terça-feira, 24 de julho de 2012

Poemas juvenis: Resgatando as primeiras solidões coletivas


Após um ano de existência do blog, retorno às gavetas da memória (o processo é um pouco doloroso, pois envolve mexer em áreas empoeiradas de meu quarto, o que entope minhas narinas, devido a minha alergia à poeira) e reencontro o primeiro manuscrito meu em que surgiu a expressão “solidões coletivas”. É um poema antigo, creio que surgido entre o final da década de 90 e início dos anos 2000 (lamento aos leitores, mas, como Quintana, dificilmente dato meus poemas, e como a protagonista do filme “Como se fosse a primeira vez”, dificilmente me lembro com exatidão da época de surgimento do poema – me lembro de como surgiu, mas raramente me recordo quando; “relógios são necrológios”, guardo esse verso do poeta gaúcho Mario Quintana como um lema). Sei que, na época, estava com uma dor de cotovelo danada, a alma em maltrapilhos e os ouvidos ensurdecidos de tanto ouvir “Meu mundo e nada mais”, de Guilherme Arantes, e “Andrea Doria” e “Os barcos”, de Legião Urbana – vocês perceberão que o poema faz citações a essas duas canções inspiradoras. Aviso aos leitores que o poema tem suas imperfeições, uma certa loucura lúcida de quem passou por maus bocados, mas vale como documento histórico de onde veio a ideia para o nome do blog e, como afirma a escritora Clarice Lispector – cujo pensamento foi reafirmado por Caio Fernando Abreu em seu livro “Ovelhas negras” (obra inspiradora do formato de meu blog, neste estilo comentário sobre a obra e depois o texto) – por que só publicar o que nos é considerado perfeitamente bom, afinal, quem somos pra julgar o que é belo, o que é bom, se todos os gostos são relativos e se toda obra literária tem seu valor de acordo com a situação e o leitor ao qual que ela é apresentada? Mesmo assim, me permiti, como leitor de minha própria obra, algumas pequenas alterações (até a Clarice e o Caio Fernando Abriu se permitiam tais correções, então por que não o faria? rs), mas a ingenuidade poética da obra ficou intacta. Que o leitor faça seu julgamento (obra publicada é obra de todos – sou o pai, mas o filho é do mundo): com e para vocês, a minha primeira vez com as solidões coletivas:

À meia noite, à meia luz

À meia noite, à meia luz,
A metade de uma escuridão
É um capítulo constante
Nas páginas da solidão.
Mas nem por isso vou me lamentar,
Nem por isso vou me lembrar de ti.
Tens tuas novas certezas,
novos olhos pra se lembrarem de ti.
Não precisas de mim, nunca precisaste,
E esquecer-te não é um fato;
É uma necessidade.

À meia noite, á meia luz,
Em meus olhos marejados,
A cidade parece um porto
De solidões coletivas,
Barcos que atracam em desertos,
Barcos que nunca se encontrarão.
Estarei delirando? Não sei...
A solidão e a loucura caminham próximas,
Difícil saber quando uma encontra a outra no meu caminho...
Só sei que estou sozinho...
Alguém desse porto de desencontros
Sabe me informar
Se posso reencontrar meus sonhos
Na seção de achados e perdidos?

4 comentários:

  1. Gostei do poema!!!
    É o sentimento de se perder depois de ter achado e perdido alguém realmente importante!!!Eu achei um otimo poema...confessional e feito para o momento que tu passou!!
    Abraço carlos!!

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  2. Me identifiquei profundamente com o que disse antes de seguir com o poema, também na minha alergia á poeira, mas mergulho no passado dos meus escritos, espirrando muito mas vou rsrsrsr
    E encontro aqueles poemas bem antigos lá para meados de 2001 ou 2002 e fico relembrando do sentimento da hora, da paisagem que me cercava naquele poema. Maravilhoso caro amigo, belo poema. E uma encantadora história que o poema carregada assim também á memória. Me emocionei me fez lembrar um poema bem antigo com a folha já bem amarela que guardo entre os meus outros. Um grande abração grande poeta.

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  3. Achei maravilhosa sua poesia, como ao colega acima disse, também me identifico muito com esta solidão coletiva...

    Forte abraço!

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  4. Eu gostei muito. Acho que em algum momento da vida, todos passamos por isso, nesse caso, esquecer realmente é necessidade. De mais a mais, nascemos só, mesmo os gemeos, e na hora ultima, assim também estaremos, mas ao longo dela, e isso faz toda a diferença, é bom quando compartilhamos. Muito bom a "seção de achados e perdidos", vou procurar lá também, embora eu já viva imersa no meu mundo mental em que os sonhos são sempre relembrados.

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