sábado, 27 de julho de 2013

Solidões ébrias compartilhadas: A oração embriagada de Vinícius Morais

Nesse período de visita do Papa e protestos, o blog comemora o retorno do poetamigo cearense Vinícius Morais às Solidões Compartilhadas. Depois de muito tempo em misterioso silêncio, o poetamigo retorna com sua visão poética e ébria de Deus. Compartilho hoje seu fodástico poema destilado de religiosidade e melancolia existencial, que me lembrou muito os poemas de Álvaro de Campos, heterônimo do poeta português Fernando Pessoa.
O pródigo e louco eu lírico solitário de Vinícius Morais retorna ao blog com uma oração bêbada, amigos leitores!

Meu Deus - esse deus que é, de fato, meu
Por que estou a te invocar se estás sempre comigo?
Por que levanto as mãos para o céu
Se é ao meu lado que ficas?
Ah, meu Deus meu
Perdoa esse bêbado que conheceu mulher aos 13
Se isso for reprovável
E eu acredito que não...
Cura a ressaca que ele teve aos 10
E a fome imensa que experimentou primeira vez aos 17.
É só um simples bêbado
Cambaleante, que não acerta o meio
Que não acerta nada
Que não mira nada
É só um vai e vem que não volta
E nunca para...
É um carrossel abandonado de um parque abandonado
É um banco abandonado de uma praça abandonada
É o próprio abandono...
Ah, Deus! que também é dele
O mesmo deus...
Olha que ele cai, mas levanta
Vê que ele levanta, mas não equilibra
E deixa assim mesmo: torto
Penso como seus pensamentos tortos
E deixa sempre um dos lados mais para o lado
E deixa tudo como está
E deixa tudo
E vai embora...
Ah, Deus! que nunca está no centro
Deus que está sempre ao meu lado
E que eu chamo olhando para cima
De quem imploro perdão sem ter o que me perdoe
Deus que está nos parques e nas praças
Nos carrosséis e nos bancos de praça
Que está na queda do bêbado
No tropeço do cambaleante
Deus que levanta e que cai
Deus que está nessas linhas tortas
Nesses versos desmedidos e assimétricos
Deus de quem não falo mais...
Ah, bêbado! esse bêbado que sou
Que tropeça a cada passo
Que sempre pende para um lado
Que, lúcido como todo bêbado, perdoa os próprios delírios

Ah, cambaleante! Perdoa os meus tropeços...


2 comentários:

  1. Olá Carlos! Sua poesia é um emaranhado de belezas e solidões. Adorei! Um lindo find pra ti!

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  2. AH!!Deus perdoe por amar esses versos cambaleantes...!!Eles me fazem sentir que bebado sou nas entrelinhas das avenidas,e nos assentos de mureta!!!
    lindo!!!

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