quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Velhos poemas juvenis: O rouxinol, a rosa, os espinhos e o Wilde em mim


Hoje, dia 30 de novembro de 2011, marca o 111.º Aniversário de Morte do genial escritor irlandês Oscar Wilde, autor constante nas minhas memórias de leitura e grande inspirador de minhas primeiras incursões poéticas. Minha história poética com Wilde iniciou-se em 1988, quando minha tia Maria, sabendo de meus vícios por leituras literárias, passou a me ceder os livros de uma coleção chamada "Biblioteca de Ouro da Literatura Universal". As obras, de autores clássicos da Literatura Mundial, vinham a preço promocional junto da  revista de fofocas "Minha", que minha tia fanaticamente colecionava. Ela colecionava boatos de artistas e eu ganhava de brinde as obras primas dos maiores escritores mundiais (Sófocles, Shakespeare, Dumas, Kafka, Machado de Assis e muitos outros). Como eu tinha 9 anos, lia com sutil desprezo ignorante as adultas obras que minha tia Maria me cedia com tanto carinho (às vezes só fingia que lia pra não deixá-la chateada; vindo realmente a reler as obras muito tempo depois, então dando a elas – e ao nobre ato de minha tia - seu real valor). Quase todas essas obras caíram no tédio parvo da infância ingênua e escoaram vazias na memória de minhas primeiras leituras infantis pra só se tornarem frutos de fascinação muito tempo depois. Como eu disse, quase todas...
O livro n.º 17 da coleção, intitulado “Contos”, de Oscar Wilde, reservou surpresas aos meus olhos de criança: lamentei e, ao mesmo tempo, me emocionei com os atos nobres do “Príncipe feliz”, chorei com o “Gigante Egoísta” e algum lirismo nasceu em mim depois que li, pela primeira vez, a obra-prima “O rouxinol e a rosa”. Sofri cada segundo da dor do rouxinol que cantava desesperadamente e fincava em seu peito os espinhos da rosa congelada para que esta ficasse vermelha e, assim, o Estudante conseguisse a rosa vermelha sonhada para a conquista da mulher amada. Fiquei ferido de mortal beleza diante do sacrifício do pássaro para a realização (vã, pois o Estudante, ignorante de tal amor sublime e nervoso com a recusa da pessoa amada, joga fora a rara rosa vermelha que custara a vida do rouxinol) do amor mortal. 
Foi ali que percebi o difícil ofício do artista, sublimando a (e até morrendo pela) dor da criação, eu tinha 10 anos (a coleção já estava no seu segundo ano) e muita poesia em minhas mãos, dentro daquele conto de Wilde. Desesperado, sem saber o que fazer com tamanha arte, o coração explodindo em espinhos poéticos, chorei sozinho, sem saber nem querer saber o porquê. E, a partir desse livro de Wilde, a literatura passou a me fazer mais sentido e comecei a entender que a leitura das obras me exigia muito mais que pequenas olhadelas distraídas para as palavras que tais livros continham. Wilde e seu rouxinol cego pelo amor contaminaram meu corpo de poesia e os versos foram gestando dentro de mim. O parto de tal gravidez demoraria quase 5 anos pra realmente se realizar (a gestação lírica é muito mais lenta – e, ao mesmo tempo, mais marcante e infinita – que a mortal).
Atualmente tenho 17 anos de escrita poética e aqueles espinhos no rouxinol ainda ferem minha poesia. Por isso, comemoro hoje o 111.º Aniversário de Morte de Oscar Wilde, porque este escritor ainda vive em mim. E é a esse Wilde eterno em mim que dedico esse meu velho poema juvenil, publicado em meu segundo livro “Promessas Desfeitas” (1997), em poética-ingênua-releitura-homenagem à primeira obra que realmente cativou lirismo em meus olhos perdidos de criança. Para ser lido ao som de “O rouxinol e a rosa”, do CD “Os grãos”, dos Paralamas do Sucesso – canção também inspirada no clássico conto oscarwildeano:

Uma rosa, um pássaro e um sorriso

No jardim nasceu uma rosa
Cuja beleza quase suprema
Apaixonou um pássaro
Cujo caminho seguia errante.
E a paixão imediata da pobre ave
Derrubou sua razão (que já era pouca)
Fazendo o tolo atirar-se, numa investida débil,
Sobre os espinhos ocultos da beleza
Daquela flor.

No coração, os espinhos se fincaram
E o pássaro só teve tempo do último canto
Feito de pranto, prazer e encanto
Misturado a um ar fúnebre e sublime
E apesar de seu triste destino
A ave sorria.
Talvez fosse um sorriso de amor...
Talvez fosse um sorriso sem razão...    

3 comentários:

  1. Nossa, Professor-Poeta! Você fez a tristeza ficar tão sublime em seu texto. Lindo! Pensei no aluno da Vívia, Jaderson (?!). Muito novo pra tanta dor.

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  2. Rapaz, poucas coisas na vida me deixam sem palavras, acredite, acredite......... Acho que meu programa de férias, começou nesse texto e nesse poema.

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