quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Poema Jazz do café que jazia sobre a mesa na qual minha cabeça adormecida despertava para a insônia dos sonhos que jamais sonhei

Um dos momentos mais especiais que guardo pra sempre na lembrança de meu passeio pelo 40.º Salão de Humor de Piracicaba/SP foi ter encontrado o fodástico cartunista Alex Sander, de São José do Rio Preto/SP.
Dono de uma aura inspirada e reluzente como há tempos eu não via, Alex Sander me deu a oportunidade de conversar sobre o universo dos cartuns independentes, do blues rock (ele toca baixo em uma banda fodástica chamada Motocircus – já ouvi tantas vezes o álbum dos caras que meu vizinho já deve ter decorado a melodia rs) e da literatura (principalmente, sobre o universo kafkiano, do qual somos fã-náticos). Consequentemente, tive, também nesse intercâmbio artístico, o privilégio de conhecer um pouco mais da arte mais-que-fodástica de Alex Sander. Levei para casa duas de suas obras: a história em quadrinhos musicalmente impecável “Gibi Jazz” e a “Memórias de um cartunista” (que, em breve, receberá também uma postagem exclusiva). Quem quiser conhecer um pouco mais da arte de Alex Sander, recomendo o blog deste fodástico cartunista, aí vai o link: http://burraxa.blogspot.com.br/
Reservo parte da noite para minhas leituras e, ontem, deixei um pouco de lado as páginas do romance “Por quem os sinos dobram”, obra-prima do escritor estadunidense Ernest Hemingway, para ler as imagens da HQ “Gibi Jazz”. É incrível como essa obra de Alex Sander, recheada de fodásticos desenhos, leva nossos olhos, quase pausados para a escrita (a revista quase não possui linguagem verbal, ou seja, fala mais – e muito eficientemente bem -  com imagens que com palavras), a um show mágico de jazz visual, iniciado por um silêncio kafkiano e soturno do cartunista, entremeado por notas de sonhos, que nos levam para a explosão final de uma trilha sonora de desenhos brilhantes que tocam, dançam e embalam a nossa visão carente de sons. Sim! As páginas do gibi “Gibi Jazz” trazem música pra os olhos! É como se, à medida que folheamos suas páginas, o melhor do jazz tocasse em forma de imagem os toca-discos esquecidos em nossos globos oculares. Dá aquela sensação boa de nostalgia pela canção de jazz jamais ouvida.
Foi inspirado nesse “Gibi Jazz” e nas múltiplas sensações visuais-sonoras-instintivas que a HQ de Alex Sander proporcionou aos meus olhos, que me nasceu a visão do poema abaixo, recém-escrito, tocando jazz com sonhos que não tive, mas que sei que existem.
Pra ler folheando as palavras e tirando sons do nada, amigos leitores!         

Poema Jazz do café que jazia sobre a mesa na qual minha cabeça adormecida despertava para a insônia dos sonhos que jamais sonhei

Foi naquela caneca de café sem o toque dos meus lábios
que me toquei que os sonhos me procuravam
e eu não sabia...

Eu não sabia que delírios viviam no café que não tomei.
Eu não sabia que os sonhos me bebiam
enquanto eu cochilava diante da caneca de café que eu deixei...
Eu não sabia, mas agora sei.

Sei que eu poderia ser um personagem de Kafka
dormindo na face intacta
de um livro que ele não escreveu.
Sei que os sonhos vivem nessas páginas que não li,
nessas palavras que não escrevi,
nesses desejos de outro eu.

Enquanto meu corpo jazzia
entre a escuridão de uma música jamais ouvida
e a clara neblina de outra insônia interrompida,
os sonhos gritavam canções de um jazz desconhecido,
um toque novo de Hermeto Pascoal em meus ouvidos,
lá estou eu percorrendo uma estranha estrada,
rumo ao caminho mais lindo do meu nada!

Enquanto meu corpo jazzia,
minha imaginação cantava o inaudível,
desenhava o indescritível
e o invisível dançava na dose de café que não tomei.
Antes eu não ouvia,
antes eu não cria,
antes agora é só uma fantasia que eu outrora criei.

Antes a partitura adormecia nos olhos que só sabiam ver,
e agora, com os olhos cegos, eu consigo ler
todas as notas silenciosas que nunca enxerguei.
Agora, mesmo dormindo, eu acordei
e toquei, na rotação de um tempo perdido,
o acorde inesquecível de um jazz que jamais toquei.

Agora, assim perdido no completo,
sentindo o longe tão perto,
agora sim eu vivo desperto
nesse oculto descoberto
dentro do saboroso café que não provei.

O vídeo acima traz um dos "Discos Inspirações" do "Gibi Jazz" e foi a trilha sonora que ouvi enquanto elaborava o poema   

Um comentário:

  1. Eu só tenho agradecer...estou emocionado. Meu muito obrigado, Carlos Bruno. Realmente lhe conhecer foi uma energia única fico muito contente de ter este sentimento do seu amigoartista, Alex Sander.

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