quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A fossa nossa de cada poema juvenil: "Lábios"

Lendo o blog "O Grito da Harpia" (http://ogritodaharpia.blogspot.com/), me deparei com esse pensamento da escritora Renata Monte: "[...] percebi que quando se está passando por uma fossa, não adianta procurar meios de diversão para esquecer ou aliviar o que machuca por dentro, diversões são passageiras e o jeito mais rápido de se passar por uma deprê é se entregando ao choro mesmo!" Não, calma, leitor, esse poeta que vos fala não está passando por nenhuma fossa (pelo menos, não neste momento rs), porém, ao ler as palavras de Renata, relembrei de minhas fossas da adolescência e essa necessidade poética-juvenil de liberarmos as lágrimas em nossos versos, como se libertássemos uma febril agulha melancolicamente presa em nossos corações. De uma dessas fossas furiosas, surgiu meu segundo livro "Promessas Desfeitas" (1997) - é assim que nós, artistas, resistimos às derrotas pessoais: transformamos nossas inglórias individuais em artes gloriosas e coletivas. Em homenagem a todos que passam e já passaram por alguma fossa (quem não passou por uma fossinha sequer na juventude não foi jovem autêntico; foi espectro juvenil, pois a dor seduz a juventude e se encaixa plenamente no corpo em desengonçada transformação), eis um poema deprê do meu segundo livro. Pra ser lido ouvindo "Refrão de bolero", de Engenheiros do Hawaí, e "Igual a você", de Nenhum de Nós:


Lábios

Ontem encontrei uma poesia
Que havia escrito sobre nós...
E achei tão irônico
Como as palavras doces ganham
Um gosto tão amargo
E como os lábios que beijam
São mesmos lábios que traem...
Depois encontrei o seu retrato.
Eu não estava nele...
Foi a parte que ganhei do testamento
Deste sentimento
Sentimento humano
Como errar é humano...
Como este sentimento é errado...
Ah! Os lábios me enganaram:
Amor enganado...Amor?

Hoje a encontro na rua
Cercada de novos “amigos”...
E me senti tão estranho
Como a lua que segue meus passos
Sem motivo
Como os lábios são volúveis
Diante de novos lábios...
Me encontro sozinho
Por pouco não estou totalmente perdido
Perdido nas sombras
Como se as outras fossem sombras...
Como se as sombras fossem você...
Ah! Mas os lábios as rejeitam:
Preferiam os beijos do passado...

  

Um comentário:

  1. Olá Carlos, obrigada por visitar meu blog e compartilhar minhas palavras!rs... também não estou passando por nenhuma fossa,nem to deprê o algo do tipo, mas já sofri com esses momentos indesejáveis. Mas são nesses momentos que percebemos o quanto somos frágeis, e ao mesmo tempo o quanto somos fortes! Chamo isso de "o momento do grito". Adorei sua poesia "labios", também me trás lembraças. Renata Monte

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