quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Poema manguebeat: Lamento praieiro


Em Recife, no dia 2 de fevereiro de 1997, Francisco de Assis França, mais conhecido pela alcunha de Chico Science, cantor e compositor olindense, líder da banda Chico Science & Nação Zumbi e um dos principais colaboradores do movimento manguebeat em meados da década de 1990, teve sua carreira precocemente encerrada por um acidente de carro numa das vias que ligam Olinda e Recife. Seus dois álbuns, “Da lama ao caos” e “Afrociberdelia” foram incluídos na lista dos 100 melhores discos da música brasileira da revista Rolling Stone, elaborada a partir de uma votação com 60 jornalistas, produtores e estudiosos de música brasileira. Um triste detalhe da morte de Chico Science é o fato de que a tragédia poderia ter sido evitada: havia falhas no cinto de segurança do carro que o artista dirigia e que poderia ter lhe poupado a vida (a família de Chico Science recebeu indenização de cerca de 10 milhões de reais da montadora Fiat, responsabilizada pela morte do cantor e compositor no acidente que lhe tirou a vida). Até hoje esse revolucionário músico influencia o cenário musical nacional. Entre elas, podemos citar as conterrâneas Mundo Livre S/A, Bonsucesso Samba Clube, as mais recentes Cordel do Fogo Encantado, Mombojó e Otto, além de Sepultura (mais especificamente o álbum Roots), Cássia Eller (intérprete de músicas como Corpo de Lama e Quando a Maré Encher), Fernanda Abreu (álbum Raio X) e Arnaldo Antunes (álbum O Silêncio) e da antiga parceira e ainda em atividade: Nação Zumbi. Em homenagem a Chico Science e à eternidade do movimento manguebeat do qual ele brilhantemente fez parte, dedico o lamento lírico manguebeat de hoje:

Lamento praieiro

A cerveja antes do almoço hoje me traz agonia.
Antes eu pensava melhor...
Hoje a cevada maltada só produz dor
Em mais uma loura melancolia gelada...
É triste beber esse maracatu chorado
Nas vias congestionadas do nosso mangue estagnado.

Os urubus rondam as estradas da Manguetown
E rememoram as vítimas da rodovia do mal
Ô Chico Science, eu nunca vi tamanha desgraça
Os carros aceleram, os cintos falham, a velocidade ameaça,
Um beat seco nos cala, um motor falha, morte no ar,
Um acidente à frente e você não está mais no mesmo lugar.

Da lama ao caos, do caos aos ouvidos,
O ritmo da morte não faz sentido...
Mas em algum nordeste, num cordel ferido,
Os zumbis do mangue ainda eternizam o seu coração partido!

Um comentário:

  1. Mandou bem Carlos, o Science merece toda a homenagem sim. Adorei a música dele quando vi pela primeira vez um clip dele no fantástico. Um som interessante, nada comum dos tao badalados sons de eixos ja tão conhecidos e mais que batidos. É claro que há influencia, mas um som único, de personalidade. Salve! Salve! Chico e sua nação.

    ResponderExcluir

Meu filho-poema selecionado na Copa do Mundo das Contradições: CarnaQatar

Dia de estreia da teoricamente favorita Seleção Brasileira Masculina de Futebol na Copa do Mundo 2022, no Qatar, e um Brasil, ainda fragiliz...