quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Em vão, como a canção Refrão de Bolero: Triste fim dos amantes do círculo polar


Nesta postagem, dou uma pausa no psicodelismo e retomo meu fanatismo por grandes filmes, pelo amor, pela efemeridade do mundo que nos envolve de amor. Como já disse em postagens anteriores, descobri um blog fodástico chamado Sonata Prèmiere, uma espécie de locadora cult on line, onde tenho conseguido, junto de minha namorada Juliana Guida Maia, ver e rever todos os grandes filmes que sonhei e que são de pouquíssimo acesso nas parcas prateleiras das locadoras reais, que sempre preferem o imediatismo dos blockbusters (filmes pops, quase sempre de conteúdo básico e popular, feitos para agradarem grandes públicos, quase sempre menos exigentes quanto a qualidade intelectual da obra). Numa dessas pesquisas ao blog, encontrei o romântico filme espanhol “Os amantes do círculo polar” (desde já, recomendo que passem no blog que eu citei, baixem e assistam ao filme, antes que eu lhes revele algumas partes importantes do filme) e o escolhi pra Ju e eu vermos ontem à noite, pensando ingenuamente que a obra cinematográfica traria uma leve e poética história de amor, com aqueles finais felizes dos quais estamos acostumados em filmes blockbusters (é, foi muita ingenuidade minha).
Tínhamos passado por alguns filmes pesados e tensos como o australiano “Candy” e o apocalíptico “Perfect Sense” (desculpem, mas não vou citá-lo com o infame nome dado pelos brasileiros: “Amor perfeito”). Vamos a sinopse: Otto e Ana, da infância à maturidade, se encontraram e se desencontram em diversos lugares, por uma sucessão de grandes coincidências. Seja nos encontros ou nos desencontros, eles se veem perdidamente apaixonados um pelo outro e, na tentativa de superarem um longo período que ficaram sem se ver, os dois decidem se reencontrar no Círculo Polar (onde, indiretamente, tudo começou). Vamos à capa do filme: Otto e Ana, adultos, abraçados em algum lugar do Círculo Polar. Vamos a alguns fatos interessantes: Os nomes Otto e Ana constituem dois palíndromos perfeitos (ou seja, o nome deles pode ser lido da mesma forma de trás pra frente), Otto e Ana se amam e se tornaram seres feitos um para o outro – incompletos até que um reencontre o outro, Otto e Ana pretendem reencontrarem o amor no mesmo lugar onde tudo começou. Vamos à crueldade do enredo finais: devido a mais uma série de desencontros nos momentos finais do filme, Ana pensa que Otto pode estar morto devido a um acidente de avião registrado nos jornais e acaba acidentalmente atropelada por um ônibus –  Otto, que vinha atrás dela, só pôde assistir ao último suspiro da amada. Ela está morrendo e registra em seus olhos a face de Otto. Cena de um avião enterrado na neve. Fim. Fim?
Sim, é o fim. Só então lembramos que, em uma cena, o pai diz a Otto, quando este ainda é uma criança, que a vida é um círculo e que tudo uma hora deve morrer, inclusive o amor (Os invernos rigorosos são importantes para valorizarmos as primaveras, diz seu pai). Otto criança não aceita a máxima do pai, assim como nós, espectadores, rejeitamos o cruel final dado a Otto e Ana. Ao meu lado, vejo Juliana extremamente aborrecida com o fim trágico de uma relação tão intensa como as dos dois. Entendam, amigos leitores, como o filme engenhosamente te engana: a cena mostrada na capa do vídeo não acontece no filme; o professor de Cinema Clemente, em uma pós-graduação que nós iniciamos, nos dizia que todo filme tem uma possível “redenção”, mas nesse filme não há! Ele te apresenta uma atmosfera de fantasia e amor, ora narrado por Otto, ora por Ana, e, depois de tantos desencontros, nós esperamos o encontro, mostrado na capa e ele não acontece!!! Nossos olhos brilham e depois retornam à escuridão; uma trágica história de amor acaba conosco.
Mas eu disse que o filme “engenhosamente” te engana, pois, ao rever seu início, que contém diversas cenas do final, percebo que a tragédia estava anunciada, porém o tom ameno e poético do filme nos distrai e, depois, nos destrói. É como construir o mais lindo castelo de areia, afastado do mar para que este não o desmanche, e, terminada a obra, ver um estúpido coco cair da árvore e desmanchar todo seu trabalho e cuidado! Depois de um tempo, você constata que, no local onde você escolhera criar seu castelo de areia, é comum a queda de cocos. Você constata a desgraça, mas a dor da perda é inevitável. Vi minha namorada triste, extremamente revoltada e infeliz com o final do filme, afinal eu fui o mensageiro da crueldade, o cara que baixou e escolheu o filme (que é ótimo, mas putaquepariu, o final dele detona a gente!), me fez lamentar um pouco a minha existência naqueles minutos em que os créditos finais do filme rolam na tela de fundo preto.
Em homenagem a esse capítulo muito poético e meio desgraçado da vida, do amor, do maldito do destino, do infeliz fim dos amantes do círculo polar e do reflexo do trágico nos olhos de Juliana, dedico esse poema de amor e dor, inspirado no cruel final de filme que nós vimos e baseado no ritmo da canção “Refrão de Bolero”, dos Engenheiros do Hawaii, banda predileta de minha namorada:         

Triste fim dos amantes do círculo polar 
(Em vão, como a canção Refrão de Bolero)

Eu que escolhi sem pensar,
Agora te surpreendo roendo as unhas
Frágil espectadora de um filme sem compaixão.
Mas eu escolhi sem pensar,
Emoção em vão, como avião no tórrido inverno
Com as asas congeladas pelas neves de um inferno qualquer.
Uma tentativa frustrada de te mostrar
Um daqueles filmes de doces coincidências
Que de tanta choradeira de repente também nos fazem chorar
E acreditar que o amor é um barato
E que, antes dos créditos finais na tela de fundo preto,
Todo desespero se resolve com um beijo.

O fim de Ana
Confirma que os filmes às vezes são tão cretinos, Juliana,
E refletem os destinos mais trágicos e mais sacanas.
Ah, Juliana,
Ainda vejo teu olhar brilhante se apagar diante do triste fim de Ana...

Eu que escolhi sem pensar,
Agora me surpreendo tentando voltar atrás
Frágil espectador do fim de uma grande paixão.
Mas eu que escolhi sem pensar,
Confissão em vão, como na canção “Refrão de Bolero”,
Acreditava que algo tão sincero não pudesse morrer.
Um acidente no fim e tudo pode mudar,
Depois de tantas felizes coincidências
Ana morre, Otto está só diante da morte, adeus amantes do círculo polar
E nós na sala sem estar...

O fim de Ana
Informa o quanto o destino às vezes é cretino, Juliana,
O perigo sempre ronda quem se ama
E às vezes nos perdemos em meio a tantos dramas.
Ah, Juliana,
Ainda me vejo em teu olhar triste diante do fim da luz de Ana,
Antes dos créditos finais
De um filme que eu escolhi sem pensar...




Um comentário:

  1. Você é fodástco demais!!! Adorei o poema, as palavras, o carinho, a atenção, você! Te amo, te amo, te amo!

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