sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Zoando com I-Juca Pirama: A saga de I-Muleke Piranha

Outro capítulo importante em minha viagem pelos caminhos poéticos de Gonçalves Dias foi ter visto a grande festa popular com a tradicional dança do boi na noite do dia 11 de agosto, em Caxias/MA. Foi um momento de pura alegria, todos dançavam, sorriam, poesia viva! Destaco nesse capítulo da viagem o poetamigo baiano Marcelo Moreira, que dançara empolgadíssimo durante toda a celebração festiva a Gonçalves Dias. O poetamigo comprovara que o povo de Salvador nasce com uma mola no corpo – a música rola e eles se requebram completamente entregues ao ritmo.
Na manhã seguinte, parodiando os versos da maldição do pai em “I-Juca Piranha”, popular poema indianista de Gonçalves Dias, brinquei com Marcelo:
“Dançaste em presença do boi maranhense?
Filho da Bahia não és!”
Marcelo Moreira, todo azul
A partir destes versos, durante o percurso de Caxias para Guimarães/MA, resolvi dar mais substância lírica à brincadeira poética e continuei a paródia que eu iniciara. Dentro do poema-paródia coloquei o termo indígena icrá de brincadeira, pois ele significa filho, logo a expressão usada no primeiro verso significa “filho do filho”, já usada por Gonçalves Dias em seus poemas indianistas. O nome do ‘guerreiro’ de minha saga-paródia é inspirado no nome de um popular funk carioca. Também brinquei com neologismos e rimas pobres - resumindo, esculhambei o pobre coitado do poema I-Juca Pirama original. É propositalmente e simpaticamente tosco, traquinagem poética despida de sarcasmo e contente com a folia de toda a galera festiva que canta, dança e é feliz.
Com e para vocês, “I-Muleke Piranha”, o meu inédito poema-paródia ‘baiacarienense’, para ler declamando, dançando e sorrindo, liricamente feliz:

I-Muleke Piranha
Dedicado ao poetamigo Marcelo Moreira

Filho do Icrá do Pai de Iemanjá,
I-Muleke Piranha seguiu
Os caminhos de Caxias
Com um destino compromisso:
Espalhar sua baianice
Por todo o Maranhão
Até bem próximo do Pará.

Foi fiel escudeiro de Salvador
Durante toda a jornada
Até esbarrar na folia festiva
Do boi dançador de Caxias:
Não aguentou a tentação,
Largou toda a baianada
E dançou como toda gente
Do Maranhão.

O Icrá do Pai de Iemanjá,
Diante da pajelança dançante,
Chamou I-Muleke Piranha
E, ainda descrente da cena,
Deserdou o jovem baiano perdido:
“Dançaste em presença do boi maranhense?
Filho da Bahia não és!”
A festa adormecera por um momento
Em I-Muleke Piranha:
Sentiu-se perdido,
Todo Salvador nele vazio,
Ameaçou-se dar por vencido...

Mas eis que um axé tocou
E I-Muleke Piranha dançou
Como nenhum outro baiano ousou
E todo Salvador lhe retornou!
Triunfal, marejado de suor e amor,
O jovem I-Muleke Piranha descansou,
Como o mais bravo guerreiro da Bahia,
Como o maior dançarino de Salvador!

      

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