terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Sambando com a Saudade: Vivas a nossa Língua Portuguesa!


Hoje, 21 de fevereiro, se comemora o Dia Internacional da Língua Materna. A data comemorativa foi instituída pela UNESCO para dar visibilidade à diversidade linguística e cultural da humanidade e promover a sua salvaguarda, passa quase sempre, entre nós, despercebido. Em homenagem a esse dia, dedico minha postagem à musa Saudade, palavra existente apenas na Língua Portuguesa (isso mesmo: não há outra língua que possua uma palavra pra traduzir a nossa “saudade”). O poema, publicado no meu quarto livro "O último adeus (ou o primeiro pra sempre)" é dividido em 4 partes: a primeira destaca a geografia da Língua Portuguesa, os países que utilizam (ou utilizaram) o idioma lusófono e questiona a imagem hegemônica dos 250 milhões de falantes lusófonos, herdada do passado colonial, que os portugueses insistem em manter. A segunda destaca a história da saudade, o surgimento desse sentimento lusófono a partir das grandes navegações e viagens além-mar. A terceira e quarta partes fazem referência à Literatura, aos escritores que embelezaram a saudade e a nossa língua portuguesa (na terceira parte, cito a ‘muxima’, palavra de origem angolana, que significa coração, vinda de uma de suas inúmeras línguas maternas autóctones, usada em textos pelos escritores angolanos e ignorada pelos ex-colonizadores portugueses). Neste dia de carnaval, desfilemos nossa saudade, nossa língua, nossa identidade que não identifica (aproveito o carnaval e, apesar de eu torcer pra Portela, deixo para os leitores um vídeo do samba enredo de 2007 da Mangueira em homenagem à Língua Portuguesa):

Saudade dá Bandeira

I
Saudade é carteira de identidade que não identifica,
É alma colorida indefinida;
É caipirinha em Portugal,
São tambores de Angola no Apoteótico Carnaval.

É Ilha da Madeira, Açores, Goa, Damão,
Singapura, Cabo Verde, DIU, Ceilão,
Moçambique, São Tomé e Príncipe,
Macau, Guiné-Bissau,

Java, Malaca, Mombaça, Zamzibar,
Timor Leste e uma Liberdade que não há,
Saudade é benefício e exploração,
Saudade é intimidade e intimação.

II
A navegadora chega e abraça a costa;
Depois parte e não volta.
Os olhos do encontrado se perdem na desordem do mar
Indo e vindo, sendo e não sendo, tendo e não tendo...

Saudade é aprender a amar o distante,
É se amarrar na linha do horizonte,
É encontrar o longe,
É se perder no mar.

III
Saudade é o Calvário esquecido de Varela,
É Florbela de Lácio lascivo,
É vivo Bandeira – libertinagem nas muximas,
É rima na língua de Camões.

É mensagem que dói e não se vê,
É quase que dói e não se sente,
É paulicéia desvairada descontente,
É canção do exílio que desatina sem doer.

IV
Mesmo se eu falasse a língua de Vinícius e Cecília,
Sem saudade eu nada seria...


2 comentários:

  1. Carlos Boa Noite voce me adiciou como seu amigo no pureblogs e vem conhecer seu blog e gostei muito gostaria que vc participasse do meu da uma olhada ok , abraços Joao Batista
    http://rottweilerumcaopanheiro.blogspot.com/

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  2. Faço coro aos seus vivas Carlos. Amo minha lingua: o PORTUGUES. Quando leio qualquer texto em minha lingua materna, faço questão de pronunciar cada palavra com gosto, com gozo. Acredito que poucas linguas tem a sonoridade melodiosa que a nossa (ops, será que estou sendo muito nacionalista rsrsr?. Certa vez ouvi uma oração em aramaico, foi a unica vez que essa minha certeza titubeou.

    Ô omi, que poema lindo. Tuas palavras - doeu (uma dor gostosa de sentir) e eu senti cada uma em meu ou em minha "muxima".

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