domingo, 7 de agosto de 2011

Meu poema vascaíno (graças à interpretação maliciosa de um flamenguista)

 Um lance que afetou minha decisão de postar, hoje, o poema “Maracanã” foi o gol do Flamengo sobre o Coritiba (que jogava melhor, mas acabou cometendo o erro de se retrancar no final) aos 44 minutos do segundo tempo, ontem, no Engenhão, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro 2011. Antes que alguém me abrace como torcedor do Urubu, informo aos leitores que sou vascaíno fanático, mas não a ponto de desejar violentamente a extinção de torcedores de outros times. Porém, o acontecimento de ontem, que garantiu a efêmera invencibilidade rubro-negra (no futebol, como na vida, tudo é passageiro e eles ainda não encararam o Trem Bala da Colina, he, he), me fez lembrar de um amigo rubro-negro, o Lucimauro Leite, que transformou o poema “Maracanã”  em algo que ele não era.
Leite e eu no boteco, após o Improviso Poético em abril de 2008.
Daqui a mais duas cervejas, ele vai relembrar do poema "Maracanã"


O poema, publicado no livro “¿NOTE OR NOT SER?” em 2001, foi escrito na minha nem tão distante adolescência e tinha o objetivo de popularizar minha melancolia lírica, utilizando-me do maior estádio do mundo, palco de grandes alegrias e grandes tristezas para o futebol brasileiro (como, por exemplo, a sofrida derrota da Seleção Brasileira para a modesta Seleção Uruguaia, na final da Copa do Mundo de 1950). “Maracanã” era o típico poema que não tinha bem uma história grandiosa por trás dele; é um típico poema melancólico juvenil.
Em 2010, durante o lançamento do meu livro "Diários de Solidão"
eis o Lucimauro Leite lendo o famigerado livro
com piadinhas sacaneando o Vasco
Mas Lucimauro Leite, meu amigo e flamenguista dos mais sacanas, quando leu o poema, reparou na comparação que usei dentro do poema (“Como um time que perde / Aos quarenta e quatro do segundo tempo”) e logo citou, na época, o recém conquistado tricampeonato estadual do Flamengo sobre o Vasco com o histórico gol de falta do Petkovic nos minutos finais da partida. Quando lhe disse que havia escrito o poema bem antes desse título rubro-negro que tanto assombra a nós, vascaínos, o Leite, flanático, interpretou que o texto fora a previsão melancólica de um torcedor sofredor. Pronto! Em todos os botecos que ele me via, em todas as oportunidades que ele teve, me abraçava e divulgava a todos em volta que eu era o poeta vascaíno que previu o próprio sofrimento. O Leite nunca chamou o livro “¿NOTE OR NOT SER?” pelo nome que intitulei a obra; para ele, era “o livro que tem aquele poema que previu o gol do Pet em cima do Vasco”. E, assim, meu amigo rubro-negro faz até os dias de hoje, eternizou sua versão sacana de meu poema e, em saraus, pede sempre para lê-lo (“me passa aquele poema do gol do Pet pra eu declamar”), quando não vem com um famigerado livro de piadas sobre vascaínos. E o poema, que já era melancólico, tornou-se mais dramático pra cruz de malta que carrego dentro de meu peito.
“¿NOTE OR NOT SER?”
ou 
"O livro com o poema do gol do Pet",

segundo o Leite
Alerto, porém, que não há revolta com tal episódio; o Leite e eu nunca entramos na porrada por causa disso. Primeiro porque somos amigos, segundo porque ele é fisicamente mais forte que eu, terceiro porque nenhum poema ou jogo pode destruir nossa humanidade e nossa resistência pacífica contra as violências dos tempos como malabaristas que sorriem para o público quando estão na corda bamba. Também é importante ressaltar que Lucimauro Leite deu outra vida ao meu poema, transcendeu os seus sentidos, usou e abusou da carga múltipla de significados em uma obra lírica, agiu como leitor interativo do texto – se eu o condenasse, destruiria toda a arte na qual acredito.
Amigos leitores torcedores do Gigante da Colina, prometo manter minha fidelidade vascaína nas próximas postagens, mas essa aqui, em especial, sem sarcasmo, é dedicada ao Lucimauro Leite e a todos os flanáticos que não perdem a chance de zoar a nós, vascaínos. Lembremos e eternizemos essa inglória passada, para que não cometamos o mesmo erro nesse campeonato presente. O Coritiba ignorou essa história e o resultado foi catástrófico para o Coxa.


Maracanã

Meu coração é do tamanho do Maracanã
Mas às vezes meu campo fica tão vazio
Nem parece Maracanã...
É que ele fica triste
Quando ela diz não no último momento
Como um time que perde
Maracanã, o maior estádio do mundo
e muso do polêmico poema
Aos quarenta e quatro do segundo tempo.

Meu coração é do tamanho do Maracanã
Mas às vezes só tem tamanho
Não tem fãs.      

2 comentários:

  1. É. Pensando bem. Acho que não há lugar mais solitário do que um estádio. Que contradição não!?

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  2. Valeu o comentário, Lainha! Concordo contigo, a solidão persiste mesmo nos ambientes mais coletivos e alvos de grandes multidões. E nada mais poético que esse paradoxo. Por sinal, a contradição está para a poesia assim como a boca está para o beijo. Abraços!

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