quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Velhos poemas juvenis contra os eternos muros de nossa existência

Hoje comemora-se (ou não - quem não entendeu, assista ao excelente "Adeus, Lênin") o 22.º aniversário da Queda do Muro de Berlim (9/11/1989). O acontecimento histórico, que promoveu a reunificação da Alemanha (outrora dividida em ocidental - capitalista - e oriental - socialista) e iniciou o enfraquecimento do bloco socialista no mundo, foi recebido, na época, com otimismo e festa pelos cidadãos a favor da liberdade absoluta aos povos (ouçam "Notícias do Leste", de Uns e Outros, e "Mickey Mouse em Moscou", do Capital Inicial). 
Porém o que se vê após 22 anos do acontecido é que derrubamos o muro concreto que nos separava de nossos 'iguais', mas os muros abstratos permanecem intactos: a atualizada Alemanha Ocidental engoliu economicamente a antiquada Alemanha Oriental, seres humanos se tornaram peças obsoletas do progresso sem freio, alguns 'iguais' tomaram a 'liberdade' de serem mais uma vez 'mais iguais que os outros' e o poder aquisitivo dita até a atualidade até onde vai a liberdade de cada indivíduo (cada vez mais individual, cada vez menos pessoa). Derrubamos os muros concretos, fato necessário para a continuação de uma história menos segregadora, mas fortalecemos nossos muros abstratos, como se déssemos 2 passos pra frente e, logo em seguida, recuássemos três passos pra trás. Nossos piores muros estão dentro de nós e falta coragem pra racharmos tais cercas que corroem nosso quintal libertário. Há flores lindas em cada casa, mas elas ainda estão cercadas por muros altos, impossíveis de serem vistas pelos mais baixos.
Deixo hoje um velho poema juvenil-filosófico (retirado de meu primeiro livro "Fim do fim do mundo", de 1997) sobre esses muros eternos que cercam a nossa existência.


O Homem e o Muro


Cerrou os punhos e agrediu o muro.
Suas mãos sangrando, o desejo de libertar-se:
Nada preenchia a sua insatisfação.
Disseram-lhe que o outro lado tinha os seus olhos,
A sua verdadeira face
Mas, como ultrapassar suas barreiras?
Como enfrentar o medo?

Mais um murro contra o muro...
Mas não adianta:
Nem o sangue que escorre de suas mãos
Ultrapassa as paredes.
Disseram-lhe que os tijolos tinham gosto de carne
A outra, a falsa face.

Enfaixou as mãos, quis tentar de novo.
Desta vez, trouxe uma arma e somente uma bala.
Uma bala contra o muro:
Não custa tentar...

BANG!

O muro quebrou... CRÁS!
Barulho de espelho quebrado...
E o que vê:
Uma imagem em pedaços e um novo vazio...
Ele encontrou a verdade...
Mas... e agora?...
O que fazer com ela?

As mãos voltam a sangrar... 



2 comentários:

  1. Há muitos muros a serem derrubados, processo esse muito doloroso, porém, necessário. Muros que nos separam de nós mesmos e dos outros; do lado de cá é menos arriscado - embora, menos emocionante e vital. Constatar a verdade aterradora sobre si mesmo não é fácil, mas só assim para nos transformarmos em seres humanos melhores. As mãos sangram, mas se cicatrizam, para derrubar outros muros mais à frente...

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  2. Essa postagem me fez recordar do filme The Wall. Não sei por que...

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