sábado, 24 de março de 2012

Poema da Esquina: Tempos em que sol e chuva beijavam tua natureza indomável

Ontem, Juliana e eu tivemos a oportunidade de vermos um tributo espetacular ao Clube da Esquina, com a banda de Filipe Torres. Pra quem não sabe, o Clube da Esquina foi um movimento musical, extremamente revolucionário, que aliava rock progressivo e psicodelia com elementos musicais brasileiros e caipiras, surgido na década de 1960, em Minas Gerais. Deste movimento, surgiram grandes nomes da música brasileira, como Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturinni, entre outros. Parte do rico repertório musical deste grupo pode ser ouvido a partir dos álbuns "Clube da Esquina" (considerado, pela revista Rolling Stone, como o sétimo melhor disco brasileiro de todos os tempos) e "Clube da Esquina 2".
Inspirado no tributo realizado pela banda de Filipe Torres e por várias audições do excelentíssimo álbum Clube da Esquina, construí meu tributo poético a esse movimento que tanto enriqueceu nossa música brasileira. O poema contém citações das canções "Tudo que você podia ser", "Cais", "O trem azul", "Saídas e bandeiras n.ºs 1 e 2", "Nuvem Cigana", "Cravo e canela", "Um girassol da cor dos seus cabelos" e "Paisagem da janela", e busca, como o eu lírico da canção "Tudo que você podia ser", resgatar velhos ideais libertários, esquecidos pelo interlocutor da música citada e adormecido em todos nós, que vivemos afogados na rotina maçante de nosso acelerado tempo. Também busquei colocar elementos da natureza, caipiras e mineiros, no conteúdo de meu tributo poético, pra resgatar outra característica das canções do grupo do Clube da Esquina. Espero que gostem desse meu poema da esquina (quem sabe sai o Poema da Esquina 2, em homenagem ao Clube da Esquina 2?):

Poema da esquina 
(Ou Tempos em que sol e a chuva beijavam 
tua natureza indomável)


Lembra quando sol e chuva beijavam tua natureza indomável
Antes de deixares teu corpo adequar-se a esse terno alinhado
Pela agulha do medo?
Lembra daquela esquina de sonhos de onde víamos o cais invisível
E mergulhávamos, peixes na era de aquário,
Bebendo as novidades do tempo que agora não lembras mais?
Lembra do trem azul que atravessava a ferrovia de teus olhos negros
Clareados pelo sol que bronzeava o girassol em teus cabelos,
Antes tão leves e soltos – hoje tão cinzas e estéreis
Quanto as moedas que te caem dos bolsos?

(Hoje eu tive um pesadelo e ele tinha teu rosto...
Como um sonho bom pode virar um trailer de terror?)

Ah, se visses a nuvem cigana dançando sobre tua cabeça...
Ah, se visses minhas mãos guiando tua consciência pra de volta ao salão
Dos corações abertos pela liberdade do vento...
Sentirias o tempero moreno de cravo e canela na revolta libertária,
Retomarias o rumo de tua casa sem paredes
E, mais uma vez, dormirias comigo o sono dos peixes livres sem redes...

Larga teu casaco de medo, amigo, esquece as minas da ilusão prateada
Que o sol que nos toca tem o calor do corpo despido e mestiço,
Amante das verdadeiras minas revolucionárias!
Está calor, imagino que mesmo da janela lateral de teu escritório maciço
Podes rever a agitação das águas revoltadas
Daquele velho ribeirão esvaziado de ti, transbordado em lágrimas...
Por isso mergulhemos de novo, amigo, antes que a liberdade resseque,
Mergulhemos, amigo, pra dentro desse rio sem amarras!

Um comentário:

  1. This is an awesome poem, it really resonated with me.

    I want to thank your for your very kind comment on my blog:)

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