem lê!
    BJOS
    Lena

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    1. Yeah, valeu mesmo, Lena Lopez, é sempre bom receber uma nova opinião, um novo conceito para o velho e eterno gênero poesia! Bjs!

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    1. Uau, tô me segurando aqui pra meu ego não inflar!rs Valeu, valeu mesmo pelo elogio!

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  11. Respostas
    1. E amei demais ver mais que gostaste do poema - ver tantos comentários por aqui deixa o "Diários de Solidões Coletivas" mais coletivo!

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  12. Respostas
    1. Como disse na resposta ao comentário anterior, também amei demais ver mais alguém que gostou do poema - espero conseguir sempre manter a qualidade do blog e deixar o "Diários de Solidões Coletivas" sempre tão coletivo!

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  13. Cara , incrível !
    A forma como você interpretou ... nossa , parabéns !
    Ganhou uma seguidora cara !

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